Sofrência:
quadrilhas sem futebol
Professor Nazareno*
O Brasil sempre
foi um país fracassado em quase tudo. Em termos de lazer e cultura, por
exemplo, todas as vezes se apresentou como um grande fiasco. Mas agora a
situação nestes setores, como se fosse possível, está muito pior. No futebol,
deixamos de ser uma potência já há um bom tempo. Desde a humilhante e mais do
que justa derrota por 7 X 1 para a Alemanha pela última Copa do Mundo não
tínhamos outra notícia tão boa como agora: graças a Deus, fomos eliminados da Copa
América pelo Paraguai e possivelmente não vamos nem participar da próxima Copa
na Rússia em 2018. O futebol, que ajudava a alienar as massas ignaras, perdeu
totalmente o seu prestígio, a sua função e o seu valor com as roubalheiras
colossais na FIFA e a prisão de vários dirigentes da entidade. Para enganar os
trouxas, deve-se inventar outra coisa.
As festas juninas espalhadas pelo
Brasil afora neste meio de ano bem que poderiam substituir o futebol no
imaginário do povão. Existe coisa mais bisonha e absurda do que estas
comemorações de São João? Aliás, ninguém sabe direito o que estas festas
homenageiam. Geralmente são pessoas comuns fantasiadas de matutos dançando algo
“sem pé nem cabeça”. Para que se fantasiar de jecas se já o somos? Em
termos de vestimentas não há muita diferença entre os brincantes e as tolas
pessoas que a eles assistem. Em Porto Velho, por exemplo, são as escolas que fazem
seus arraiais todos os anos. “Arraiá do cumpade fulano, arraiá do cumpade
beltrano”. Fala-se assim mesmo como se matutos fossem e escreve-se tudo
errado como se precisassem de festejos idiotas e toscos para assassinar a
gramática normativa da nossa língua.
O mais interessante nestas festas,
no entanto, são as quadrilhas. Outra tolice sem tamanho fazer festa caipira
para dizer que se tem uma: o brasileiro está tão acostumado com esta palavra,
pois rouba e é roubado diariamente, que também não precisava se expor de forma
ridícula só para dizer que pertence a uma quadrilha. Talvez seja mesmo um dado
cultural que faz parte da nossa triste realidade. Tem quadrilha da Assembleia
Legislativa do Estado, tem quadrilha da Câmara de Vereadores, tem quadrilha do
Detran, tem quadrilha em tudo que é repartição pública. Por que não ter
quadrilha nas escolas também? Difícil
saber qual a mais atuante. Já as comidas típicas servidas nestes ajuntamentos
de gente, geralmente à base de milho, são gororobas intragáveis e “crocantes”
devido ao excesso de poeira onde são servidas. Para que higiene na roça?
E como tem muita gente, e eleitores,
o Poder Público se faz presente e até patrocina muitas destas brincadeiras.
Este ano o Flor do Maracujá, “o maior arraial sem santo” do Norte do
país será realizado em julho em vez de junho e será no Parque dos Tanques, talvez
para homenagear os desabrigados da última enchente histórica do rio Madeira.
Nenhuma novidade se os festejos de São João em Porto Velho fossem realizados
dentro do teatro estadual, assim ele teria alguma serventia. Afinal de contas o
famoso arraial cedeu-lhe desnecessariamente o terreno. Com o aumento da
gasolina, da energia elétrica, dos alimentos e da roubalheira do PT e dos
governantes em geral, o brasileiro precisa de circo para esquecer suas mazelas
e agora sem o futebol as preocupações oficiais aumentam: pode haver uma
revolução de verdade. Ballet, quadrilhas, Boi, futebol, pamonhas e canjicas. É
a cultura “entorpecendo” os incautos.
*É Professor em
Porto Velho.
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