Um
“progresso” às avessas
Professor
Nazareno*
Rondônia e Porto Velho são lugares muito
atrasados e com pouquíssimos resquícios de civilização. Isso quase tudo mundo
sempre soube. No entanto, algo difícil de entender é o fato de que o progresso
por aqui, contrariando a lógica da maioria dos lugares do mundo, diminui à
medida que o tempo passa. Único Estado do Brasil que tem duas datas cívicas (22
de dezembro e 04 de janeiro), não comemora nenhuma das duas. Aliás, em assuntos
de mudanças de datas e troca de calendário, Rondônia dá lição ao resto do
Brasil. As festas juninas podem ser realizadas em setembro, o carnaval oficial,
não aquele fora de época, às vezes é realizado em julho e a Semana Santa já foi
algumas vezes encenada em junho com direito a espetáculo ao ar livre. E
seguindo essa lógica bisonha, o interior do Estado tem mais progresso e IDH do
que a própria capital.
Até a natureza é adulterada por aqui. O
frio (25ºC aproximadamente) chega durante dois ou três dias quando todos
acreditam estar no verão. Porém, o mais espetacular de se ver é a televisão. Há
30 anos, quase todos os programas exibidos eram gravados. Como são agora. Não
houve progresso nessa área, apesar dos avanços tecnológicos. A TV Rondônia, por
exemplo, retransmissora da TV Globo, exibe seus jornais com pelo menos duas
horas de atraso em relação ao resto do mundo. E não é por causa do fuso
horário, atrasado em relação a Brasília. O Jornal Nacional é exibido exatamente
às sete e meia da noite, horário local, quando já são nove e meia em Brasília e
no restante mais civilizado do país. Ora, se fosse exibido ao vivo, mostrando
as notícias na hora em que acontecem, esse noticiário deveria ser exibido no
final da tarde.
Assim, furo de reportagem não vai
existir nunca por aqui. Mas quem tem antena parabólica ou sinal de TV fechada
assiste às principais notícias do Brasil e do mundo com bastante antecedência.
Já os rondonienses que não têm este privilégio só sabem o que acontece depois
que todo mundo já viu e comentou. A reprise das novelas é uma piada totalmente
sem graça. O progresso das transmissões ao vivo parece que “não pegou”
na terra dos “destemidos pioneiros”. O Bom Dia Brasil, outro noticiário,
começa exatamente às sete e meia da manhã por aqui (nove e meia em São Paulo) e
deveria ser ao vivo (cinco e meia da manhã), já que se trata de um noticiário.
Notícia gravada é como produtos alimentícios vencidos: não servem para nada. O
“furo” da derrota do Brasil na última Copa do Mundo já chegou à terra
das “sentinelas avançadas”?
Antes do “progresso”, a distância
entre Porto Velho e a ex-Cachoeira do Teotônio era bem menor e não tínhamos
enchentes históricas. Dizem que na época do território, a capital era uma cidade
mais limpa e higiênica. Bons tempos aqueles. E para alegria geral, naquele
tempo não existia Assembleia Legislativa e os poucos políticos de então quase
não roubavam os cofres públicos. Era uma maravilha, pois vivíamos como no
Primeiro Mundo e não sabíamos. Miragem: dizem até que os ex-prefeitos e os ex-governadores
trabalhavam de verdade em benefício do povo. Havia Expovel, Arraial Flor do
Maracujá com local e data definida e outras manifestações culturais. Já o
aeroporto da cidade não era internacional e só fazia voos domésticos, como hoje.
Obras inacabadas iguais aos viadutos quase não havia e o trânsito fluía
normalmente. Então, vamos sair hoje à noite? Antes ou depois do Jornal
Nacional? Da Sky ou da TV aberta?
*É Professor em
Porto Velho.
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