A
cidade da escuridão eterna
Professor Nazareno*
Rondônia e a sua imunda, inabitável e
longe capital são lugares ermos sem nenhuma qualidade de vida. Porto Velho é um
fim de mundo sem eira e nem beira cheio de lixo, ratos, moscas, tapurus,
urubus, violência e toda a sorte de desgraças e mazelas sociais e que devia,
por isso mesmo, já ter sido riscado do mapa há muito tempo ou então entregue
aos bolivianos ou peruanos para tentar mudar sua madrasta sorte. Isto,
infelizmente, não é novidade para ninguém que deu o azar de nascer ou morar por
aqui. Já há algum tempo, os alegres e felizes moradores locais esperam
bovinamente por uma inusitada chuva de merda que pode cair a qualquer momento
para a felicidade geral. O fato novo agora, porém, é a constante falta de energia
elétrica. Na “cidade das hidrelétricas”, em 40 dias foram pelo menos
cinco apagões. E índio precisa de
energia?
Situada numa curva de rio, o exuberante,
poluído e já estuprado Madeira, a cidade aos trancos e barrancos tenta copiar,
e mal, tudo o que não deu certo no restante do país. Repleta de lixo, carniça e
imundície, Porto Velho se parece com aquelas aldeias inóspitas da Idade Média.
Até alguns comerciantes daqui outro dia tentaram inutilmente criar uma espécie
de campanha para melhorar os ares do lugar: “Abrace Porto Velho”. E
claro, como tantas outras tentativas anteriores, terminou em "beiju da caco". O
estranho, no entanto, é que muitas pessoas dizem não estar acostumadas com a
escuridão desses constantes apagões. Com três hidrelétricas, que foram
construídas apenas para fornecer energia boa e barata para o sul do país, a
cidade não era para ter a sua realidade feito breu. Dizem que esses apagões
existem para poupar a energia que é mandada para fora.
A escuridão é a rotina. Até a única
ponte que a cidade se orgulha de ter, e que não serve para absolutamente nada,
está escura e em quase todas as ruas e avenidas a realidade não é muito
diferente durante a noite. Por que, então, alguns dizem estranhar este fato tão
corriqueiro e já familiar? Aqui não há água tratada e nem saneamento básico e
por isso mesmo Porto Velho devia ter um açude bem grande no seu centro e em vez
de “modernos potes de barro” deviam distribuir cabaças para os
habitantes pegarem água. Arborização não existe, embora estejamos situados bem
no meio da floresta amazônica. Até as poucas árvores que há são arrancadas pela
Prefeitura para se colocar fios elétricos e mais asfalto. O calor é
insuportável. Dizer que moramos no inferno é um pleonasmo. Satanás é o protetor
da cidade: não há nenhum santo que queira esse cargo.
Viver em Porto Velho é um desafio
diário. Poeira sufocante, aliada à fumaça das queimadas irresponsáveis, é a
rotina no curto verão. No inverno, época das chuvas na região, o cotidiano é a
lama podre e as alagações. Mas como pode um lugar assim ter prefeito? Não só
tem como tem uma Câmara de Vereadores que também não serve para nada. Aqui a
escuridão é eterna. E o pior e inexplicável: há uma penca enorme de políticos
querendo se lançar candidatos para ocupar o cargo e administrar este inferno
durante os próximos anos. O transporte coletivo é penoso e quando a energia se
vai, os semáforos fazem os cruzamentos se parecerem com aquelas cidades da
Índia. Aqui não se tem alegria, só agonia feito sapo. Não existem times de
futebol e até a única banda de música da cidade não foi convidada para o Rock
in Rio. Como pode um “buraco quente” assim ter internet e seus
habitantes andarem eretos como se fossem civilizados?
*É Professor em Porto Velho.
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