...E
eu fui à Banda...
Professor
Nazareno*
Vai quem quer a
esta Banda de carnaval de Porto Velho. Não queria ir, mas fui. E me encantei
profundamente. Foi uma das melhores coisas que fiz em toda a minha vida. Lá, vi
outro Brasil, outra Porto Velho, outra Rondônia. E outras pessoas também. Era
um país muito diferente das manchetes diárias de violência, corrupção e de caos
social que estamos acostumados a ver. A cidade e o Estado, como num passe de
mágica, transformaram-se de uma hora para outra em verdadeiros paraísos com
borboletas azuis e coelhinhos saltitantes. Alegria, descontração, felicidade, confraternização
e pessoas felizes isso era o que mais se observava naquele mundo inexistente.
Antes, fui a contragosto participar dos blocos carnavalescos Pirarucu do
Madeira e do Galo da Meia Noite. Nem notei que nas águas do Madeira não há
Pirarucus e o frango está caríssimo.
Escamotear a realidade parece que
tem sido a função maior do carnaval em nosso país. Depois do futebol, a folia
tem sido a maior arma de alienação e amnésia usada pelas autoridades para
entorpecer a massa ignara. Naquele ambiente irreal, não se falava em Eduardo
Cunha, na cassação da Presidente Dilma e muito menos na Operação Lava-Jato. O
PT ali era uma espécie de Partido Democrata dos Estados Unidos ou o Partido
Trabalhista do Reino Unido. Os petistas, todos brincando alegremente no meio da
multidão entorpecida, davam a impressão de serem grandes estadistas e sábios gurus
da população sofrida. Vários ladrões do dinheiro público, sem nenhum
acanhamento, brincavam com os roubados e lesados contribuintes. Tucanos bêbados
nem falavam mal do governo naquelas horas. A mídia fascista e reacionária mentia
endeusando a todos.
Durante o “Reinado de Momo”,
a inflação desaparece, a Justiça entra em recesso, a violência diminui, as
oportunidades de emprego se multiplicam, o trânsito fica mais civilizado, a
corrupção deixa de existir e os governantes exortam todos àquela dança de
pobres. Numa hora dessas, quem se lembra de viadutos inacabados e de ponte
escura? Quem gostaria de saber quais foram os responsáveis pelo Espaço
Alternativo inacabado e por que o preço da energia e da gasolina está nas nuvens?
Se algum louco falasse mal de Mauro Nazif seria calado à força com mais um gole
de cachaça ou uma cheirada de crack. Participar muitas vezes de ambientes
regados a bebidas alcoólicas e drogas tem sido considerado cultura por muitos
incautos e alienados foliões. Claude Lévi-Strauss deve se revirar no túmulo
quando se fala dessa “Banda do fim do mundo”.
Mas o carnaval tem o seu lado bom:
sem ele não haveria os retiros bancados pelas religiões. E ninguém se
aventuraria num “Carnagospel” onde só se bebe vinho e se cantam
marchinhas exortando os foliões a irem para o céu. Além disso, os bancos passam
cinco dias fechados e ficam sem arrecadar os suados centavos dos cidadãos que
brincam aquilo. Como no Japão e nas cidades da Europa, após a festa alienante
as ruas ficam limpas e sem nenhum lixo ou monturo. O pior da farra, no entanto,
é depois do seu final: a ressaca e a volta à dura realidade. O temível Zika
vírus também estava na folia só que brincando e não infectando ninguém. Dengue,
chikungunya e AIDS se isolam em respeito à festa. A Samarco não matou nenhum
rio. Os governantes não mais roubarão o Erário e o preço dos coletivos não será
reajustado. Depois da Banda só me resta mesmo acreditar que o Pirarucu é um
peixe típico das águas do Madeira. E não é?
*É Professor em
Porto Velho.
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