terça-feira, 26 de novembro de 2024

Quase chegava outra ditadura

Quase chegava outra ditadura

 

Professor Nazareno*

 

            Entre os anos de 1964 e 1985 o Brasil viveu, até agora, a sua última ditadura. Foram anos de chumbo com uma ditadura militar cruel, assassina, anticomunista, violenta e absurda que simplesmente golpeou as nossas instituições democráticas apenas para satisfazer a ambição de uma elite rica, abjeta e igualmente má, corrupta e sanguinária. E já são quase 40 anos de regime democrático, o maior período em que o nosso país não tem “virada de mesa” na política. Ainda assim, a nossa democracia é muito jovem e por isso mesmo, muito frágil. Nunca vivemos tanto tempo respirando ares de liberdade, de justiça social e de eleições livres. Mas no final do ano de 2022, logo após o término do segundo turno das eleições presidenciais, o então presidente Jair Bolsonaro e um grupo de militares tentaram, segundo relatos da Polícia Federal, mergulhar o país na escuridão.

            Segundo esses mesmos relatos, Bolsonaro e a sua turma de aloprados golpistas tramaram a morte do presidente recém-eleito Luiz Inácio Lula da Silva, do vice presidente Geraldo Alckmin e do então presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes. A partir daí, uma junta militar assumiria o comando da nação e então se consumava mais um golpe do Estado no Brasil. Fala-se nas entrelinhas que a ditadura implantada por eles seria muito pior do que a que os militares, apoiados pela elite civil, instalaram na década de 1960. Mortes, exílios, perseguições, prisões, centros de tortura a oposicionistas (DOI-CODI), censura à mídia e outras ações do gênero não estavam descartadas com o novo governo. Os golpistas tinham como certo o apoio de pelo menos metade da população do país. Talvez aqueles “patriotários” que tomaram a frente dos quartéis logo depois das eleições.

            Contavam também com o apoio quase irrestrito do aparato das polícias militares espalhadas pelas 27 unidades da federação e também com a adesão de muitos militares de mentalidade golpista, de policiais civis fiéis ao regime bolsonarista e de vários políticos oportunistas. Mas burros que são, não perceberam que a atual conjuntura política internacional era totalmente diferente daquela dos anos 1960, que vivia a dicotomia da Guerra Fria, com o capitalismo versus comunismo. O mundo hoje respira democracia como forma de governo a ser implantada e seguida pela maioria dos países civilizados. O golpe, se tivesse mesmo sido consumado não seria reconhecido nem pelos vizinhos sul-americanos. O Brasil sofreria retaliações da União Europeia, Mercosul, OEA, da própria ONU, além de muitos outros organismos internacionais. Todos ficaríamos isolados e sós.

            As autoridades judiciárias brasileiras não podem fazer vistas grossas a essa tentativa de golpe de Estado. Todos os participantes têm que ser punidos na forma da lei. Cadeia para todos eles. É o mínimo que se espera. Jair Bolsonaro e seus generais golpistas devem ir para o xilindró após o processo legal e todos eles sem direito à anistia. O próprio Código Penal do Brasil prevê punição mesmo que o crime não tenha sido consumado. É uma vergonha que em pleno século XXI tenhamos ainda que passar, de novo, por esta situação vexatória. Ainda bem que muitos expoentes da extrema-direita brasileira são estúpidos e com pouca leitura de mundo. Caso contrário, estaríamos hoje “correndo atrás do prejuízo” e lambendo as feridas. E será que não haveria nenhuma reação da esquerda nacional e dos grupos que ainda defendem a frágil democracia no país? Conquistamos a liberdade há pouco tempo e a muito custo. Devemos ter nojo de qualquer ditadura. E ódio!

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

A maior favela do Brasil

A maior favela do Brasil

 

Professor Nazareno*

           

            O IBGE publicou uma recente pesquisa e mostrou que as três maiores favelas do Brasil são, pela ordem, a Rocinha no Rio de Janeiro com exatos 72.021 habitantes, em segundo lugar vem a favela Sol Nascente no Distrito Federal com 70.908 habitantes e em terceiro está a favela de Paraisópolis em São Paulo com 58.527 moradores. Pode haver um erro nessa publicação, pois dependendo dos itens avaliados, Porto Velho, a eterna capital de Roraima, com quase 500 mil habitantes, é hoje a maior de todas as favelas do Brasil se forem levados em consideração só três aspectos: percentual de água encanada oferecida à população, acesso à rede de esgotos e de saneamento básico e itens de lazer. Porto Velho, que segundo o próprio IBGE não é uma favela, perde feio para qualquer uma das “comunidades” listadas. Pouca gente aqui sabe: muitos de nós somos favelados!

