Brasil,
o novo Evangelistão
Professor
Nazareno*
Fala-se
que religião, política e futebol não se discutem. Bobagem, tolice, asneiras.
Discutem-se, sim! Tudo é passível de discussões, pois a dialética sempre fez
parte da natureza humana. O que não se devia fazer é misturar essas atividades
entre si. No Brasil, já há algum tempo, infelizmente, a política entrou na
religião para não mais dela sair. Padres, pastores, bispos e religiosos de um
modo geral se candidatam a cargos políticos para continuar mandando em suas
ovelhas. Para Sêneca, filósofo da Antiguidade, a religião é vista pelas pessoas
comuns como verdadeira, pelos inteligentes como falsa e pelos
governantes como útil. Muitos desses religiosos perceberam o poder que
tinham sobre as pessoas mais incautas e decidiram assim aumentar ainda mais
esse poder sobre elas. Entraram na política e passaram a dominar um número cada
vez maior de “ovelhas”.
Hoje,
é cada vez maior a influência de pastores evangélicos nos destinos políticos do
Brasil. Embora haja também a participação de outras religiões na política
nacional, só que em menor escala. Marco Feliciano, Silas Malafaia, R.R. Soares,
dentre muitos outros, aparecem diariamente na mídia dando entrevistas e
influenciando ainda mais os seus fiéis e agora eleitores. Com a ascensão de
Jair Bolsonaro ao poder entre 2019 e 2022, no entanto, essa ingerência e essa
mistura de religião com a política se intensificaram. Até no STF, o sisudo
Supremo Tribunal Federal, tem hoje um de seus ministros sendo chamado de “terrivelmente
evangélico”, embora o Estado seja laico. A direita e a extrema-direita
principalmente são o viés ideológico da maioria desses novos políticos. Pautas
conservadoras e reacionárias são defendidas por eles. Bem como o negacionismo.
Muitos
dos cidadãos, recém-convertidos à fé evangélica, seguem fielmente seus líderes
sem nenhum questionamento de suas posições. Muitos deles fazem exaltação a
Israel sem perceber que o país do Oriente Médio é formado majoritariamente por
judeus. E que foram eles, os judeus, que mataram Jesus Cristo, o maior líder
desses mesmos cristãos evangélicos. A Talmude, coletânea de livros sagrados dos
judeus, por exemplo, diz que Jesus Cristo ainda arde no fogo do inferno. E que
o mesmo não é filho de Deus, mas apenas um simples profeta. Mesmo Israel
moderno é uma nação democrática e livre onde o aborto é legalizado e que tem em
Tel Aviv, sua capital, a maior parada gay de todo o Oriente Médio e talvez uma
das maiores do mundo. Em Israel todas as religiões são permitidas e a
democracia faz parte da realidade de toda a sua gente. Como entender isso?
Mas
não compreender a História faz parte da maioria das pessoas sem leitura de
mundo e sem nenhum conhecimento da realidade que os cerca. Seguir a filosofia
de Jesus Cristo e fazer exaltação ao Estado judeu ao mesmo tempo são coisas
incompatíveis, sem nenhum sentido. Os judeus foram o carrasco do Salvador e
filho de Deus! “Mas se o padre ou o pastor quer e manda, não há problema
nenhum”. O Brasil é e sempre foi uma nação “onde os loucos estão guiando
os cegos” como na fábula de Shakespeare. Todo mundo tem o direito de seguir
uma religião, mas jamais impor seus conceitos e suas crenças a ninguém. E
quando se mistura religião com política, como se vê em alguns países
muçulmanos, geralmente o que se obtém é uma sociedade baseada no preconceito,
na intolerância, na homofobia e na perseguição. São fatos que não podem
prosperar num país moderno com Estado laico. Não se pode voltar no tempo. Brasil:
um país de “todes”.
*Foi Professor em Porto
Velho.
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