Devíamos ter
furacões e terremotos
Professor
Nazareno*
Já ouvi muitos
idiotas dizerem várias vezes que Deus é brasileiro e que somos uma terra
abençoada por natureza. Tudo mentira, tudo lorota, tudo enganação. Uma nação
que figura entre as maiores economias do mundo e tem um IDH incompatível com a
sua riqueza é um lugar injusto. Nunca fomos um país sério e como se não
bastasse, temos os piores serviços públicos do planeta e o nosso sistema de
educação é uma desgraça que só imbeciliza e sabota os alunos, que são os mais desinstruídos
e “ignorantizados” que se conhece. Os
Estados Unidos, o Japão e muitos países desenvolvidos da Europa nem de longe
podem ser comparados à desgraça que é o Brasil. Muitos desses países já
ganharam várias vezes o Prêmio Nobel, têm sociedades justas, altíssimo IDH e
quase todos seus serviços públicos funcionam exemplarmente.
Muito diferentes deste país vagabundo e
chinfrim, nestas nações a corrupção e a desonestidade são coisas raras. E
quando por lá alguém saqueia o Erário, a punição sempre é exemplar. Só que
nestes países há vulcões, terremotos e até furacões. “Então o Brasil é um país infinitamente melhor do que qualquer um deles”
deve-se pensar erroneamente. Se foi Deus que criou os países, foi muito injusto:
poupou-nos da fúria da natureza e caprichou nas desgraças naturais em outras
nações. Mas a verdade não é bem esta, pois tufões, furacões, terremotos,
nevascas, tsunamis e vulcões matam menos gente do que a nossa corrupção. É só
comparar o número de mortos por causa dos 51 milhões de reais escondidos por Geddel
Vieira, por exemplo. O dinheiro sujo do homem forte de Michel Temer poderia ter
evitado muitas mortes nos hospitais públicos do país.
Não há desgraça da natureza que mate
mais do que a nossa corrupção, a nossa desonestidade, a nossa individualidade,
o nosso jeitinho, a nossa insensatez. Somos infelizmente uma das piores
sociedades do mundo em termos de justiça social e Deus é cúmplice de toda essa
cachorrada em que vivemos. Se Ele nos tivesse dado a fúria da natureza podíamos
nos proteger mais facilmente e teríamos menos mortos. Quantos pobres não morreram
no “açougue” João Paulo Segundo de
Porto Velho com as maracutaias da JBS com o atual vice-prefeito da cidade? As
verbas surrupiadas do Espaço Alternativo, dos viadutos e da ponte escura pelos
políticos daqui teriam evitado muito sofrimento da população mais carente deste
Estado. Evitado sofrimentos, dores e muitas mortes. Mas quase ninguém consegue
entender o porquê. E continua votando.
A falta de saneamento básico, de
água tratada, de mobilidade urbana além da violência desenfreada causa duzentas
vezes mais mortes do que o furacão Irma ou de qualquer um tsunami. Se
tivéssemos ao lado de Porto Velho um vulcão ativo ou mesmo se fôssemos uma
terra de violentos terremotos, conseguiríamos nos livrar dos problemas sem
tantos traumas e mortes. Mas nunca vamos nos livrar dos maus políticos, eles
são como uma praga invencível. Parece que em Rondônia e em todo o Brasil, as
mesmas desgraças serão sempre eleitas e reeleitas eternamente. Para se ter uma
ideia do inferno astral em que vivemos na política, Lula e Bolsonaro lideram
disparados todas as pesquisas para presidente da República em 2018. As
intempéries naturais aparecem de vez em quando, já nossos males são rotineiros
e frequentes. Seria interessante que Deus fizesse uma troca: mande-nos
furacões, vulcões, terremotos e leve Temer e a corrupção.
*É
Professor em Porto Velho.
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