            Das três favelas apontadas, a Rocinha no Rio de Janeiro é a que apresenta os piores índices de saneamento básico e de água tratada. Mesmo assim, está a anos-luz de distância dos números da “Capital dos Destemidos Pioneiros”. Segundo o Instituto Trata Brasil, Porto Velho tem pouco mais de três por cento de saneamento básico e apenas uns 35 por cento de água encanada. A realidade de saneamento básico das favelas do Rio de Janeiro ultrapassa, e muito, essa condição da “Capital das Sentinelas Avançadas”. E a Rocinha é uma favela, enquanto nós somos “orgulhosamente” uma capital de Estado. Isso sem falar na mobilidade urbana daquele bairro do Rio, próximo ao metrô. Lazer? A Rocinha está bem em frente ao mar, a menos de dois quilômetros da areia da praia de São Conrado. E Ipanema e Copacabana, conhecidas mundialmente, estão logo ali: uns vinte minutos a pé.

Porto Velho, uma capital, não tem sequer mobilidade urbana, não tem praias e muito menos metrô. Já a favela Sol Nascente, no Distrito Federal, tem recebido investimentos em saneamento básico, como a construção de redes de esgoto e água. Lá, foram construídos quase 260 km de rede de esgotos e 177 km de rede de água. O governo do DF investiu mais de 58 milhões de reais nas estruturas de abastecimento e saneamento básico na região. E cerca de 70 mil moradores, ou seja, quase 100 por cento dos moradores dessa favela, já são atendidos. Na terceira maior favela do Brasil, Paraisópolis em São Paulo/Capital, pelo menos 88 por cento das residências têm ligação direta com a rede de esgoto e 99% são abastecidas pela rede de água. Um verdadeiro paraíso se ela for comparada a Porto Velho. Fato: morar em favela, às vezes, é melhor do que numa capital.

Outro dia, durante um debate político, um candidato a prefeito disse que Porto Velho se parecia com uma imensa favela. Ele quase apanhou das pessoas ali presentes por ter falado essa verdade, que muitos rondonienses nativos e também os “rondonienses de coração” tentam esconder. Outra coisa boa de se morar numa favela é que lá não tem prefeito nem vereadores. Pode-se até falar na violência que existe nas favelas. Bobagem, tolice. Acredita-se que pelo menos 98 por cento das famílias que ali residem são pessoas boas, honestas, de bom caráter e de boa índole. São gente que trabalha para ter o seu sustento diário. A violência está em toda parte. Ladrões? Ora, na política talvez tenha até mais gente desonesta do que nas favelas. Há atualmente uma propaganda na mídia local dizendo que Porto Velho, em 2024, subiu de nível. Pura mentira, hipocrisia, fake news. Dentre as maiores cem cidades do Brasil, em 2023 éramos a 97ª e hoje somos a 100ª pior.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Calçada sem criatividade

Calçada sem criatividade

 

Professor Nazareno*

 

            Porto Velho não tem absolutamente nada que sirva de entretenimento para os seus infelizes moradores. Poucas praças, raríssimos recantos de lazer, praticamente nenhuma área verde, não tem jardim zoológico e não tem também parques temáticos. A sisuda cidade tem apenas uma ou duas pistas para caminhadas. E só. Mas neste ano de 2024 foi criada uma “calçada criativa” lá pelo centro, próxima às Três Caixas d’Água. É numa rua que também tem o nome Santos Dumont. Só que essa rua é bem diferente da outra lá da zona norte: não é torta, é bem pequena e não tem trânsito. Sem nenhuma aparente criatividade, essa bisonha e feia calçada já foi devidamente “saqueada” por vândalos. Roubaram um dos bancos que havia ali. Nada de anormal, pois fizeram com ela o mesmo que já tinham feito com os trilhos da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré: roubaram tudo.

            É esquisito, pois aqui em Porto Velho se rouba até casca de ferida. Para que diabos vai servir um trambolho daqueles a não ser para trocá-lo por umas pedras de crack? E como em pleno centro da capital conseguiram arrancá-lo e carregá-lo sem que ninguém tivesse visto? Devem ter usado as mesmas técnicas de quem roubou os trilhos da velha ferrovia para usá-los como segurança na frente de suas casas. Outro dia lembrei os vasos de flores que a primeira-dama da capital havia colocado na Avenida Sete de Setembro. Levaram os vasos, as flores e até a terra. A única coisa que não quiseram levar é o lixo que campeia no meio das ruas. Não há uma única rua de Porto Velho que não seja tomada por garrafas pet, plásticos, papéis, copos descartáveis e outras imundícies. Basta ver o que acontece todos os anos, quando a Banda do Vai Quem Quer desfila pelas ruas da cidade.

