Um
Natal de luxo no lixo
Professor
Nazareno*
Porto Velho é um lixo, disso quase todo
mundo que mora aqui sabe muito bem. Dentre as 27 capitais é a pior colocada
quando se fala em desenvolvimento humano e qualidade de vida, segundo a revista
Exame. Das cem maiores cidades do país, ostenta a ridícula posição de número
97. Ganha apenas de Duque de Caxias e Belford Roxo, ambas na região
metropolitana do Rio de Janeiro. E de nada adianta tentar mudar esta triste
sina da “capital das sentinelas avançadas”. A decoração de Natal deste
ano, por exemplo, continua feia e toda sem jeito. Fala-se em gastos de mais de
dois milhões e quatrocentos mil reais. Ou seja, mais de 80 mil reais para cada
noite de “brilho”. Melhor do que os pneus “cocô de monstro” do
ano passado e do “mijo de rato” de 2013, o prefeito Mauro Nazif,
pressionado pela tola opinião pública, resolveu mostrar serviço.
Mas não adiantou muita coisa. A cidade
continuou feia, fedida e totalmente desarrumada. Algumas lâmpadas são até
bonitas, mas não combinam com ruas repletas de obras inacabadas. A Avenida
Jorge Teixeira, que começa nas carcaças dos viadutos do PT e termina no Espaço
Alternativo abandonado, não poderia receber nenhum tipo de enfeite até ser
arrumada para isso. Torrar dois milhões e meio de reais numa cidade sem nenhuma
infraestrutura é uma estupidez sem limites. E depois por que gastar tanto
dinheiro para celebrar o nascimento de Jesus num Estado que é laico? Dinheiro
público não deve comemorar o nascimento de Maomé, nem de Buda, muito menos de Cristo.
Deveria ser usado para resolver os problemas sociais que são muitos. Os
ribeirinhos desabrigados da última enchente histórica do rio Madeira já foram todos
realocados?
Com bem menos grana do que isto, cidades
pelo Brasil afora até maiores do que Porto Velho ficaram um verdadeiro brinco
de tão enfeitadas e tão bem iluminadas. A capital dos rondonienses não tem
jeito mesmo. A falta de energia constante na “cidade das hidrelétricas”
é um problema sério e coloca em risco o que poderia ser um sucesso. Enfeites de
Natal não combinam também com ruas escuras, pútridas, fétidas e enlameadas. Se
essa tosca e horrorosa iluminação fosse colocada na ponte escura (a que liga o
nada a coisa alguma) até que tinha alguma serventia. A Avenida Sete de Setembro
ficou feia, a Carlos Gomes ficou feia, a Jatuarana ficou feia e a José Amador
dos Reis também. Em uma área atrás do Shopping Center colocaram um pouco mais
de enfeites só para enganar os trouxas. “Árvores com lágrimas”
homenageiam os portovelhenses.
Passar o Natal nesta sofrência miserável
é um tormento, uma agonia. Por isso quem tem dinheiro e pode “monta no porco”
e vai para as paradisíacas praias do Nordeste, para Curitiba ou mesmo para a
Serra Gaúcha ver festas natalinas e decorações de verdade. Alguns mais sortudos
vão para a Europa e para os Estados Unidos ver neve e degustar bons vinhos e
comidas caras no frio aconchegante do mundo civilizado. Aqui é muita lama, calor,
chuva, podridão, escuridão e pessoas mal arrumadas, fedidas e bêbadas. Ninguém
merece passar o Natal na zona Leste ou na Rua Jatuarana de Porto Velho chupando
cabeça de mandi frito e bebendo cachaça de péssima qualidade. Essa desgraça
toda se não faltar energia na cidade como já é de costume. Mas o povão ignaro
aplaude a tolice e se encanta com o que não tem utilidade. Já ouvi muita gente
dizendo que reelegerá Nazif em 2016 só por que ele “sabiamente” trouxe o
luxo para o lixo.
*É Professor
em Porto Velho.
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