O Brasil após
Sérgio Moro
Professor
Nazareno*
Perguntado recentemente como via a
atuação do juiz Sérgio Moro na condução da Operação Lava Jato, o ex-ministro do
STF Joaquim Barbosa não teve dúvidas: “ele está fazendo o que todo juiz no
Brasil deveria fazer e, lamentavelmente, não faz”. O magistrado paranaense,
para muitos, tem sido impecável no seu trabalho de combater a corrupção e os
desmandos com o dinheiro público. Amado por muitos e endeusado pela mídia é
candidato a herói nacional e, dizem, vai passar o Brasil a limpo. “Nunca, na
história deste país” foi observado um trabalho como o dele e de sua equipe
ao enfrentar os vícios históricos reinantes na nossa política. Foi apontando há
poucos dias pela revista norte-americana Fortune como o 13º homem mais
importante e influente do planeta que pode mudar a história da humanidade.
Ficou à frente até de Bono Vox.
Para outros, claro, o juiz não passa de
um embuste, de uma grande farsa. É tendencioso e provavelmente está a serviço
das forças conservadoras para derrotar o PT e o único governo de esquerda que
este país já teve em seus 516 anos de História. Sérgio Moro não merece,
portanto, a alcunha de “palmatória do mundo”. Errou ao decidir pela
condução coercitiva do ex-presidente Lula quando o líder petista não havia se
recusado a depor. Errou também quando permitiu a divulgação na mídia de
conversas envolvendo a Presidente do país, que tem foro privilegiado. Foi
acusado de querer politizar o Judiciário e de, infantilmente, agradecer de
público as moções de apoio de manifestantes contrários ao atual governo. Entre
erros e acertos, a Lava Jato continua e a tendência é que ainda vai dar muita
dor de cabeça a vários políticos brasileiros.
Mas por que só o juiz Sérgio Moro é que
se destaca no Brasil? Quantos juízes o país tem e já teve em toda a sua longa História?
Por que até agora nenhum nunca se destacou quando o assunto é punir os “tubarões”
que infestam a nossa política? Talvez só o mesmo Joaquim Barbosa tenha se
destacado tanto. Há uma piada muito conhecida afirmando que “no Brasil, de
cada dez juízes sete acreditam que são Deus e os outros três têm certeza”.
Então o magistrado paranaense estaria acima de todos eles? Moro está prestando
um grande serviço ao país e talvez até mudando o jeito tradicional de se fazer
política por aqui, não resta a menor dúvida. Mas até quando? Será que as
futuras gerações de políticos entenderão que roubar dinheiro público não
compensa e que se não agir de acordo com a lei, “qualquer um” pode ser
preso como um ladrão comum?
Se todos os juízes tivessem agido ao
longo da nossa História como o juiz paranaense age, talvez hoje não tivéssemos
tantos desmandos e roubalheiras. Talvez nem precisássemos dele agora para “colocar
as coisas no seu devido lugar”. Em curto prazo, a eficiência do eminente
magistrado será sentida em todos os recantos do país. Nas próximas eleições,
por exemplo, os malditos ratos pensarão duas ou três vezes antes de se
envolverem em maracutaias. Mas e depois? Moro vai sair de cena, já que não é
eterno. Terá a Justiça e os juízes que o substituirão a mesma garra, lisura e
competência para coibir futuros abusos? O trabalho de Sérgio Moro é só curativo
quando devia ser mais preventivo? O Brasil não precisa dele para ser Presidente
ou Ministro como muitos clamam irresponsavelmente. A nação precisa dele só como um juiz, que não
pensa que é e nem tem a certeza de ser Deus. Mas um ser humano honesto,
competente e justo.
*É Professor em
Porto Velho.
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