Surreal: Pobre de Direita
Professor Nazareno*
O cantor Tim
Maia teria dito certa vez que o Brasil é um país que tem tudo para não dar
certo, pois aqui cafetão se apaixona e tem ciúmes, traficante de drogas se
vicia e pobre é de Direita. Não se sabe ao certo se o polêmico cantor disse
mesmo isso, mas o fato é que a estranhíssima expressão “Pobre de Direita”,
se ele existe mesmo, é a mais bem acabada criação do capitalismo brasileiro. E
nestes tempos de crise política no Brasil, o que mais se observa, no entanto, é
uma legião inteira de cidadãos, pobres em sua maioria, tecendo loas, elogiando
e até torcendo pelo sucesso dos políticos direitistas, conservadores e
reacionários. Dizem e acreditam, por exemplo, que não foi golpe a retirada pura
e simples da ex-presidente Dilma Rousseff do poder sem ela ter cometido crime
algum. As declarações de José Sarney e Romero Jucá sequer são levadas a sério.
O pobre de Direita é como um capitão
do mato da época dos escravos. O miserável sofre, é explorado, humilhado,
espezinhado e massacrado, mas não deixa de adorar seus opressores e de agradar
ao seu patrão ou líder político. É como se ele sofresse da síndrome de
Estocolmo. Clama abertamente pela volta dos militares ao poder, apesar das
torturas, censura à mídia, perseguições e aberrações feitas contra os
opositores. Com os desastrosos 13 anos do PT no comando do país, o pobre de
Direita viveu dias intranquilos e depressivos. Flertou politicamente com várias
instituições conservadoras e reacionárias para aliviar um pouco o seu
sofrimento e vibrou quando a religião, principalmente a evangélica, se envolveu
de forma mais participativa com a política. Era a senha para que o alienado e
imbecil pudesse renovar as suas esperanças.
Pobre de Direita ama de coração o
Jair Bolsonaro e segue suas ideias malucas, arcaicas, misóginas, racistas,
preconceituosas e fascistas. Nas redes sociais se orgulha de ter em seu perfil
a foto do político conservador. Fala abertamente que vai votar nele em 2018
para presidente e vibra quando o futuro candidato faz apologia à tortura e aos
torturadores de um modo geral. Sobre direitos humanos, não quer ouvir nem
falar. Defende a pena de morte, a diminuição da maioridade penal e outras
excrescências já ultrapassadas. Nem precisa dizer qual o canal de televisão
favorito dessa gente. A revista semanal de informações, que alguns deles leem,
é a mesma que se autodenomina como uma das mais lidas do mundo. Para um Pobre
de Direita entrar em desespero basta lhe dizer que a bandeira brasileira mudará
de cor e agora talvez seja vermelha.
Pobre de Direita tem solução para tudo. Toda postagem que
faz nas redes sociais é para adular os ricos e poderosos. Com a queda do PT e a
possível prisão de Lula e de alguns dirigentes esquerdistas chegará, enfim, ao
êxtase. O juiz Sérgio Moro para todos eles é um herói nacional e deveria ganhar
um prêmio Nobel. Esse tipo de pobre ama futebol, geralmente torce pelo
Corinthians ou Flamengo e sempre que pode está vestido com a camisa de seu time
favorito. É fã do Neymar, a seleção brasileira é sua paixão e vestir a camisa
amarela é para ele como uma religião. Nunca percebeu a relação promíscua entre
a CBF e a FIFA. Muitos deles não entendem como alguns brasileiros não queriam a
realização das Olimpíadas no Brasil. Se for funcionário público, o infeliz
defende também o neoliberalismo do PSDB sem perceber o perigo de sua própria
demissão. Mas o pior pobre de Direita é aquele que já foi de Esquerda. Conheço
muitos.
*É Professor em Porto Velho.
Um comentário:
Olá caro Tio Naza, como vai??! Eu me chamo Fládson, tenho 24 anos de idade (vinte e quatro é o meu número da sorte, entendeu o recado??!), fui seu aluno no Projeto Terceirão JBC em 2010. Naquele ano, conheci este blog e deste então sempre dou uma passadinha por aqui para ver as novidades. Desde pequeno gosto de ler e escrever, e confesso que após tê-lo conhecido passei a nutrir ainda mais interesse pela arte da comunicação escrita.
Eu me divirto com a ironia ácida, inteligente, e com os recadinhos codificados (alfinetadas!, indiretas!) tão presentes e característicos da sua obra literária. Aliás, professor, publique um livro que eu compro! Um não, publique vários!
Sabe Teacher..., é bem difícil, para não dizer impossível, agradar a Deus e ao diabo ao mesmo tempo. Logo, é óbvio que muitos amam, adoram, idolatram os seus textos, enquanto que outros o detestam pelo simples fato de que é impossível agradar a todo mundo!
E é fato também que o nobre professor (vulgo Titio Naza) foge do lugar-comum, da mesmice, dos clichês, da "sabedoria popular" (sabedoria popular que nem é lá tão sábia, como bem disse Millôr Fernandes). O nobre professor não faz parte de los hombres mediocres identificados pelo argentino Jose Ingenieros.
O caro Titio Naza desnuda a realidade, sem maquiagem nem efeitos plastificados de Photoshop, trilhando um caminho já aberto por Nelson Rodrigues.
Às vezes, eu fico me perguntando e até me preocupo: será que o Professor Nazareno sofre muito durante o processo de criação dos textos??? Será que ele fica triste, deprimido, será que baixa nele o espírito do velho ranzinza... Ou será que é tipo sentar no vaso sanitário, soltar um pum e a obra já está feita??!
O humor negro do Tio Naza às vezes me assusta. E me faz rir. Aliás Tio Naza, humor negro é racismo???!
Eu penso no Professor Nazareno e surge em minha cabeça duas figuras, dois blogueiros polemistas: a cubana Yoáni Sanchez e o chinês Ai WeiWei. Eles criticam e criticam a realidade político-cultural de seus respectivos países, sem medo, dando a cara a tapa, e por isso são tão queridos e aplaudidos.
Enfim, professor, a mensagem que eu deixo ao senhor é que continue sendo assim, um CIDADÃO consciente de seus direitos e responsabilidades, um CIDADÃO tão necessário a nossa linda capital, a nossa querida e quase (quase???) sucateada PVH City.
Beijos no seu coração e fique com a mensagem do nosso amiguinho, a formiguinha Smilinguido: "Jesus nos enche com o seu amor"!!!
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