            Óbvio que quem criou essa “calçada criativa” não foi um Jaime Lerner ou um Pereira Passos. Devem ter usado a mesma lógica que privatizou a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, um patrimônio que era de todo rondoniense. Transformar Porto Velho numa cidade limpa, organizada, aconchegante e minimamente habitável é uma tarefa quase impossível. Com mais de 110 anos de existência, até hoje nenhum dos mais de 52 prefeitos e administradores conseguiu. Somos a pior em IDH dentre todas as 27 capitais do Brasil. Temos o pior ar para se respirar em todo o país, além do pior hospital público. Por isso que se diz que Porto Velho não é para amadores. O futuro prefeito Leonardo Barreto que se cuide. E eu já disse: ele pegou um dos piores abacaxis de sua vida. Tomara que ele e seus assessores tenham a consciência do “rabo de foguete” em que se meteram.

            Existem no mundo inteiro cidades inteligentes, mas Porto Velho infelizmente é uma cidade burra. Muito burra mesmo. Assim como boa parte de seus habitantes, que jogam lixo no meio das ruas, roubam bancos de praça e até os trilhos de ferrovia histórica. Pelo menos 135 mil eleitores porto-velhenses estão esperançosos de que as coisas possam começar a mudar por aqui. E a solução, ou parte dela, pode estar nas mãos do futuro prefeito e dos 23 vereadores recém-eleitos. Só que Porto Velho limpa é também uma questão de educação e de consciência urbana e ambiental. É também a população que deve contribuir para as mudanças tão urgentes e necessárias. Já pensou se o futuro prefeito, em fevereiro próximo, mandar espalhar caçambas para recolher todo o lixo produzido pela famosa banda de carnaval? Disseram que essa tal “calçada criativa” estaria ligada ao lazer, arte, cultura e até à música. Os vândalos não viram nada disso ali.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

domingo, 10 de novembro de 2024

Leonardo Barreto vai acertar?

Leonardo Barreto vai acertar?

 

Professor Nazareno*

 

            Com mais de 135 mil votos, o eleitor de Porto Velho, a eterna capital de Roraima, elegeu em 2024 o senhor Leonardo Barreto de Moraes, ou simplesmente Léo Moraes, para administrar a cidade. Essa eleição, com uma virada de votos pouco esperada nos meios políticos, quebrou vários tabus na maltratada cidade. O primeiro deles diz respeito à atual administração do lugar. Antes do pleito, falava-se que Hildon Chaves, que apoiou publicamente a candidata derrotada Mariana Carvalho, tinha mais de 80 por cento de aprovação popular. Era tudo mentira, conversa para boi dormir, fofoca para conseguir turbinar qualquer candidatura. Se o atual prefeito tinha mesmo toda essa aprovação popular, era de se esperar que a sua candidata tivesse sido eleita já no primeiro turno. Dessa forma, o cidadão porto-velhense disse que não aprova os atuais gestores da cidade.

            E é justamente aí onde mora o perigo. A mesma falta de esgoto, de água tratada, de saneamento básico e de muitos outros problemas locais, que podem ter turbinado a vitória de Leonardo Barreto e a derrota de Hildon Chaves via Mariana Carvalho, podem ser o “calcanhar de Aquiles” da nova administração. Léo Moraes e os 23 vereadores recém-eleitos têm competência para sanar pelo menos parte desses problemas? Se cidade tivesse sexo, como diz o jornalista Josias de Souza, Porto Velho seria uma mulher. Mas não qualquer mulher. Seria uma daquelas prostitutas vadia, debochada, tola, pobre, velha e explorada eternamente pelos seus cuidadores. Muito provavelmente daquelas raparigas que pagam até o preservativo só para ter o prazer de ser estuprada. Léo tem que correr atrás de praças floridas, mobilidade urbana, hospital de pronto-socorro, remédios, escolas.

