Voto
tem que ser obrigatório?
Professor
Nazareno*
Durante a última semana, vários
setores da opinião pública brasileira e dos meios de comunicações estiveram
envolvidos em discussões acaloradas. A Parada do Orgulho Gay de São Paulo e um
comercial de O Boticário sobre diversidade lideraram os bate-papos no Brasil
inteiro. Nas redes sociais não se via outra coisa. Enquanto isso, a Câmara dos
Deputados aprovou a continuidade do voto obrigatório no país. Entendida como um
dos últimos resquícios da Ditadura Militar, a obrigatoriedade de votar, odiada e
criticada por muitos brasileiros, foi simplesmente confirmada com a votação de
311 deputados. Tudo continuará do jeito que sempre esteve e não se ouviu um
único pio sobre essa decisão dos nossos representantes políticos. Assim, todo
cidadão brasileiro entre 18 e 70 anos continua obrigado a comparecer às urnas e
a votar em toda eleição.
Entretidos com a absurda discussão
de “sexo dos anjos”, a maioria dos cidadãos brasileiros orientados
principalmente por espertos líderes religiosos sequer percebeu o que estava
acontecendo em Brasília. Por isso, pouco mais de três centenas de pessoas
decidiram que os quase 150 milhões de eleitores, muitos contra a própria
vontade, devem ter a obrigação de elegê-los. É a democracia, muitos dirão, mas
o Brasil deve ser uma das únicas do mundo que mantém uma excrescência desta. É
um verdadeiro absurdo o indivíduo, num regime democrático, ser obrigado por
decisão do Poder Público a fazer aquilo que não quer. Todos nós reclamamos, mas
nada fizemos nem faremos para mudar o quadro que aí está. Para muitos de nós
brasileiros, discutir acaloradamente um simples comercial de televisão parece
ser muito mais importante.
Acredita-se que mais de 80% da
opinião pública brasileira seja alienada, burra, estúpida e totalmente sem
leitura de mundo. E para piorar a situação, está totalmente despolitizada e sob
a liderança muitas vezes de líderes escroques que a manipulam do jeito que querem.
Os outros 20% dos brasileiros, entendidos como mais politizados e conscientes,
ficam reféns dessa maioria anacrônica. A grande parte dos nossos eleitores
geralmente não sabe votar e também não se interessa pelas decisões políticas
que norteiam o seu próprio destino. Por isso, se preocupar com tolos comerciais
de TV ou com alegorias em manifestações de rua parecem chamar mais a atenção.
Até muitos dos deputados federais, os mesmos que votaram pela obrigatoriedade
do voto, numa manifestação patética, participaram no plenário contra a marcha
dos homossexuais.
A “Parada para Jesus” ou a “Marcha
do Orgulho Gay” embora sejam manifestações legítimas e democráticas, têm
servido apenas como mútuas provocações e são, por isso, movimentos totalmente desnecessários
que só servem, muitas vezes, para alimentar o ódio, a intransigência, o
preconceito e a intolerância entre os seus milhões de participantes. Uma não
sobreviveria sem a outra, eis a verdade. Muito mais proveitoso para o Brasil e
para os brasileiros de um modo geral, seria essas multidões, muitas delas repletas
de indivíduos alienados e manipulados por terceiros, sair às ruas em defesa da
escola pública, por exemplo. Se dez por cento desses manifestantes se
interessassem pelas decisões políticas e sociais, os nossos desprestigiados
políticos não “sacaneavam” tanto conosco. Por isso, impor de goela
abaixo a obrigatoriedade de votar aos brasileiros, dentre tantos outros
absurdos, foi até fácil. Merecemos isso. E calados.
*É Professor em
Porto Velho.
2 comentários:
O grande prazer desses 80 % referidos acima é sentar em uma mesa e falar mal dos políticos e da religião contraria a sua . E não se dão conta do imenso contexto de decisões que estão acontecendo ao seu redor , e muito Menos se importam em se esforçar para tentar mudar o cenário politico Brasileiro atual.
Ótimo texto!
Soube de fato relatar aquilo que está acontecendo no nosso meio social.
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