Homens
que fuzilam homens
Professor
Nazareno*
A recente morte
na Indonésia do cidadão brasileiro Marco Archer, acusado de tráfico
internacional de drogas, reacendeu em nosso país o delicado tema sobre a adoção
da pena de morte. Críticos de primeira hora do Governo foram unânimes em
condenar as atitudes da Presidente Dilma Rousseff em relação ao caso. “Era
um simples traficante de drogas”, argumentaram. A mandatária brasileira
ligou pessoalmente para o seu congênere daquele país asiático e implorou clemência,
que é prevista nas leis indonésias. “Imploro como mãe e como cristã”,
teria dito. Não foi atendida. Archer foi sumariamente fuzilado e outro
brasileiro, o surfista paranaense Rodrigo Gularte, de 42 anos, também preso
naquele país pela mesma acusação deverá enfrentar a pena capital em breve. País
muçulmano, a Indonésia adota a tolerância zero para esse tipo de crime.
Indiferentes, muitos desses críticos
não levaram em consideração o sofrimento da família dos brasileiros condenados.
Sequer procuraram entender que se existem traficantes de drogas para um
determinado país é porque neste país há consumidores. Como no Brasil e em todos
os outros cantos do mundo, muitos indonésios também são chegados a um pó. E não
foram Archer nem Gularte quem os jogou no vício. A pena de morte em todas as
suas faces é um retrocesso, um absurdo, uma excrescência. País que adota esta
punição não participa da União Europeia, por exemplo. O pior é que
didaticamente a pena de morte “é quando se mata uma pessoa para ensiná-la
que não se deve matar”. A morte dos dois brasileiros e de tantos outros
condenados não porá fim ao consumo de drogas nem na Indonésia nem em nenhum
outro país do mundo.
Todas essas mortes são
desnecessárias, portanto. São homens matando outros homens. Por questões éticas
e morais, NENHUMA lei criada por homens deveria estar acima da lei maior que
rege o ser humano: o direito à vida. Principalmente em sociedades que
adotam a prisão perpétua e outros castigos. O próprio Jesus Cristo, na parábola
da mulher adúltera, teria dito: “aquele que não tiver nenhum pecado, que
atire a primeira pedra”. Por isso, os homens que fuzilaram o brasileiro são
assassinos frios e seguindo a lógica do “olho por olho, dentre por dente”,
deveriam também ser punidos. Mas não serão. Ninguém tem o direito de tirar a
vida do outro. O próprio Governo da Indonésia está pedindo clemência à Arábia
Saudita, que condenou recentemente à morte Satinah B. Ahmad, acusada de
assassinato e roubo. Hipocrisia: ela é cidadã indonésia.
Vemos diariamente muitos brasileiros
que se dizem cristãos “jogando pedras” e “julgando aleatoriamente”
outros seres humanos. “Bandido bom é bandido morto”, dizem muitos
comentaristas. “Tinha que matar mesmo”, ou então a clássica quando um
policial fuzila um acusado de crime: “no Brasil devia existir a pena de
morte para vagabundos”. Detalhe: geralmente quem defende esta excrescência
está bem vivo e sabe que dificilmente cairia nas garras da Justiça e também não
tem nenhum parente, amigo ou conhecido nesta incômoda situação. O massacre dos
prisioneiros na Ásia foi condenado pela Anistia Internacional, por vários
países e outras instituições de direitos humanos do mundo. Marco Archer traficava
drogas e tinha que ser punido. Assim como quem mata a sangue frio ou comete castigos
cruéis e desumanos. Coisas que tanto os traficantes quanto muitos Estados
soberanos, como a Indonésia, fazem naturalmente.
*É Professor em
Porto Velho.
8 comentários:
Estes policiais se encontravam cumprindo o seu dever. Quantas vidas a droga transportadas pelos brasileiros iria matar.Que sirva de exemplo, queria que todos estes criminosos que transportam drogas, transportassem para a indonésia. Quero ver qual o brasileiro que ainda vai transportar droga para aquele País.Se vç tivesse em sua família alguém dependente de drogas, não pensaria desta maneira.Somente sabe o sofrimento de toda uma família, quando se tem um um membro dependente.
Professor, parabéns pelo texto!!!
O que se questiona não é a pena de morte,pois acredito que a maioria é contra,no entanto a Indonésia mostra que as leis naquele país são feitas para serem cumpridas,coisa que não acontece no nosso país.Uma presidenta pedir clemência para traficantes é falta de bom senso,pois o povo aqui no Brasil pede clemência a toda hora pelas atrocidades que lhe são imputadas,pelos problemas na saúde,pela falta de segurança pública e ela não se indigna em nenhum momento,além do que é hipocrisia defender esse traficante,sendo que a pena de morte é infligida por eles a tantas pessoas.Quantas mães não sofreram na pele a dor de perder um filho para as drogas vendidas e espalhadas por esse tipo de traficante? Quantas pessoas são mortas por esses bandidos todos os dias em nosso país? ou seja,eles impõe a pena de morte à população sem dó nem piedade a troco de um celular,de uma discussão á toa e ninguém faz nada.O Estado é soberano,se AQUI as leis não são cumpridas, lá o são,pois têm o mesmo direito,então vamos deixar de ser hipócritas e parar de transformar um TRAFICANTE em HERÓI ?
Sempre existiu a pena de morte, Jesus sabe muito bem disso. Ao longo das Eras sempre houve decapitações, enforcamentos, fuzilamentos, eletrocuções e acredito que sempre vai haver, o Estado dá o Recado que vai matar se o sujeito violar as leis, de certa forma a pessoa que escolher por cometer o crime, sabendo das punições escolher morrer do que viver uma vida honesta.
Excelente Matéria.
HIPOCRISIA! TRANSFORMAREM UM TRAFICANTE EM HERÓI? Vamos pedir clemência pelo povo daqui,pois a pena de morte é imputada à população por esses bandidos sem dó nem piedade.
Fessor, bênça. Vamos focar na lei maior: o direito à vida. Por favor, me tire da ignorância: um Nardoni que rouba esse direito à filha ainda criança, merece o quê? Comida e roupa lavada enquanto espera seu, certamente breve, retorno triunfal, ele e sua amada? Uma Suzana Richtofen merece o quê? Um Fernandinho Beira Mar, que de sua inexpugnável fortaleza alicia jovens, na maioria pobres e que dependem de educação pública, que não foram educados e preparados adequadamente a que tenham o direito a vida ( digna, complemento ) ? Que se danem, e que fuzilem sim se essa é a lei deles. Mas de quem paparica Cesare Battisti, esperar o quê?
O Brasil já tem pena de morte. Você depender do SUS já é a propria pena de morte.
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