Abolição:
liberdade para o sofrimento
Professor
Nazareno*
Hoje é dia 13 de maio. E os negros atuais no Brasil não têm muita coisa para comemorar nesta data. A Lei Áurea não
significou absolutamente nada para quem viveu toda a vida trabalhando sem
dignidade e esperanças. Último país das Américas a libertar os negros, o Brasil
deu a liberdade aos seus escravos e “se esqueceu” de indenizá-los
corretamente como fizeram muitas outras nações, inclusive os Estados Unidos. Na
maioria desses países, além da liberdade, uma boa quantia em dinheiro ou um
pedaço de terra era o que cada negro recebia como pagamento por tantos anos de
exploração. Era pouco, mas dava para começar e tocar a vida a partir daquele
momento. Inconformada com a abolição dos escravos, a elite branca brasileira “se
vingou” dos negros ao mandá-los solenemente para o olho da rua “com uma
mão na frente e outra atrás”.
Mas o pior ainda estava por vir: na hora
de contratar os negros como mão de obra assalariada, a elite branca do
centro-sul do país deu preferência aos imigrantes desempregados da Europa e do
Japão e para isso vários navios foram fretados pelos ricos brasileiros com o
objetivo de trazer os novos trabalhadores brancos. “Os negros são
preguiçosos demais” teriam dito alguns latifundiários quando alguém deu a
ideia de contratar os antigos escravos para tocar as lavouras cafeeiras e a
riqueza produzida no país. A elite brasileira sempre foi burra como disse o ex-
presidente Fernando Collor, e se esquecer de que os negros discriminados, analfabetos,
desempregados, escorraçados e violentados estavam morando no meio de todos nós
foi a maior prova desta burrice, além de falta de patriotismo e por que não
dizer de humanidade também.
Como podiam e aos poucos, os nossos
afrodescendentes foram se integrando ao cotidiano do Brasil. Sempre
discriminados e vivendo à margem da sociedade, muitos desejavam voltar à vida
que levavam nas senzalas. “Pelo menos lá se tinha um prato de comida diária,
água fresca para beber e um teto para se abrigar da chuva e do frio”, devia
ser o pensamento de muitos deles. O Brasil é um país racista, sempre foi. Caso
contrário não teria feito isto com quem participou efetivamente da produção de
quase tudo o que havia por aqui. Ainda hoje sentimos as consequências deste
verdadeiro Holocausto que fizeram com os nossos antepassados de cor. E essa
história de que somos uma pátria multirracial é conversa fiada. Na maioria das
vezes essa diversidade racial se deu por meio de estupros que o homem branco
cometeu contra as negras.
Por isso, nesta fatídica data não há
nada para se comemorar por aqui. Os negros foram proibidos de falar os seus
idiomas originais, proibidos de professar a sua religião e em muitos casos
obrigados a “viver a vida dos brancos exploradores e opressores”. Se a
Princesa Isabel tivesse mandado fuzilar todos os negros, talvez tivesse poupado
tanto sofrimento aos mesmos. Vítimas de racismo até hoje, quando conseguem ser
bons jogadores de futebol ou se destacar em outros esportes, são achincalhados
e humilhados mundo afora. Porém, nada justifica tentar consertar um erro
histórico cometendo outros erros no presente. É o caso das cotas raciais e de outros
mimos criados sob medida por governos demagogos para aumentar ainda mais o
preconceito contra esses nossos irmãos. E como o Brasil é um país multirracial,
devemos entender que estamos todos no mesmo barco e nas mesmas águas turvas.
Brancos, negros, imigrantes, latinos, orientais ou índios. Todos brasileiros e
vivendo em função de uma única causa: o Brasil. Sonho?
*É Professor em Porto Velho.
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