Uma
Esquerda de Direita
Professor
Nazareno*
O
dia das eleições se aproxima em Bananolândia. O frenesi é total entre os tolos
e despolitizados moradores do país espalhados por todas as suas províncias. Muitos
creem cegamente na piada de que vai ganhar aquele candidato que mais se dispôs
a ajudar os pobres e miseráveis daquela nação sem eira nem beira. Cada grupo de
eleitores está convicto de que se ganhar, o seu candidato vai fazer jorrar mel
e leite das ruas e que o seu escolhido, seja da Esquerda ou da Direita, é a
pessoa certa para trazer felicidade e alegria para os sofridos habitantes.
Ninguém percebeu que todas as futuras autoridades estão a serviço de um mesmo
senhor do mal e que os ultrapassados conceitos oriundos ainda da Revolução
Francesa pouco ou nada influenciarão em suas controladas decisões políticas.
Na
atrasada província de Cu-do-Mundo, por exemplo, quase cem por cento dos
candidatos são da Direita, mas estranhamente muitos deles se apresentaram
nestas eleições como se fossem da Esquerda. Ricos, abastados e representantes
do capital e do agronegócio em sua maioria, usam bordões progressistas para
iludir os eleitores mais indecisos. Porém, terminadas as eleições, os “vencedores
daqui” logo aderem aos “vencedores de lá” e dessa forma todos
continuam alegremente a governar o espoliado povo para tirar-lhe o máximo
possível dos poucos recursos que ainda lhe restam. Pior: todos os gargalos
continuam a existir normalmente em toda a sociedade. Sabe-se que na capital de
Cu-do-Mundo não existe uma boa rodoviária, redes de esgotos ou um hospital de
pronto-socorro decente, mas todos fazem vistas grossas e urram de satisfação ao
votar.
Já
se falou até que tanto em Bananolândia quanto em Cu-do-Mundo não existem
políticos de Esquerda nem de Direita. O que existe na verdade tanto aqui quanto
lá “é um bando de salafrários, ladrões e canalhas que se juntam em épocas de
eleições para dilapidar o Erário”. A verdade é que sem eleições, os preços
disparam nos supermercados e principalmente nos postos de gasolina. Chegada a
época de se pedir votos, nem se ouve mais falar em inflação, falta de
atendimentos em hospitais públicos ou outros problemas tão comuns. O desemprego
diminui com a contratação de “formiguinhas para balançar paus” nas
esquinas. E dinheiro tirado do próprio povo é distribuído sem critérios a esse
mesmo povo como esmolas ou migalhas e que geralmente serve para turbinar
algumas candidaturas. A cegueira política condena Bananolândia a ser uma eterna
filial do inferno.
Discute-se
muito nestas eleições se a população quer continuar adorando o fascismo e o
deboche verificados nos últimos 4 anos ou se vai optar em permanecer a ser
roubada como sempre foi. Sem investimentos em infraestruturas, sem uma educação
de qualidade e com uma desigualdade social monstruosa, os muitos candidatos
ladrões e desonestos fazem a festa e o sofrimento certamente vai continuar até
novas promessas em eleições futuras. Não há saídas possíveis por enquanto. O
Establishment está lançado já há muito tempo e pouca coisa vai poder mudá-lo. O
povo é massa de manobra e os poderosos continuam ampliando os seus podres
poderes. Diante da fome, da miséria e de tantas necessidades, Direita e
Esquerda sempre se revezam no poder para manter o “status quo”. Bananolândia,
Cu-do-Mundo e as outras províncias terão sempre que “pagar o pato”.
Esquerda de Direita ou Direita de Esquerda. E nada mudará no próximo domingo.
*Foi Professor em Porto
Velho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário