Porto-velhenses guerreiros!
Professor Nazareno*
Estou espantando! Deveras espantado com tanta
demonstração de patriotismo, de determinação e de civismo. Nunca em meus quase
sessenta anos de vida vi um povo tão abnegado e tão profundamente lutador pelos
seus objetivos. Dos pouco mais de 520 mil habitantes da capital de Rondônia
pelos menos uns 120 mil saíram às ruas na tarde deste último sábado. Cifra
impressionante para os padrões de qualquer cidade do mundo, uma vez que em
torno de 25% dos habitantes estavam lá lutando por um objetivo, uma finalidade.
Nestes tempos bicudos em que a participação política está esquecida e relegada
a um segundo plano, eis que a “capital
dos destemidos pioneiros” mostra ao mundo o bravo exemplo de como
reivindicar melhorias para a sociedade e para as futuras gerações. Uma tristeza
eu ter nascido lá pelos cafundós da Paraíba.
Não há
espetáculo mais belo de se ver. Mais de cem mil pessoas, rondonienses e “rondonienses de coração”, protestando
nas ruas de Porto Velho contra o desemprego, a inflação, a corrupção, a apatia
dos governos estadual e municipal, a falência da saúde, da educação e também
pelo abandono da capital e contra a falta de políticas públicas para a
população mais carente. Todos em uníssono gritando contra o golpe da direita
reacionária contra um governo legitimamente eleito. A chiadeira era geral
também contra a nomeação de Alexandre de Moraes para ministro do STF. Isso sim,
que é civismo e amor às causas pátrias. Pense num povo que tem ancestralidade.
Um prêmio Nobel é o que essa gente merece. Onde estão as academias sueca e
norueguesa que não veem esta bravura, esta determinação, esta garra, este
patriotismo e esta luta árdua?
Cartazes,
faixas, banners enfeitavam as ruas. O frenesi era geral. Havia até quem
protestasse contra a política externa de Donald Trump, dos Estados Unidos.
Muitos daqueles politizados cidadãos mandavam recados para o novo prefeito
eleito de Porto Velho, Hildon Chaves. “Não
aceitamos administração meia-boca, de faz de conta” dizia um cartaz. “E nada de entregar a administração da cidade
a um Boi depois de menos de dois anos”, dizia outro. Havia reclamações
também contra o governo do Estado: “a
nova rodoviária da cidade não pode ser uma simples obra eleitoreira e muito
menos ficar sem a sua conclusão definitiva como o Espaço Alternativo”,
alertava a multidão eufórica. A ponte escura e o viaduto do PT, que já está se
desmanchando com as chuvas, não sairão da memória desse povo guerreiro. Eles só
exigem respeito!
Pessoas
desenvolvidas, esclarecidas, bem informadas, conscientes de seus direitos e
batalhadoras sempre vão reivindicar melhorias de seus governantes. E de forma
pacífica, respeitosa e ordeira. E isso é o que se vê com muita frequência em Porto
Velho, terra de pessoas que têm no respeito e na higiene suas maiores
qualidades. As ruas onde houve aquela passeata-monstro, por exemplo,
principalmente a Carlos Gomes e a Sete de Setembro, ficaram até mais limpas
quando terminou o grande ato cívico. Pedaço de papel algum se via jogado no
chão. Garrafas de água jogadas a esmo era uma raridade. Preservativos usados,
absorventes femininos ou cascas de picolé sequer se viam esquecidos pelas
limpas ruas e avenidas. E vai ser assim todos os anos. “O povo unido, jamais será vencido”, era o mantra que ecoava quando
a astuta multidão intelectualizada caminhava de punhos cerrados! Juro que ouvi
a internacional socialista!
*É Professor em Porto Velho.
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