quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Geografia: uma aula inútil



Geografia: uma aula inútil

Professor Nazareno*

            De um modo geral, a população de Rondônia é composta em sua maioria por gente parva, sem leitura de mundo, desinformada e por isso mesmo presa fácil das armadilhas criadas pela mídia televisiva e também pelos políticos. Na semana passada, por exemplo, muitos foram ao êxtase por que uma jornalista local ao apresentar o Jornal Nacional da rede Globo disse que Rondônia não era Roraima. A vibração foi colossal. “Uma aula de Geografia para o Brasil e para o mundo”, gritavam às lágrimas os mais eufóricos. Telões instalados no único Shopping Center da capital e em vários outras localidades deram um aspecto de final de Copa do Mundo. Esse tema é tão importante que vai mudar a sofrida realidade desse povo tolo. Ninguém percebeu que essa “jogada” da Globo foi somente para alavancar sua audiência que cai vertiginosamente a cada dia.
            Além do mais, quase ninguém no Brasil aprendeu esta “aula” nem vai aprender tão cedo. Hoje mesmo, ainda se continua confundindo Rondônia com Roraima não por desconhecimento da Geografia, mas pela pouca ou nenhuma importância que estas duas províncias atrasadas e subdesenvolvidas representam para o país. Rondônia e Roraima são como duas irmãs siamesas que sobrevivem na miséria econômica e social. Fincadas em plena Amazônia, uma faz fronteira com a Venezuela e a outra com a Bolívia. O histórico das duas, no entanto, se parece muito: alguns sulistas gostam de dizer que “colonizaram” estes dois pedaços esquecidos do Brasil. A imigração é uma constante nos dois longínquos territórios que foram recentemente transformados em Estado. Uma sofre por causa da invasão dos venezuelanos, a outra padece com imigrantes bolivianos.
            Roraima tem Romero Jucá, mas Rondônia não fica atrás e também tem os seus “líderes”. Em ambas as unidades da federação existem políticos ladrões e desonestos e geralmente são eles que “dão as cartas”. Em Rondônia vive-se atualmente outra crise. Assim como lá em Roraima. Os dois rincões vivem só de ciclos. Embora Roraima esteja situada no hemisfério norte da terra, o atraso, a corrupção, o subdesenvolvimento e a miséria fazem parte da realidade de sua sofrida e minúscula população. Em Rondônia essa triste realidade não é nada diferente. Os dois povos são devastadores contumazes da natureza. No final do século passado, por exemplo, o mundo ficou assombrado com os incêndios florestais em Roraima. Agora, o medo é em Rondônia com a agressão à Amazônia. Porto Velho sofre com as queimadas e tem hoje quase 10 mil focos de calor.
            Não se sabe quem sofre mais: se um rondoniense quando é confundido com um roraimense ou o contrário. Nunca se viu um paulista ser confundido com um carioca. Duvido que alguém confunda os Estados Unidos com a Europa. Isso porque são lugares desenvolvidos, ricos, civilizados e têm grande importância para o mundo. Rondônia e Roraima são o suprassumo da merda, lugares ermos, periferias do mundo. O PIB de Roraima é 0,2% do PIB brasileiro. Rondônia tem também um PIB inexpressivo: 0,6 do PIB nacional. Já IDH inexiste em ambas as províncias, que deveriam voltar à condição de território federal ou serem devolvidas respectivamente a Nicolás Maduro e a Evo Morales. Se Boa Vista nada tem de bom a oferecer aos seus visitantes, Porto Velho é a capital brasileira dos estupros. Em ambas, saneamento básico e água tratada é um luxo quase inexistente. Então, parabéns à Globo: disse ao Brasil que “essas coisas” existem.

           

*É Professor em Porto Velho.

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