Confissões
de um corrupto
Professor
Nazareno*
“Ficar rico sempre foi o meu
pensamento. Principalmente sem trabalhar muito, sem suar feito um condenado. Ficar
rico à custa da coisa pública, do dinheiro dos impostos, das benesses do Estado
e dos governos corruptos sempre foi o meu maior objetivo. E num país onde as
pessoas não dão muita importância para o que é de todos é melhor ainda. E é
fácil seguir este roteiro no Brasil, onde o Estado é o pai de muita gente e
está sempre disposto a ajudar somente aqueles que não precisam dele. Sempre
quis ficar rico e desfrutar junto com os meus familiares de todas as mordomias
que o dinheiro, sujo ou não, pode proporcionar num mundo cada vez mais
consumista. Por isso, meu pensamento sempre foi fazer de tudo para atingir
esses objetivos. Nunca me preocupei com os meios porque o mais importante nesta
empreitada são os fins.”
“Sempre achei normal ser ladrão. Não
aquele ladrão barrela, pobre e pé de chinelo. Por isso, a primeira coisa que
fiz foi comprar um paletó e uma gravata. Esse tipo de vestimenta impressiona muitas
pessoas. Ladrão pobre, o que rouba pequenas quantias, se veste mal e é odiado
pela polícia, pelo povo e pelo Estado. Quando um policial fuzila um desses
bandidos pobres a comoção é geral. A população em peso bate palmas, transforma
esse policial em herói e condena o infrator. Para a maioria dos brasileiros,
perdão é só para os que roubam milhões, bilhões. De fato, por causa de 20
centavos o povo saiu às ruas e se cala com os bilhões roubados da Petrobras. Por
isso, roubar, quer dizer, desviar verbas públicas, sempre foi um bom negócio
nesta nação de ninguém. Basta entrar na política. Aqui, os políticos corruptos
são os mais amados.”
“Quanto mais ladrão e desonesto, mais
votos recebe do povão, já que ninguém pesquisa a vida de político. Nunca me
emociono quando dizem que o dinheiro que ‘desvio honestamente’ mata
pessoas pobres nos hospitais públicos. Se estas pessoas carentes estivessem
sofrendo tanto não votariam em mim nem nos candidatos que indico em todas as
eleições. Eu não tenho plano de saúde, tenho dinheiro, e muito, para contratar
médicos particulares a hora que eu quiser. Então, por que vou me incomodar com
pobres morrendo em chão frio de hospitais? Meus filhos serão importantes
também, pois estudam nas melhores escolas. Escola pública é para pobres. Com
muita grana, o mundo se ajoelha a meus pés. Compro a mídia e sempre dou
entrevistas em horário nobre. Mando fazer propagandas mostrando minhas virtudes
e todos acreditam.”
“Neste país vale a pena desviar dinheiro
público. Ladrão pobre vai direto para a cadeia e cumpre a pena. O corrupto é
outra coisa. Tenho é cadeias de televisão para me entrevistar e muitos seguidores
para me bajular. Se desviar, por exemplo, dez milhões de reais, gasto dois com
os melhores advogados, que já estão esperando para me defender, passo dez ou
quinze dias preso e depois saio normalmente para desfrutar do que sobrou. Não
devolvo um único centavo para ninguém. O crime compensa, sim. Pelo menos no
Brasil e em Rondônia mais ainda. Mas não esqueça: primeiro entre numa religião,
qualquer uma delas, todos acreditarão que você é um homem santo. Leia a Bíblia
e distribua migalhas que o sucesso será garantido. Dispute o pleito por
qualquer partido e depois de eleito você será diplomado sem problemas. Depois
governe para ‘o bem’ de todos aqueles que sempre acreditaram em suas
promessas de felicidade geral.”
*É Professor em
Porto Velho.
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