Eu,
um prefeito perfeito!
Professor
Nazareno*
Até
hoje, por questões óbvias, só escondi da minha esposa, a Francisca, que eu
sempre quis ser prefeito de Porto Velho, a capital de Roraima. Entre a
simpática vila de Calama no baixo Madeira e esta cidade, eu já tenho mais de
quatro décadas morando e pagando IPTU, além de muitos outros impostos. Sempre
foi meu sonho mudar a cara da “antessala do inferno”, da “currutela
fedida”, da eterna “latrina do Brasil”. Não vejo nenhuma razão para
os muitos estúpidos e ignorantes eleitores daqui não votarem em mim. Com
pouquíssima leitura de mundo, direitistas, bolsonaristas, pobres de direita,
reacionários e se informando somente pelas redes sociais e através das fofocas,
não é muito difícil conseguir votos e apoio dentre eles. Nem vereador eu quero
ser. Para mim é um cargo inútil e desnecessário. Dispenso! Vereador é só um.
Prefeito, domina todos eles.
Eu
sendo alcaide não teria nenhuma dificuldade para administrar a tosca e imunda cidade.
De início “compraria”, sem muitas dificuldades, o apoio total da câmara
de vereadores. Em Porto Velho eu seria uma espécie de Vladimir Putin e até
melhor do que Jesus Cristo, que teve oposição e por isso foi crucificado e
morto. Seria um Benjamin Netanyahu desfilando sobre os escombros de Gaza. Claro
que eu não seria um ditador, mas daria “benesses” à imprensa e
bonificaria os sites, jornais e rádios que mais enaltecessem a minha
administração. Mudaria o sentido da Avenida Sete de Setembro e mandava
construir, com recursos próprios, dois shoppings: um na Jatuarana e o outro na
Avenida José Amador dos Reis. Duplicaria o número de mototáxis da cidade e de
imediato já mandava refazer o porto do Cai N’água, que está enferrujando na
beira do rio.
Todas
as três praças de Porto Velho seriam floridas, limpas e aconchegantes para os
visitantes. A da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré seria um brinco de tão asseada
e útil aos moradores daqui. Lá, teria uma espécie de passeio público com porto
rampeado, modernas pistas de caminhadas e vários mirantes para os otários
verem o espetáculo do pôr do sol. Nenhum urubu nem catinga de peixe. Pitiú
seria engarrafado e vendido aos saudosistas. Pagaria por cada pássaro morto,
ratazana de esgoto e animais peçonhentos somente para limpar aquele ambiente
pútrido e fedorento. Da nova rodoviária, mandava retirar todos os noiados e
pedintes. Mas o igarapé dos tanques que a rodeia permaneceria com a mesma
aparência e aroma. Os muitos visitantes iriam adorar ao saber que o prefeito eleito
caracterizou o nome “capital da fedentina” com o ambiente onde recebe os
turistas.
Comigo
na prefeitura, as árvores antigas a cidade não teria mais uma sequer. Mandava
arrancar todas elas como foi feito na Avenida Tiradentes e mandava plantar
somente mudas de louro-bosta e de Muratinga. Já pensou Porto Velho fedendo a bosta
nos primeiros ventos da primavera? E nada de aumentar a oferta de água tratada
nem de saneamento básico. A população já está satisfeita com os números que
existem. Percebe-se isso nas votações que os nossos políticos recebem todo ano
de eleições. Votem em mim, por favor! Como prefeito, determinarei a suspensão
imediata da construção do hospital “Built to Suit” lá na zona
Leste da cidade. Mandarei construir outro “açougue”, que tão bem tem
servido à população pobre e miserável do município. O porto-velhense não
aguentaria ver a demolição do João Paulo Segundo, que já faz parte da nossa
rotina. Não entendo porque os eleitores não votariam em mim. Professor Nazareno
ao seu dispor!
*Foi Professor em Porto
Velho.
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