A
cidade dos quatro açougues
Professor
Nazareno*
Porto
Velho, a capital de Roraima, nunca teve um hospital de pronto-socorro honrado.
Há quase 40 anos funciona na zona sul da cidade um arremedo de clínica de
urgência e emergência que tem feito as vezes de uma instituição pública de
saúde. Sempre viveu lotado e nunca deu conta totalmente das demandas que ali
chegam. O João Paulo Segundo de Porto Velho parece com o Al-Ahli Arab, um dos
hospitais da Faixa de Gaza. O velho açougue porto-velhense é como um campo de
concentração daqueles da Segunda Guerra Mundial. Só que em vez de matar judeus,
mata os pobres. Em Gaza, por exemplo, os hospitais públicos de lá, mesmo em
tempos de guerra como agora, cuidam quase sempre de palestinos, árabes e também
de cidadãos judeus. O velho pronto-socorro daqui foi criado por acaso e até hoje
já desafiou oito governadores, prefeitos e todos os políticos.
Mas
os otimistas dizem que os problemas podem estar mais perto do fim. Como estamos
em um ano pré-eleitoral as promessas para sanar o caos já começaram. Há uma
possibilidade de esta capital ter em um futuro muito próximo “uma penca”
de hospitais de pronto-socorro para atender aos seus pobres e miseráveis
pacientes. Fala-se em três ou até mesmo em quatro novas unidades de atendimento
por aqui que surgirão “assim do nada”. Só que a tão badalada construção
do HEURO, Hospital de Emergência e Urgência de Porto Velho, pelo governo do
Estado, parece que vai terminar mesmo em “beiju de caco”. Inventaram até
um nome pomposo em inglês só para enganar os trouxas: “Built to Suit”,
que numa tradução livre pode significar “construído para se adequar”. Só
que até agora não se adequou a absolutamente nada e sua construção pode até
parar. Né incrível?
Outra
possível enganação política aos pacientes desassistidos de Porto Velho pode já
estar a caminho: é o pronto-socorro municipal. A prefeitura da cidade já canta
aos quatro cantos que tem pelo menos 50 milhões de reais para iniciar a
construção do novo logradouro público de saúde. Dizem que deve ser construído
ali perto da maternidade municipal no bairro Embratel. Uma prefeitura que em
oito longos anos desarborizou quase toda a cidade, não construiu nada de esgotos
e saneamento básico, não limpou a cidade da imundície característica, não
entregou a EFMM aos moradores, deixou o porto rampeado enferrujar a céu aberto,
não construiu uma praça sequer, fez na zona Norte uma rua toda torta, sem
árvores e diz que vai entregar uma nova rodoviária durante as eleições de 2024,
não é nada confiável. O eleitor de extrema-direita continua sendo alvo de
lorotas.
O
terceiro açougue de Porto Velho poderia ser o João Paulo Segundo mesmo ali na
Avenida Campos Sales. Com o HEURO na zona Leste e o pronto-socorro municipal
próximo ao centro, a zona Sul da imunda cidade poderia ficar com o seu antigo
hospital. Afinal de contas muita gente já está devidamente acostumada às
humilhações, correrias, mortes e privações vividas naquele lugar. Mas por
incrível que pareça, há uma quarta opção de açougue para Porto Velho. O
ex-governador Confúcio Moura começou a construção de outro ali por trás do
Hospital de Base na zona Norte. Toda a fundação com inúmeros pilares e algumas
plataformas estão abandonados no tempo testemunhando a incompetência e a má
vontade dos nossos políticos em atender aos pobres e necessitados. Porto Velho
tem vários palácios suntuosos, fóruns judiciais, há ricas instituições
públicas, Assembleia Legislativa, CPA, Ministérios Públicos. Mas não tem um só açougue
decente.
*Foi Professor em Porto
Velho.
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