“Rondonha” quer ser famosa
Professor Nazareno*
O inóspito, atrasado, paupérrimo e distante Estado de Rondônia sempre lutou desesperadamente para ter alguma fama dentro da já cruel e ridícula realidade nacional. Nunca conseguiu sequer uma única manchete que o projetasse de forma positiva para fora de suas divisas. Daqui, as notícias sempre foram as mais desastradas e negativas possíveis. Parece ser um lugar amaldiçoado onde nada deu certo até hoje. Sem nenhuma importância no restante do país, lá sempre é confundida com Roraima, outro rincão do Norte também sem nenhum futuro. Acredita-se que jamais tenha sido governada por um legítimo filho da terra. Sua imunda e suja capital é a pior em qualidade de vida dentre as 27 capitais do país. Não tem rede de esgotos, não tem água tratada, não tem saneamento básico, lazer e nem árvores. As poucas que tinha, estão hoje sendo arrancadas pela raiz.
Com pouquíssimo verde em seu meio urbano, a prefeitura e uma secretaria que devia cuidar do meio ambiente da cidade estão promovendo uma das maiores políticas de desmatamento de que se tem notícia. Com pouco mais de cem anos, o município de Porto Velho jamais fora administrado por um de seus filhos. Os forâneos sempre “deram as cartas” por aqui. Parece que os eleitores locais não confiam nos seus próprios conterrâneos para gerir os destinos de sua podre e insalubre capital. Se Porto Velho nunca teve uma figura de renome que lhe administrasse, o mesmo acontece com o Estado. Por isso, o “rondoniense” mais aclamado por estas bandas é um gaúcho. Jorge Teixeira de Oliveira só não nomeia a tosca unidade da Federação porque este privilégio maior fora dado a um marechal mato-grossense que de início nem queria a homenagem.
Esse “projeto” de Estado nem futebol tem para ser famoso. Seus poucos times estão por piedade nas últimas divisões do futebol nacional. Algumas pessoas nascidas aqui, e que conseguiram alguma fama mundo afora, dão a entender que até escondem a sua origem rondoniense. Carlos Ghosn, megaempresário que fez fama na França e posteriormente no Japão e que hoje está “escondido” no Líbano, país que também lhe deu cidadania, teria nascido em Guajará-Mirim. Porém a sua fama não é das melhores. Fugiu espetacularmente de prisões japonesas e hoje se encontra como refugiado no país do Oriente Médio. Se disser que é rondoniense, o mundo inteiro vai lhe castigar. Múcio Athayde, o “homem do chapéu”, não é rondoniense, mas foi um dos deputados mais votados nestes rincões. Teria comprado votos de todos e deu uma banana para o Estado.
A aposta dos rondonienses para que “Rondonha” agora tenha fama é o senador mineiro Rodrigo Otávio Soares Pacheco. Esse cidadão, que ninguém daqui nunca o viu mais gordo, é senador bolsonarista por Minas Gerais e foi eleito presidente do Senado. Teria, talvez para a sua infelicidade, nascido em Porto Velho, mas ainda muito pequeno foi para a cidade de Passos em Minas Gerais e por lá se elegeu. Será que algum dia ele vai dizer que nasceu em Porto Velho, Roraima? Ou vai fazer igual ao diplomata Maurício Bustani? Podem até ter nascido por aqui, mas raramente pronunciam o nome de Porto Velho ou o de Rondônia. Nem em suas biografias nem em suas entrevistas. A banda Versalle, que há pouco tempo foi festejada como um sucesso do Brasil vindo de Rondônia, nunca mais lançou uma música sequer. “Rondonha” não tem fama para nada mesmo. Até a banda de Carnaval, a que suja as ruas, não desfilará este ano. E é famosa!
*Foi Professor em Porto Velho.
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