            Porto Velho precisa urgentemente de mais água encanada para a população. Os inúmeros poços cavados ao lado de fossas imundas e rasas precisam ser fechados em nome da saúde pública. O poder público municipal tem que proporcionar essa necessidade para os seus cidadãos. Não se pode mais beber “água de bosta” numa capital. Porto Velho precisa de mais saneamento básico e de mais esgotos. Somos hoje no Brasil o último lugar dentre as cidades com mais de 100 mil habitantes segundo o Instituto Trata Brasil. Perdemos até para Rio Branco, Ananindeua no Pará e Macapá. A cidade toda fede, senhor futuro prefeito! E muito. A água onde o senhor gravou aquele vídeo depois da chuva de 26 de outubro à noite estava contaminada. Foz do Iguaçu no Paraná, cidade onde o senhor nasceu, é Primeiro Mundo se for comparada com a suja, imunda e fedorenta Porto Velho.

            Tomara que o senhor acerte. A “velha puta abandonada” não aguenta mais. Merece coisa melhor. Feche aquelas valas abertas, fedidas e podres da Avenida Jorge Teixeira, por exemplo. Nada de fazer só o asfalto puro sem saneamento nem galerias para escoamento das águas pluviais. Na atual administração essa velha tática “para ganhar votos” não deu certo. O povão percebeu o engodo. Procure arborizar mais a cidade em vez de arrancar as poucas árvores existentes como aquelas da Avenida Tiradentes no bairro Embratel. Tente se reunir com os vereadores e os convença a ajudar o senhor a fazer uma boa gestão nessa cidade. Todos ganham se os eleitos agirem em nome de Porto Velho e esquecerem um pouco as suas ambições pessoais. Em março ou abril próximos se reúna com autoridades do Estado e das instituições federais para tratar sobre a fumaça tóxica que certamente nos incomodará de novo. É muita coisa, mas o senhor vai dar conta!

 

 

              *Foi Professor em Porto Velho.              


 

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Jair Bolsonaro é eleito nos EUA

Jair Bolsonaro é eleito nos EUA

 

Professor Nazareno*

 

            Poucas pessoas esperavam esse resultado nas recentes eleições dos Estados Unidos, mas Jair Messias Bolsonaro ganhou com folga de Kamala Harris e será o 47º Presidente dos Estados Unidos. Isso depois de perder a reeleição para Joe Biden após o seu primeiro mandato entre 2017 e 2021. Bem diferente do Brasil, onde o STF conseguiu com muita rapidez votar pela inelegibilidade do ex-presidente, nos EUA a Suprema Corte deixou as coisas “correrem solta” e não quis julgar adequadamente o Bolsonaro pelos inúmeros crimes que o mesmo cometeu enquanto frequentava a Casa Branca como no dia 6 de janeiro de 2021, quando uma multidão enfurecida invadiu o Capitólio norte-americano, o Congresso Nacional de lá, para impedir a diplomação de Joe Biden, o vencedor das eleições presidenciais do ano anterior. Pelo menos cinco pessoas morreram.

            Bolsonaro queria vencer também aquelas eleições, mas na marra, de qualquer jeito. Por isso, não mediu esforços para ameaçar publicamente a democracia americana. Já no Brasil, o nosso seis de janeiro também aconteceu: foi na verdade no dia oito de janeiro, só que de 2023. Aqui, uma multidão enfurecida não reconheceu a vitória do presidente Lula e, de supetão, tomou as frentes de quase todos os quartéis do país exigindo um golpe militar. Tudo culminou na tomada de Brasília com depredações e saques das principais instituições da República como o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. Acampados em frente às unidades militares, os golpistas, talvez influenciados pelo presidente derrotado, queriam absurdamente a deposição do presidente eleito e a consequente anulação das eleições, mas somente no segundo turno.

            O Supremo Tribunal Federal do Brasil, liderado pelo ministro Alexandre de Moraes, bem diferente da Suprema Corte dos Estados Unidos, tomou as rédeas da situação e determinou o fim imediato dos acampamentos na frente dos quartéis e mandou prender vários daqueles arruaceiros golpistas. Muitos já foram condenados e estão hoje cumprindo pena de até 17 anos de cadeia. E o ex-presidente daqui pode ser preso a qualquer momento. Não só por ter incentivado claramente o nosso oito de janeiro, mas principalmente por estar sendo responsabilizado também por vários outros crimes, dentre eles o negacionismo e as dificuldades que impôs para a compra de vacinas durante a pandemia de Covid-19. Com isso, várias dezenas de milhares de brasileiros morreram vitimados pela doença. Hoje ele não pode nem deixar o país. Está com o passaporte retido.

