quinta-feira, 14 de março de 2024

Eu, um prefeito perfeito!

Eu, um prefeito perfeito!

 

Professor Nazareno*

 

            Até hoje, por questões óbvias, só escondi da minha esposa, a Francisca, que eu sempre quis ser prefeito de Porto Velho, a capital de Roraima. Entre a simpática vila de Calama no baixo Madeira e esta cidade, eu já tenho mais de quatro décadas morando e pagando IPTU, além de muitos outros impostos. Sempre foi meu sonho mudar a cara da “antessala do inferno”, da “currutela fedida”, da eterna “latrina do Brasil”. Não vejo nenhuma razão para os muitos estúpidos e ignorantes eleitores daqui não votarem em mim. Com pouquíssima leitura de mundo, direitistas, bolsonaristas, pobres de direita, reacionários e se informando somente pelas redes sociais e através das fofocas, não é muito difícil conseguir votos e apoio dentre eles. Nem vereador eu quero ser. Para mim é um cargo inútil e desnecessário. Dispenso! Vereador é só um. Prefeito, domina todos eles.

            Eu sendo alcaide não teria nenhuma dificuldade para administrar a tosca e imunda cidade. De início “compraria”, sem muitas dificuldades, o apoio total da câmara de vereadores. Em Porto Velho eu seria uma espécie de Vladimir Putin e até melhor do que Jesus Cristo, que teve oposição e por isso foi crucificado e morto. Seria um Benjamin Netanyahu desfilando sobre os escombros de Gaza. Claro que eu não seria um ditador, mas daria “benesses” à imprensa e bonificaria os sites, jornais e rádios que mais enaltecessem a minha administração. Mudaria o sentido da Avenida Sete de Setembro e mandava construir, com recursos próprios, dois shoppings: um na Jatuarana e o outro na Avenida José Amador dos Reis. Duplicaria o número de mototáxis da cidade e de imediato já mandava refazer o porto do Cai N’água, que está enferrujando na beira do rio.

            Todas as três praças de Porto Velho seriam floridas, limpas e aconchegantes para os visitantes. A da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré seria um brinco de tão asseada e útil aos moradores daqui. Lá, teria uma espécie de passeio público com porto rampeado, modernas pistas de caminhadas e vários mirantes para os otários verem o espetáculo do pôr do sol. Nenhum urubu nem catinga de peixe. Pitiú seria engarrafado e vendido aos saudosistas. Pagaria por cada pássaro morto, ratazana de esgoto e animais peçonhentos somente para limpar aquele ambiente pútrido e fedorento. Da nova rodoviária, mandava retirar todos os noiados e pedintes. Mas o igarapé dos tanques que a rodeia permaneceria com a mesma aparência e aroma. Os muitos visitantes iriam adorar ao saber que o prefeito eleito caracterizou o nome “capital da fedentina” com o ambiente onde recebe os turistas.

            Comigo na prefeitura, as árvores antigas a cidade não teria mais uma sequer. Mandava arrancar todas elas como foi feito na Avenida Tiradentes e mandava plantar somente mudas de louro-bosta e de Muratinga. Já pensou Porto Velho fedendo a bosta nos primeiros ventos da primavera? E nada de aumentar a oferta de água tratada nem de saneamento básico. A população já está satisfeita com os números que existem. Percebe-se isso nas votações que os nossos políticos recebem todo ano de eleições. Votem em mim, por favor! Como prefeito, determinarei a suspensão imediata da construção do hospital “Built to Suit” lá na zona Leste da cidade. Mandarei construir outro “açougue”, que tão bem tem servido à população pobre e miserável do município. O porto-velhense não aguentaria ver a demolição do João Paulo Segundo, que já faz parte da nossa rotina. Não entendo porque os eleitores não votariam em mim. Professor Nazareno ao seu dispor!

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

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