Rondônia,
turismo brega
Professor
Nazareno*
Em Rondônia praticamente
não existe turismo. E é até compreensível, pois em todo o Estado, não há nada
que chame a atenção de quem quer que seja. As poucas belezas naturais que havia
como a floresta amazônica, o rio Madeira e as cachoeiras de Santo Antônio e de
Samuel foram dizimadas sem piedade pelo “progresso”
instalado na região. A hidrelétrica de Santo Antônio, por exemplo, situada a
poucos quilômetros da capital, aniquilou o que restava das duas "corredeiras" citadas. E como se não bastasse, o processo de destruição da flora e da fauna
local continua a passos largos. Quem em sã consciência pagaria para ver
natureza morta e destruição do meio ambiente? A EFMM, considerada por muitos
como a “mãe de Rondônia”, foi
estuprada na enchente de 2014 e pelas sucessivas administrações a que foi
submetida. Nada restou, só ferro velho.
O cemitério de locomotivas é uma
vergonha para Rondônia e para a sua gente. Mas agora, alguns saudosistas tentam
restabelecer desnecessariamente o que nunca foi sucesso, o que nunca prestou, o
que sempre envergonhou a todos. Dizem que a partir de então, o turismo vai
voltar a encantar os rondonienses. Mentira, engodo, conversa fiada. Recuperaram
uma locomotiva feia, ultrapassada, velha e enferrujada, batizaram-na de “litorina” e dizem que a mesma vai fazer
passeios “lúdicos e culturais” com os
turistas. “Me engana que eu gosto”.
Aquilo é uma geringonça desajeitada que pode até transmitir tétano aos
corajosos que conseguirem entrar nela. Isso sem falar que pode dar o prego se
tentarem ligar aquilo por muito tempo. O trambolho inútil deve ter mais de cem
anos e só por um milagre conseguirá andar pouquíssimos quilômetros com gente
dentro dele.
Curitiba tem uma litorina de
verdade. Faz o trajeto entre a capital paranaense e a cidade de Morretes. O
cenário é deslumbrante: a Serra do Mar com vista panorâmica para o pico do
Marumbi. Lá não há a menor possibilidade de o turista pegar malária ou outras
doenças tropicais típicas deste fim de mundo quente e úmido. A empresa
Litorinas Serra Verde Express já oferece trens de luxo para os turistas.
Conforto e acomodação é uma constante lá no Paraná. Também nas principais
cidades da Europa, fazer turismo em modernos trens-bala é uma obrigação.
Confortáveis trens climatizados encantam de tanta limpeza e organização. Em
vários idiomas, inclusive o Português, o turista se delicia com tanto glamour e
encanto. Você pode fazer o passeio tomando uma cerveja deliciosa ou vinho. Aqui
nem cachaça ruim vão servir na “litorina
de araque”.
As pessoas envolvidas nesta tolice
surreal deveriam parar com isto. Porto Velho precisa de um novo hospital de
pronto-socorro, precisa de saneamento básico e de água tratada. Precisa de ruas
mais limpas e asseadas. Calama precisa ter um médico e ninguém luta para isso. Rondônia
precisa de uma universidade estadual. Ninguém está necessitando de coisas que
só servem para nos envergonhar ainda mais. Como dizer para um parente que teve
a coragem de nos visitar que aquilo é o suprassumo do turismo local? Seremos
ridicularizados mais ainda. Chega de ponte escura que não tem serventia para
nada. Chega de “açougue” imundo que
só mata pobre. Chega de rodoviária velha e suja. Chega de porto que nunca
funciona. Porém, se tivesse dinheiro sobrando, que fosse investido no turismo
de verdade com trens novos e asseados, trilhos modernos e infraestrutura adequada,
aí seria o correto. Porto Velho, vergonha nacional.
*É
Professor em Porto Velho.
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