A
Igreja devia ser de esquerda!
Professor
Nazareno*
A
morte do Papa Francisco neste mês de abril de 2025 pode desencadear, como
sempre, mais uma luta dentro da Igreja católica para a escolha do novo Sumo
Pontífice. Jorge Mario Bergoglio, o papa argentino, que liderou os católicos
por 12 anos, deixa marcas indeléveis na Igreja católica do mundo inteiro e que
o credenciaram como “o papa dos pobres e dos humildes”. O
nome Francisco foi uma singela e até justa homenagem a São Francisco de Assis, o santo conhecido
como o protetor dos animais, dos doentes e também
das pessoas em situação de pobreza. Fala-se que o Santo Padre teria lutado
contra a ditadura militar em seu país natal ao ajudar na fuga de pessoas
perseguidas por aquele regime sanguinário. O líder maior dos católicos apenas
seguiu o que sempre deveria ser a verdadeira Igreja de Jesus Cristo: estar ali ao
lado de todo cidadão pobre e necessitado.
Jesus Cristo, indiferente ao fato de
que foi um enviado ou até mesmo o único filho de Deus, viveu toda a sua vida
lutando contra as injustiças, a opressão e o domínio político das elites
poderosos de seu tempo. Jesus era comunista, pois estava sempre ao lado dos mais
humildes. O “Filho de Deus” sempre esteve rodeado de pessoas pobres, de
prostitutas, de pescadores, de homens simples e também de cidadãos perseguidos
pelo poder político e econômico da Terra Santa, que era ligada e só obedecia à
Roma dos Césares. Jesus não tinha riquezas, não tinha bens, não tinha Igrejas e
nem tinha terras. Foi perseguido, preso, torturado, crucificado e morto porque
ousou desafiar o poder de Roma. E mais, o seu calvário se deu em parte porque
Ele usava como “arma” maior o amor e o perdão e não a
vingança e o ódio. Isso irritava os poderosos, que terminaram por matá-lo.
Por isso, guardadas as devidas proporções, muitas ações do
Papa Francisco se assemelhavam muito às do próprio Jesus Cristo. Mas essa sua
postura ideológica de “preferência pelos pobres” sempre irritou
as elites reacionárias e da extrema-direita mundo afora. No Brasil, por
exemplo, nós temos o Padre Júlio Lancelotti, que também fez esta opção pelos
mais necessitados. O Vigário de Cristo chegou a ligar para o padre de São Paulo
algumas vezes para parabenizá-lo por este magnífico trabalho em favor dos mais
carentes. Isto, óbvio, deixou muita gente irritada. Principalmente os mais
poderosos e também os chamados “pobres de direita”.
Francisco não se encontrou com o ex-presidente Bolsonaro, mas se referiu a ele
uma vez: “Peço a Nossa Senhora
Aparecida que proteja e cuide do povo do Brasil, que o livre do ódio, da
intolerância e da violência”.
Em uma entrevista à rede argentina C5N, exibida em 2023, o representante
maior dos católicos afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia
sido condenado e preso sem provas e que a ex-presidente Dilma Rousseff tinha as
“mãos limpas”. Mesmo assim, a presidenta do Brasil sofreu
em 2016 um vergonhoso processo de impeachment por “causas desconhecidas e
inventadas”. Deus também pode ser uma entidade de esquerda, já que não quer
injustiças, não quer a exploração do homem pelo homem, não permite a acumulação
de riquezas, é contra a miséria e o sofrimento de seres humanos criados à sua
imagem e semelhança. Por isso, Ele certamente abominaria o capitalismo, o ódio
e a violência, que são máximas da extrema-direita reacionária. Dessa forma, a
escolha do novo Papa poderia seguir a mesma tradição de Francisco: colocar a
Igreja sempre a favor dos mais pobres e necessitados. Toda Igreja deveria
ser de esquerda, sim!
*Foi Professor em Porto Velho.