Nossa bandeira
será vermelha!
Professor
Nazareno*
Com a possível e
esperada vitória de Lula, do PT e das esquerdas em geral nestas próximas
eleições, muitas coisas deveriam mudar no Brasil. Se eu pudesse ser eleito
presidente do país, nos próximos quatro anos trocaria uma série de símbolos,
protocolos, convenções e outras tolices imprestáveis que adornam não só a
presidência da República, mas também o tolo ideário de muita gente que ainda acredita
nestas bizarrices. Começaria mudando a cor da nossa bandeira. Além de ser muito
feia, disforme e desengonçada, nossa flâmula mudaria de aspecto. Verde e
amarelo, convenhamos, não tem mais sentido. A destruição da Amazônia e de todas
as nossas florestas e matas para dar lugar ao agronegócio fez extinguir o verde
enquanto o garimpo ilegal, desde os tempos da colônia, não pode mais ser
representado por aquele amarelo insosso. E esse ouro nunca foi nosso.
O azul e o branco também não fazem
mais sentido. É uma mentira dizer que representam o céu e a paz
respectivamente. Com a poluição e os incêndios florestais, o céu do Brasil hoje
por quase todo o país é cinza-chumbo e empesteado de fumaça e poluição. No
verão, o Cerrado, a Amazônia, a Mata Atlântica e também todos os outros biomas,
são incendiados criminosamente para dar lugar às plantações do agronegócio. E é
risível dizer que há desejo de paz num país onde quase 60 mil pessoas são
assassinadas todos os anos vítimas da violência social, que parece nunca ter
fim. A frase “ordem e progresso” é
uma estupidez sem limites. Nunca houve ordem neste país. É tudo uma bagunça sem
fim. O Brasil não pode cultuar nenhuma espécie de ordem. Nossa sociedade, com
suas instituições falidas, é um “cu de
mãe Joana” sem eira nem beira. E sempre foi.
Além das cores preta e vermelha,
para simbolizar o luto e o eterno desejo de melhorias, deveria também ser
trocada a frase central para “aos trancos
e barrancos”. Seria muito mais coerente e representaria de forma correta a
luta desse povo sofredor para conseguir colocar todo dia e de qualquer jeito comida
na mesa. Com mais de 30 milhões de pessoas passando fome num país que é um dos
maiores produtores de alimentos do mundo, essas cores na bandeira nacional
representariam também a vergonha perante o mundo civilizado. Verde de esperança
e amarelo de riqueza nada têm a ver com a nossa tosca realidade, um país de
miseráveis, pobres e famintos. A vitória de Lula pode até trazer alguma
esperança de mudanças, mas romper com a síndrome da Casa Grande & Senzala é
muito difícil quando todos já se venderam ao Centrão, que representa o capital.
Vencendo o pleito, o “Sapo Barbudo” e a sua trupe poderiam
empreender outras mudanças significativas para todo o país. Acabaria, por
exemplo, com esse negócio de orçamento secreto e também com o estranho sigilo
de 100 anos. Extinguiria, com apoio do Legislativo, a reeleição para qualquer
cargo do Executivo. Assim, ninguém usaria datas cívicas nem funerais de chefes
de Estado estrangeiros para fazer política ou palanque eleitoral. Isso sem
falar no poder que a caneta tem na mão de um governante de plantão. Em ano
eleitoral é aquela farra de baixar o preço de tudo como acontece hoje com a
gasolina. Resta saber de onde sairá o dinheiro do ICMS dos Estados depois das
eleições. Será que a elite do país está dando os anéis agora para não perder os
dedos depois? Com Lula a nossa bandeira será vermelha como é a bandeira dos
principais países do mundo. Seremos uma nação socialista, mas com eleições
democráticas. Custa sonhar?
*Foi
Professor em Porto Velho.
Um comentário:
Bom ler seus textos novamente, professor!
Fui seu aluno no João Bento e influenciado pelos seus pensamentos de visão de mundo.
Influência à parte, óbvio que não há consenso sobre todas as ideias e em todas as ideias. Entretanto, sigo admirando a forma provocativa como o senhor argumenta, em defesa dos pontos de vista. No mínimo, o leitor é induzido à reflexão.
Um abraço!
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