Da passarela ao Jeca
Tatu
Professor Nazareno*
Finalmente as
obras do Espaço Alternativo de Porto Velho foram inauguradas após muitos anos
de demorada construção, desvios de recursos públicos e da prisão de algumas
autoridades responsáveis por aquele inútil elefante branco que é uma daquelas
obras eleitoreiras e imprestáveis que não servem para absolutamente nada. O
ex-governador do Estado, Confúcio Moura, e agora possivelmente candidato, de
novo, a alguma coisa vaticinou que
a passarela certamente será a atração da capital da fedentina. Disse que o
cenário é adequado para fotografias. “Essa
passarela será uma de nossas referências. Porto Velho já é reconhecida pela
Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, pelo rio Madeira, e agora pela passarela”,
afirmou. Em tempos de campanha eleitoral, a cidade inaugura mais uma obra sem
importância para seu sofrido e alienado povo.
Confúcio, no entanto, convenientemente não se lembrou de que
a EFMM é hoje um amontoado de ferro velho retorcido apodrecendo vergonhosamente
no meio do mato. Muitas locomotivas e peças do acervo histórico desaparecem
impiedosamente sob a ferrugem e o olhar complacente e acomodado dos
rondonienses mais telúricos e que os galpões da velha ferrovia, a “mãe de Rondônia”, foram invadidos e
praticamente destruídos na cheia histórica de 2014 sem que ninguém tivesse
sequer a coragem para impedir o avanço lento das águas barrentas do enfurecido rio
Madeira. O ex-governador é otimista demais para afirmar que o velho e estuprado
Madeira ainda é uma das atrações de Porto Velho. Após as hidrelétricas, as
bombas em seu canal e de toda a sorte de agressões e poluição, o rio nem madeiras
tem mais em seu assoreado e sujo leito.
A suja e fedorenta capital dos rondonienses não devia ter
outro símbolo senão um saco de lixo cheio de tapurus na entrada da cidade devido
à total inexistência de rede de esgotos e de água tratada para os seus
moradores. Governador nenhum, nem mesmo o Confúcio em seus longos oitos anos de
mandato, deu este presente para os porto-velhenses. Até o “açougue” João Paulo Segundo, mote de campanha do ex-prefeito de
Ariquemes, não mudou a cara neste período. No início do seu governo, a Globo
esteve aqui fazendo matérias sobre o caos na saúde. Mas nada mudou. O único
hospital de pronto socorro de Porto Velho em 2011 era uma espécie de campo de
concentração onde só se internavam os mais necessitados. Depois, continuou como um
campo de extermínio de pobres. Realidade cruel: Quem tem algum dinheiro, quer
distância dali.
Em vez dessa absurda “montanha-russa
do atraso” que não serve para nada, Confúcio deveria ter melhorado as
instalações do João Paulo Segundo, ter construído um verdadeiro Hospital de
Pronto Socorro ou mesmo ter investido essa dinheirama toda em escolas de tempo
integral. Porém teria um problema: os mais de 500 mil matutos de Porto Velho
não veriam a obra e poderiam ficar aborrecidos com o político. Só que sem
aquele trambolho ridículo, que não significa coisa alguma, as pessoas
continuarão caminhando normalmente. Confúcio sai e ainda nos deixa o velho “açougue” da zona sul de Porto Velho. A
sua “Nova Rondônia” foi um fiasco do
começo ao fim. E pior que há a terrível possibilidade de se instalar de novo
nestas longes terras o “Império da Roça”
de Ivo Cassol e sua turma. Enquanto não vem a chuva de merda, tanto um quanto
outro deveriam fazer ali no Trevo do Roque uma estátua de cem metros do Jeca
Tatu.
*É Professor em Porto Velho.
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