Reféns
da violência premeditada
Professor Nazareno*
O Brasil tem a quarta maior população
carcerária do mundo com pouco mais de meio milhão de presos. Porém no país só
há vagas para 350 mil. E o pior: levando-se em consideração o que diz a
Sociologia, deveríamos ter bem mais detentos, já que em toda sociedade mais ou
menos dois por cento dos indivíduos, por algum motivo, não se adaptam ao
convívio social. A terrível conta é óbvia: se temos 203 milhões de habitantes,
devíamos ter próximo de quatro milhões de presidiários. Rui Barbosa disse que
um país que não constrói escolas deveria construir presídios. O Brasil não fez
uma coisa nem outra. E por isso, os cidadãos honestos têm de conviver no meio
de bandidos e de pessoas socialmente desajustadas. Para cada preso que existe
no nosso país, há pelo menos outros cinco que estão soltos, quando deveriam
estar atrás das grades.
Se estiver certa a máxima de Jean-Jacques
Rousseau de que “todo homem nasce puro, mas a sociedade o corrompe”,
fica mais do que claro que a nossa própria sociedade é a maior responsável pelo
excesso de violência que temos e dela somos reféns. Somem-se a isso a questão
das drogas e a secular e conhecida ojeriza que os brasileiros têm pela educação
de qualidade. Aqui não se investe o que deveria nas escolas e o resultado todos
já sabemos qual é. Somado a este cenário caótico, ainda existe a corrupção em
todos os setores da vida pública, fato que destrói toda e qualquer possibilidade de melhoras. Países como
Holanda e Suécia, por exemplo, estão há tempos fechando seus presídios. A
Alemanha, com quase metade da população do Brasil, tem apenas 62 mil
presidiários e vagas para mais de 75 mil em suas cadeias.
Então fica fácil entender por que no
nosso país um condenado nunca cumpre a pena na sua totalidade. A Justiça
condena um criminoso de alta periculosidade a 200 anos de detenção, mas por lei
ele só pode cumprir 30 anos, que na maioria dos casos serão transformados em
seis ou oito. Como não há espaço nem vagas suficientes no sistema carcerário,
ele tem que dar a vaga para outros condenados e assim fazer girar o revezamento
de detentos, único no mundo. Por isso, têm-se tantos bônus, “fugas” em
massa e indultos para os presos. A falta de vagas só “facilita” a vida
de quem deveria pagar pelo mal que cometeu. Mais de 50 mil brasileiros são
assassinados ao ano. Proporcionalmente, isso equivale a mais de 40 vezes a
guerra da Faixa de Gaza ou a do Iraque. No trânsito, são mais outros 60 mil
mortos todo ano. Punições, nem para pobres.
Por isso, muitas pessoas esclarecidas
defendem abertamente penas maiores. Defendem também maus tratos, torturas e
injustiças contra presidiários ignorando que o Brasil é signatário da
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Burros, “aplaudimos a morte de um
ladrão de 100 reais e nos calamos quando nos roubam 57 milhões”. A absurda
e anacrônica justiça com as próprias mãos também tem sido defendida até por
setores da mídia e por pessoas geralmente mal intencionadas, alienadas,
políticos à caça de votos ou mesmo cidadãos privilegiados que sabem que a
justiça jamais lhes pegará. Ao contrário de alguns países civilizados, devíamos
construir mais presídios e, obviamente, investir mais e melhor no nosso falido
sistema de educação. Somente atacando as causas do problema e não as suas
consequências é que enfrentaremos esse caos de maneira mais civilizada. Sem
isso, continuaremos sendo reféns dessa barbárie.
*É
Professor em Porto Velho.
4 comentários:
Professor Nazareno agora vai mudar, Dilma editará a MP condicionando em 50% o salário percebido pelo segurado aos seus dependentes, enquanto que mantém o integral aos presos, aliás, que nem um salário era, e sim mais que este. Ou seja, a família recebe mais se há preso do que a família do assassinado pelo preso. É a merecida recompensa do trabalhador por ter apoiado um governo corrupto que roubou na Petrobrás mais dos 100 milhões, fala-se até algo em torno de 2 bilhões, o que deixa tranquilos seus herdeiros (filhos e netos). Mas por oportuno lembro a justificativa de Gleise Hoffmann, não se pode prender mais ninguém e deve-se acabar com as punições porque não temos lugar na cadeia. A propósito ela roubou 1 milhão, aguardem a investigações do Petrolão irão confirmar isto.
Muito obrigado, Nazareno.
PROF AQUI NO BRASIL SÓ OS FORTES SOBREVIVEM... MAS, DESCOBRI QUE TEM UMA VAGUINHA PRA PROFESSOR LA NA SOMÁLIA, TA AFIM?
É verdade, professor Nazareno. Justiça punitiva aqui no Brasil só prevalece aos pobres, pretos e prostitutas. O rico quando rouba é cleptomaníaco, o pobre é ladrão. E os de colarinho branco?
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