Saudades da
Ditadura
Professor
Nazareno*
Em março de 1964 eu tinha apenas
cinco anos. Em março de 1985 eu estava, óbvio, com 26. Este período foi a
melhor fase que vivi em toda a minha vida e que coincidiu na política nacional com
o chamado período da Ditadura Militar. Aqueles “anos dourados inesquecíveis” foram para mim uma espécie de “meus verdes anos”. Para o nosso país
também foi. Éramos competentemente governados pelos militares que em nome do capitalismo
e para defender os interesses dos mais pobres deram um golpe no latifundiário e
dono de terras João Goulart e em todas as instituições que defendiam
equivocadamente as aspirações democráticas. Bons tempos aqueles: éramos felizes
e não sabíamos. Vivíamos no paraíso. Uma espécie de terra dos Smurfs sem o Gargamel.
A Ditadura Militar foi uma panaceia milagreira que fazia jorrar mel e leite das
ruas.
Naquela áurea época havia coelhinhos
saltitantes e borboletas azuis em todos os recantos do país. Tudo funcionava
maravilhosamente bem e as pessoas não tinham sequer a tola vontade de votar
para presidente, prefeito das capitais ou mesmo governador. Corrupção não havia
e o que se arrecadava em impostos era tudo empregado para o bem da sociedade. O
nosso país crescia folgadamente a 15 ou 20 por cento ao ano e tínhamos amplo
reconhecimento internacional. A nossa educação era de Primeiro Mundo e só não
ganhamos várias vezes um Prêmio Nobel por que nunca fizemos questão dessas “coisas pequenas”. Os nossos militares
descartavam anualmente a indicação para o Oscar e os Estados Unidos assim como
vários países europeus e o Japão guiavam suas sociedades a partir do que viam
no Brasil. Éramos melhor que eles.
Não havia essa violência que vemos
hoje e quase não tinha pessoas presas a não ser aquelas que queriam mesmo estar
nas cadeias como alguns estudantes insolentes e alguns sujeitos metidos a
oposicionistas e os provocadores da esquerda. A liberdade grassava em todos os
níveis. Todas as minorias eram respeitadas e até os indígenas tinham uma política
só para eles. O governo militar criou o Mobral para alfabetizar todos os
cidadãos que quisessem. Preocupados também com a cultura, os militares
incentivaram todas as formas de arte e expressão. Censura “quase” não havia e qualquer um podia se expressar livremente. A
nossa dívida externa mostrava a credibilidade do país ante o mercado externo.
Ainda teve o milagre econômico. E se houve DOI- CODI, torturas, AI-5 e exílio foram
apenas meras formalidades para melhor se governar.
Mas como tudo o que é bom dura
pouco, os civis tomaram de assalto o poder e lamentavelmente instalaram a
famigerada democracia entre os brasileiros. De 1985 aos dias de hoje, vivemos
de solavanco em solavanco tentando acertar e nada parece dar certo. A
roubalheira tomou conta da sociedade, a imoralidade dá as cartas, a crise de
representatividade só aumenta, a insatisfação popular não para e a corrupção
nunca acaba. Vivemos tempos difíceis. Se os militares dessem, para a nossa
sorte, outro golpe militar as coisas entrariam no eixo mais uma vez. E como num
passe de mágica, general no poder, a corrupção acabaria no dia seguinte. Nossas
escolas teriam de volta as disciplinas Educação Moral e Cívica e OSPB, o Estado
não seria mais laico e a nossa bandeira não mudaria de cor jamais. Não sei o
que os “milicos” estão esperando,
pois quando tiraram a Dilma e o PT as coisas melhoraram e muito. Só não vê quem
não quer.
*É
Professor em Porto Velho.
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