Quase
chegava outra ditadura
Professor
Nazareno*
Entre
os anos de 1964 e 1985 o Brasil viveu, até agora, a sua última ditadura. Foram
anos de chumbo com uma ditadura militar cruel, assassina, anticomunista,
violenta e absurda que simplesmente golpeou as nossas instituições democráticas
apenas para satisfazer a ambição de uma elite rica, abjeta e igualmente má, corrupta
e sanguinária. E já são quase 40 anos de regime democrático, o maior período em
que o nosso país não tem “virada de mesa” na política. Ainda
assim, a nossa democracia é muito jovem e por isso mesmo, muito frágil. Nunca
vivemos tanto tempo respirando ares de liberdade, de justiça social e de eleições
livres. Mas no final do ano de 2022, logo após o término do segundo turno das
eleições presidenciais, o então presidente Jair Bolsonaro e um grupo de
militares tentaram, segundo relatos da Polícia Federal, mergulhar o país na
escuridão.
Segundo
esses mesmos relatos, Bolsonaro e a sua turma de aloprados golpistas tramaram a
morte do presidente recém-eleito Luiz Inácio Lula da Silva, do vice presidente
Geraldo Alckmin e do então presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes. A
partir daí, uma junta militar assumiria o comando da nação e então se consumava
mais um golpe do estado no Brasil. Fala-se nas entrelinhas que a ditadura
implantada por eles seria muito pior do que a que os militares, apoiados pela
elite civil, instalaram na década de 1960. Mortes, exílios, perseguições,
prisões, centros de tortura a oposicionistas (DOI-CODI), censura à mídia e
outras ações do gênero não estavam descartadas com o novo governo. Os golpistas
tinham como certo o apoio de pelo menos metade da população do país. Talvez
aqueles “patriotários” que tomaram a frente dos quartéis
logo depois das eleições.
Contavam
também com o apoio quase irrestrito do aparato das polícias militares
espalhadas pelas 27 unidades da federação e também com a adesão de muitos militares
de mentalidade golpista, de policiais civis fiéis ao regime bolsonarista e de vários
políticos oportunistas. Mas burros que são, não perceberam que a atual
conjuntura política internacional era totalmente diferente daquela dos anos
1960, que vivia a dicotomia da Guerra Fria, com o capitalismo versus comunismo.
O mundo hoje respira democracia como forma de governo a ser implantada e
seguida pela maioria dos países civilizados. O golpe, se tivesse mesmo sido
consumado não seria reconhecido nem pelos vizinhos sul-americanos. O Brasil
sofreria retaliações da União Europeia, Mercosul, OEA, da própria ONU, além de
muitos outros organismos internacionais. Todos ficaríamos isolados e sós.
As
autoridades judiciárias brasileiras não podem fazer vistas grossas a essa
tentativa de golpe de estado. Todos os participantes têm que ser punidos na
forma da lei. Cadeia para todos eles. É o mínimo que se espera. Jair Bolsonaro
e seus generais golpistas devem ir para o xilindró após o processo legal e
todos eles sem direito à anistia. O próprio Código Penal do Brasil prevê
punição mesmo que o crime não tenha sido consumado. É uma vergonha que em pleno
século XXI tenhamos ainda que passar, de novo, por esta situação vexatória.
Ainda bem que muitos expoentes da extrema-direita brasileira são estúpidos e
com pouca leitura de mundo. Caso contrário, estaríamos hoje “correndo atrás
do prejuízo” e lambendo as feridas. E será que não haveria nenhuma reação
da esquerda nacional e dos grupos que ainda defendem a frágil democracia no
país? Conquistamos a liberdade há pouco tempo e a muito custo. Devemos ter nojo
de qualquer ditadura. E ódio!
*Foi Professor em Porto
Velho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário