Porto Velho, mal
amada
Professor
Nazareno*
Moro há quase
quarenta anos em Porto Velho, capital de Roraima. E dentre muitas coisas, também
descobri neste tempo que raríssimas pessoas têm amor por esta “currutela fedida”. Pior dentre as
capitais do Brasil para se viver, a cidade sempre viveu o drama de não ter uma
identidade própria como Manaus, Vilhena ou Rio Branco, por exemplo. Curva de
rio e área de garimpo, o lugar abriga uma variedade de pseudoculturas,
culinárias, sotaques e etnias que só contribuíram para descaracterizá-la como uma
verdadeira capital. A azarada cidade nunca teve um de seus filhos para lhe
administrar. Na área cultural, já se tentou de tudo para lhe impor uma
identidade, mas as coisas fracassaram de forma retumbante. Expovel, Flor do
Maracujá, futebol, Carnaval, nada aqui prospera. Agora estão tentando empurrar
o rock como uma marca do lugar.
Um tal de “Festival Boto Rock” é a radícula aposta da vez para se tirar a
cidade do eterno marasmo cultural. Como as outras fracassadas tentativas, esta
também não dará certo. Poucos rondonienses sabem o que é rock e muitos deles o
confundem com toada de boi. E quem sairá de suas confortáveis cidades para vir
a mais este engodo sem sentido? Música por aqui só se for as “baladas de cabaré” e as “músicas de corno”. Até uma banda local que
entoava “Vinte graus e uma coberta”
parece que se esfarelou por falta de outro sucesso “encomendado”. Hoje quase não
se ouve mais falar naqueles “jovens
rondonienses que encantaram o Brasil e o mundo” com a sua linda melodia.
Vir a Porto Velho é uma aventura tresloucada. As raras passagens aéreas são as
mais caras e o lugar nada oferece de atrativo. Estamos muito longe dos
verdadeiros festivais de rock.
Como são incapazes de lutar por
melhorias para a cidade, muitos políticos tentam “encher linguiça” com bizarrices inúteis. Em vez de lutarem para
mandar médicos para os distritos mais distantes como Calama e Demarcação ou
resolver o eterno problema do transporte escolar nas aéreas rurais, muitos dos
vereadores lutam para restabelecer o passeio de “litorina” entre Porto Velho e a hidrelétrica de Santo Antônio. Além
da possibilidade de contrair malária durante o fatídico passeio, nada há para
se apreciar no lúgubre trajeto. Não há a menor emoção de se passear num
arremedo de trem velho, enferrujado e sem higiene. Pelo menos duzentos anos
deve ser a idade do trambolho que levará os “corajosos turistas” para se deliciarem com as destruições
ambientais causadas pela hidrelétrica. E peixe morto pode-se ver no mercado
mesmo.
Até na culinária, Porto Velho é um
desastre só. Não há um único restaurante na cidade que sirva a tradicional
farinha amarela quando o peixe é o prato principal. Peixada de verdade só se
degusta em Manaus ou em outra cidade amazônica. E com direito à farinha amarela
e ao tucupi. Porto Velho não é Amazônia, não é Cerrado. Porto Velho não é nada.
É uma cidade sem identidade, por isso devia ser extinta ou deixar de ser
capital. Bombom de castanha ou de cupuaçu é a única iguaria autóctone que se
vende por aqui. E em quase todos os confeitos, o único sabor que se “percebe” é somente o açúcar. O frio por
aqui também é falso. Quando se anuncia uma friagem, os termômetros mal baixam
dos 26 graus. Algumas pessoas, saudosas de sua terra natal, usam botas longas e
casacos grossos sem se importar com o mau cheiro e o suor. Sem identidade, a
cidade insiste em só eleger forâneos para lhe administrar. Mas até quando?
*É
Professor em Porto Velho.
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