As
mentiras de Rondônia
Professor
Nazareno*
O
próprio Estado de Rondônia foi criado sob uma mentira. A Ditadura Militar
queria ter maioria no Congresso Nacional no final de década de 1970 e por isso
resolveu transformar o então território de Rondônia em Estado. Não deu outra:
com essa jogada, elegeu mais três senadores governistas defensores do regime de
exceção e de quebra ainda ganhou praticamente mais sete deputados federais. A
mentira que se dizia na época era que o povo daqui queria a autodeterminação da
região. Quanta desfaçatez! Desde quando meia dúzia de beiradeiros e de capiaus
iletrados, esquecidos no meio da mata, queriam gerir por conta própria um Estado
inteiro? O governo militar também conseguiu desafogar os problemas sociais da
região Sul, pois com a mecanização agrícola, o desemprego só aumentava por lá.
“Dão-se terras de graça e se anuncia prosperidade no novo Eldorado”.
Se
uma mentira criou Rondônia, essa prática de mentir se disseminou e continuou
por aqui nas gerações futuras. A calúnia do momento seria a construção de um
novo hospital de pronto-socorro em Porto Velho. Era o pomposo e badalado “Built
to Suit” para substituir o “açougue” João Paulo
Segundo. Praticamente oito anos se passaram e tudo já terminou em “beiju
de caco”: deu em nada. Porto Velho tão cedo não terá nenhum
hospital com nome em inglês. Hidrelétricas, já! Era o mantra há dez ou quinze
anos. As barragens até vieram, mas não trouxeram prosperidade nenhuma. Só
devastação do meio ambiente e a morte do rio. Os tolos rondonienses entregaram
o rio Madeira e a Ceron aos forasteiros e em troca receberam a Energisa. Até
uma tal Banda Versalle, que estourou nas paradas, parece que também era outro engodo.
Nunca mais ninguém ouviu falar dela.
Por aqui já se
falou mentirosamente que teríamos a Estrada do Pacífico e que a iminente
industrialização seria a redenção do Estado. Era, claro, tudo balela. Porto
Velho não tem uma indústria sequer até hoje. Os prefeitos dessa capital
geralmente se elegem mentindo para os seus eleitores. “Vamos acabar com as
alagações da cidade. Vamos construir saneamento básico e proporcionar água
tratada para todos”, dizem eles cinicamente em todas as eleições. Tivemos
até um prefeito que durante a campanha disse que ia abraçar, beijar e
acariciar a cidade. Todo mundo acreditou na lorota e o elegeu. E quando esse
prefeito saiu da prefeitura depois de oito anos, afirmou que tinha mais de 90
por cento de aprovação popular, mas sequer conseguiu emplacar a sua candidata.
E foi na pandemia que se “compraram” um milhão e 400 mil vacinas para
Rondônia. Era mentira!
O povo de Rondônia de um modo geral até já
se acostumou a viver com a mentira. O agronegócio que existe aqui, por exemplo,
não é daqui. É quase que totalmente de fora. O lucro vai todo para fora do
Estado, assim como quase toda a energia produzida pelas hidrelétricas que estão
em nosso solo. Daqui mesmo são só as
queimadas todos os anos e os desastres ambientais. O porto rampeado no rio
Madeira e a urbanização da Praça da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré foram
inverdades em que muita gente acreditou. A farsa está lá na beira do rio:
ratos, lixo e urubus enfeitando a paisagem. O porto está ali enferrujando e
logo vai afundar no rio. Já a EFMM foi doada a forâneos e o rondoniense tem que
pagar se quiser visitá-la. O asfaltamento da BR-319 é outra farsa. Dizem de
novo que será a remissão de Rondônia. Infelizmente quase tudo por aqui é
baseado na fraude, na inverdade, na mentira e na enganação. E Rondônia
existe mesmo ou é só outra mentira?
*Foi Professor em Porto Velho.
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