domingo, 26 de fevereiro de 2017

Porto-velhenses guerreiros!


Porto-velhenses guerreiros!


Professor Nazareno*

            Estou espantando! Deveras espantado com tanta demonstração de patriotismo, de determinação e de civismo. Nunca em meus quase sessenta anos de vida vi um povo tão abnegado e tão profundamente lutador pelos seus objetivos. Dos pouco mais de 520 mil habitantes da capital de Rondônia pelos menos uns 120 mil saíram às ruas na tarde deste último sábado. Cifra impressionante para os padrões de qualquer cidade do mundo, uma vez que em torno de 25% dos habitantes estavam lá lutando por um objetivo, uma finalidade. Nestes tempos bicudos em que a participação política está esquecida e relegada a um segundo plano, eis que a “capital dos destemidos pioneiros” mostra ao mundo o bravo exemplo de como reivindicar melhorias para a sociedade e para as futuras gerações. Uma tristeza eu ter nascido lá pelos cafundós da Paraíba.
            Não há espetáculo mais belo de se ver. Mais de cem mil pessoas, rondonienses e “rondonienses de coração”, protestando nas ruas de Porto Velho contra o desemprego, a inflação, a corrupção, a apatia dos governos estadual e municipal, a falência da saúde, da educação e também pelo abandono da capital e contra a falta de políticas públicas para a população mais carente. Todos em uníssono gritando contra o golpe da direita reacionária contra um governo legitimamente eleito. A chiadeira era geral também contra a nomeação de Alexandre de Moraes para ministro do STF. Isso sim, que é civismo e amor às causas pátrias. Pense num povo que tem ancestralidade. Um prêmio Nobel é o que essa gente merece. Onde estão as academias sueca e norueguesa que não veem esta bravura, esta determinação, esta garra, este patriotismo e esta luta árdua?
            Cartazes, faixas, banners enfeitavam as ruas. O frenesi era geral. Havia até quem protestasse contra a política externa de Donald Trump, dos Estados Unidos. Muitos daqueles politizados cidadãos mandavam recados para o novo prefeito eleito de Porto Velho, Hildon Chaves. “Não aceitamos administração meia-boca, de faz de conta” dizia um cartaz. “E nada de entregar a administração da cidade a um Boi depois de menos de dois anos”, dizia outro. Havia reclamações também contra o governo do Estado: “a nova rodoviária da cidade não pode ser uma simples obra eleitoreira e muito menos ficar sem a sua conclusão definitiva como o Espaço Alternativo”, alertava a multidão eufórica. A ponte escura e o viaduto do PT, que já está se desmanchando com as chuvas, não sairão da memória desse povo guerreiro. Eles só exigem respeito!
            Pessoas desenvolvidas, esclarecidas, bem informadas, conscientes de seus direitos e batalhadoras sempre vão reivindicar melhorias de seus governantes. E de forma pacífica, respeitosa e ordeira. E isso é o que se vê com muita frequência em Porto Velho, terra de pessoas que têm no respeito e na higiene suas maiores qualidades. As ruas onde houve aquela passeata-monstro, por exemplo, principalmente a Carlos Gomes e a Sete de Setembro, ficaram até mais limpas quando terminou o grande ato cívico. Pedaço de papel algum se via jogado no chão. Garrafas de água jogadas a esmo era uma raridade. Preservativos usados, absorventes femininos ou cascas de picolé sequer se viam esquecidos pelas limpas ruas e avenidas. E vai ser assim todos os anos. “O povo unido, jamais será vencido”, era o mantra que ecoava quando a astuta multidão intelectualizada caminhava de punhos cerrados! Juro que ouvi a internacional socialista!




*É Professor em Porto Velho.

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