domingo, 25 de setembro de 2022

Uma Esquerda de Direita

Uma Esquerda de Direita

 

Professor Nazareno*

 

            O dia das eleições se aproxima em Bananolândia. O frenesi é total entre os tolos e despolitizados moradores do país espalhados por todas as suas províncias. Muitos creem cegamente na piada de que vai ganhar aquele candidato que mais se dispôs a ajudar os pobres e miseráveis daquela nação sem eira nem beira. Cada grupo de eleitores está convicto de que se ganhar, o seu candidato vai fazer jorrar mel e leite das ruas e que o seu escolhido, seja da Esquerda ou da Direita, é a pessoa certa para trazer felicidade e alegria para os sofridos habitantes. Ninguém percebeu que todas as futuras autoridades estão a serviço de um mesmo senhor do mal e que os ultrapassados conceitos oriundos ainda da Revolução Francesa pouco ou nada influenciarão em suas controladas decisões políticas.

            Na atrasada província de Cu-do-Mundo, por exemplo, quase cem por cento dos candidatos são da Direita, mas estranhamente muitos deles se apresentaram nestas eleições como se fossem da Esquerda. Ricos, abastados e representantes do capital e do agronegócio em sua maioria, usam bordões progressistas para iludir os eleitores mais indecisos. Porém, terminadas as eleições, os “vencedores daqui” logo aderem aos “vencedores de lá” e dessa forma todos continuam alegremente a governar o espoliado povo para tirar-lhe o máximo possível dos poucos recursos que ainda lhe restam. Pior: todos os gargalos continuam a existir normalmente em toda a sociedade. Sabe-se que na capital de Cu-do-Mundo não existe uma boa rodoviária, redes de esgotos ou um hospital de pronto-socorro decente, mas todos fazem vistas grossas e urram de satisfação ao votar.

            Já se falou até que tanto em Bananolândia quanto em Cu-do-Mundo não existem políticos de Esquerda nem de Direita. O que existe na verdade tanto aqui quanto lá “é um bando de salafrários, ladrões e canalhas que se juntam em épocas de eleições para dilapidar o Erário”. A verdade é que sem eleições, os preços disparam nos supermercados e principalmente nos postos de gasolina. Chegada a época de se pedir votos, nem se ouve mais falar em inflação, falta de atendimentos em hospitais públicos ou outros problemas tão comuns. O desemprego diminui com a contratação de “formiguinhas para balançar paus” nas esquinas. E dinheiro tirado do próprio povo é distribuído sem critérios a esse mesmo povo como esmolas ou migalhas e que geralmente serve para turbinar algumas candidaturas. A cegueira política condena Bananolândia a ser uma eterna filial do inferno.

            Discute-se muito nestas eleições se a população quer continuar adorando o fascismo e o deboche verificados nos últimos 4 anos ou se vai optar em permanecer a ser roubada como sempre foi. Sem investimentos em infraestruturas, sem uma educação de qualidade e com uma desigualdade social monstruosa, os muitos candidatos ladrões e desonestos fazem a festa e o sofrimento certamente vai continuar até novas promessas em eleições futuras. Não há saídas possíveis por enquanto. O Establishment está lançado já há muito tempo e pouca coisa vai poder mudá-lo. O povo é massa de manobra e os poderosos continuam ampliando os seus podres poderes. Diante da fome, da miséria e de tantas necessidades, Direita e Esquerda sempre se revezam no poder para manter o “status quo”. Bananolândia, Cu-do-Mundo e as outras províncias terão sempre que “pagar o pato”. Esquerda de Direita ou Direita de Esquerda. E nada mudará no próximo domingo.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

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