Uniformes
disformes
Professor
Nazareno*
O Brasil tem um
dos piores sistemas de educação do mundo. Ficamos sempre nos últimos lugares
quando somos comparados a outros países. Finlândia, Coreia do Sul, Alemanha e
Japão dão de goleada em nós quando o assunto é educação de qualidade. Há mais
de quarenta anos, no entanto, que eu trabalho na área da educação e neste tempo
frequentei muitas escolas. Estaduais, municipais e também particulares. Em
todas elas o sistema é precaríssimo em todos os sentidos. Nunca houve turno
integral de ensino em nenhuma delas e as deficiências sempre foram enormes.
Professores mal pagos, despreparados, desmotivados, sem a menor autoestima e
quase todos sempre reclamando da profissão escolhida é uma triste rotina
verificada em nossos precários estabelecimentos de ensino. Porém em todas elas
os alunos usam o uniforme escolar.
Resquício ainda
da tenebrosa época da ditadura militar e da atual mentalidade golpista reinante
em nossa sociedade, o fardamento se revela por si só como uma farsa absurda.
Marcam-se os alunos na falsa ilusão de que está se contribuindo para a
organização didático-pedagógica dentro das escolas. Engano. A organização de uma
escola se dá pela qualidade dos profissionais envolvidos no processo educativo
e nunca, jamais pela cor da roupa que os estudantes usam para frequentá-la. É
importante salientar também que o nível dos alunos, sua vontade de aprender
coisas novas e trocar informações explorando ao máximo a relação entre educador
e educando podem contribuir para melhorar o fraco nível verificado nesses
ambientes. Fardamento só serve para iludir os tolos e fazer propaganda gratuita
no caso das escolas particulares.
Além do mais, as
desnecessárias fardas impulsionam uma verdadeira indústria, que se aproveita do
fato. Só em Rondônia, por exemplo, são mais de 220 mil alunos apenas no Ensino
Médio. Com a clientela do Ensino Fundamental essa soma mais do que duplica. E os
números são alarmantes: segundo o MEC, o Brasil possuía em 2015 quase 38
milhões de alunos matriculados. Este ano de 2017 são quase 40 milhões de
pessoas que são obrigadas na maioria das vezes a usar uma ridícula peça de
tecido para poder aprender algo. Já vi em muitas ocasiões alunos sem a farda
serem impedidos de assistir aulas. Barrados, podem perder o interesse pela
escola e assim comprometer o seu futuro. É balela também afirmar que essa roupa
dá mais segurança ao jovem identificando-o mais facilmente. Quem afirma isso
não conhece a utilidade dos crachás.
É tolice também
achar que a roupa iguala os meninos. Mas igualar para quê? Não moramos em uma
sociedade socialista. E basta olhar para cada um deles para se perceber que não
são iguais em nada. Até na maneira de aprender algo eles possuem as suas
diferenças. Usar farda é um retrocesso, uma estupidez, uma ignorância. Escola
não é quartel muito menos seminário religioso. Um lugar onde se debatem ideias
e conceitos já devia ter abolido a obrigatoriedade do fardamento. Pior: a
autoestima de muitos fica lá embaixo quando têm que usar roupas ridículas, toscas,
cafonas, fora da sua realidade. A organização de uma escola se dá pelos
resultados obtidos e nunca por causa da cor da calcinha ou da cueca de quem quer
estudar. E mudanças não haverá tão cedo. Se nossa escola não evoluir como nos
países civilizados daqui a pouco os alunos serão obrigados a prestar
continência aos “superiores” e a
cantar o feio Hino Nacional todos os dias.
*É
Professor em Porto Velho.
Um comentário:
É difícil ter que aceitar que depois de tanto tempo não mudamos quase nada. Estamos correndo em uma esteira.
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