            Tanto o atual presidente eleito dos Estados Unidos quanto o ex-presidente do Brasil são da extrema-direita reacionária e jamais tiveram “papas na língua”. Ambos com tendências políticas favoráveis ao fascismo, ao ódio e ao autoritarismo, governaram sempre para os mais ricos e os mais abastados. Porém, como “os países não têm amigos nem inimigos, apenas interesses” o Brasil não pode e nem deve se meter nos assuntos internos da Casa Branca. Está mais do que óbvio que com Jair Bolsonaro sendo de novo presidente dos Estados Unidos, a situação dos imigrantes, que já era ruim, vai piorar ainda mais. E pode ser ruim também para o Brasil, já que o nosso presidente torcia publicamente pela Kamala Harris. Só que tanto faz um quanto a outra. Mas o Lula que se cuide: governando com toda essa moleza, como por exemplo, durante as queimadas no último verão, vai perder as próximas eleições daqui para o substituto de Donald Trump em 2026.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

 

domingo, 3 de novembro de 2024

Por que Mariana perdeu?

Por que Mariana perdeu?

 

Professor Nazareno*

 

A derrota de Mariana Carvalho nas eleições de 2024 para prefeita de Porto Velho foi uma das maiores surpresas no país inteiro. Vencedora com folga do primeiro turno com quase 50% dos votos válidos, a candidata do União Brasil era apontada por todos como a favorita, mas não conseguiu sequer fazer o mesmo número de votos no segundo turno. E por quê? Quais foram as reais causas que explicam essa inesperada derrota nas urnas da candidata da elite e das “dinastias” financeiras e políticas locais? Mariana é jovem, bonita, muito simpática, inteligente, tem caráter, tem liderança política e acima de tudo tem carisma. Muito carisma mesmo, principalmente em Porto Velho. Fala-se que se ela não tivesse feito tantas coligações, teria sido eleita com sobras. De um modo geral, os eleitores porto-velhenses encontraram no candidato Léo Moraes uma forma de se vingar.

Mas com o que precisamente esses eleitores estavam chateados? Ora, há vários anos que a mídia nacional e até a internacional apontam Porto Velho como a pior capital do Brasil para se viver. Aqui não existe IDH, não existe rede de saneamento básico, não há água tratada para a população, faltam medicamentos nos postos de saúde, não existe um hospital de pronto-socorro na capital e a mobilidade urbana é tão deficitária que perde até para aquelas cidades miseráveis da África subsaariana. E o atual prefeito, o Dr. Hildon Chaves, há oito anos no poder, foi um dos apoiadores de Mariana Carvalho. O prefeito pouco ou nada fez pela cidade. Um só centímetro de rede de esgotos não foi feito neste tempo todo em que ele administra Porto Velho. E a Mariana, coitada, dizia, que com ela essa administração ia continuar para o bem daqui. Ninguém quer lixo, carniça, alagações.

O governador de Rondônia, coronel Marcos Rocha, também deu apoio irrestrito à Mariana. Claro que a população daqui gostaria de ter um bom hospital de pronto-socorro, mas tem só o “açougue” João Paulo Segundo. Rocha prometeu no início de sua gestão fazer um pronto-socorro inédito: era o “Built to Suit”, que até hoje praticamente nem saiu do papel. O governador dizia alegre e feliz, durante a campanha, que estava apoiando Mariana. Por isso o discurso dela era quase de subserviência a Hildon Chaves e ao govenador Marcos Rocha. O eleitor, que não é tolo, deu-lhes o troco nas urnas. Além do mais, Mariana fez fotos e confraternizou desnecessariamente com Jair Bolsonaro, com a Michele e com a senadora “goiabeira” Damares Alves. Como ficaram os quase 93 mil eleitores petistas de Porto Velho ao perceber várias fotos de Mariana com toda essa gente?

Mariana não tinha muita firmeza na fala. Falava manso como se estivesse o tempo todo obedecendo a alguém. Deixou quase sem reação e sem retrucar que outra candidata, a ex-juíza Euma Tourinho, a chamasse pejorativamente de “patricinha” e de “a candidata das elites e dos poderosos”. Tudo isso repercutiu mal entre os eleitores mais exigentes. Ela também abriu mão de participar de alguns debates na televisão. Pouca gente gostou dessa postura “sem nenhuma explicação convincente” dela. Como eleger uma prefeita que já tem os 23 vereadores a seu favor? Será que já não estava “tudo acertado” antes com estes edis? Mas mesmo derrotada dessa vez, Mariana acertou em cheio ao dizer que vai ser oposição a Léo Moraes e vai também fiscalizar sua administração. Não votei em nenhum dos dois, mas vou fazer também como ela, a Mariana: assim que o Léo Moraes assumir, o Professor Nazareno, lhe fará oposição. Elogio se acertar e o criticarei se errar.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.