Ovo de serpente prestes a chocar
Professor Nazareno*
Estou com muito medo mais uma vez: o espectro da censura
volta a rondar perigosamente o país. Mesmo não sendo, por enquanto, algo
oficial e que por isso não tem nenhum respaldo moral uma vez que a própria
Constituição Brasileira, no seu artigo quinto não permite, há várias
escaramuças nesse sentido vindo exatamente das entranhas do próprio Governo do
PT, de partidos que lhe dão sustentação como o PSOL e o PC do B e de boa parte da
opinião pública alienada e manipulada por interesses escusos. Como se não
bastasse a absurda tentativa de se criar uma espécie de Conselho Regulatório da
Imprensa, ideia acalentada pelo ex-presidente Lula, eis que agora surge com
mais força ainda o desejo de calar à força (pelo menos econômica) as poucas
vozes destoantes numa democracia que foi conquistada “há pouco tempo e a
muito custo”.
A volta da censura só interessa a dois tipos de pessoas:
logicamente àqueles que dela se beneficiam e aos ingênuos, a grande maioria dos
brasileiros, que ainda acreditam que o Estado só a usaria para alguns poucos fins.
Vários casos têm sido verificados no país inteiro ultimamente e que justificam
o nosso presente temor. A começar pela aprovação do Marco Civil da Internet e
da demissão sumária do jornalista Paulo Eduardo Martins, comentarista da Rede
Massa, afiliada do SBT no Paraná. Paulo Eduardo é um crítico ferrenho do
governo Dilma e também do PT. Seus ácidos comentários irritaram a cúpula
petista naquele Estado e também em Brasília, e o canal de televisão paranaense
foi ameaçado de perder todas as verbas publicitárias oficiais. Boatos afirmam
que a Rede Massa já teria voltado atrás e recontratado o profissional.
Porém, o caso mais emblemático e que causou uma espécie
de comoção nacional foi o “cala boca” imposto pelas autoridades de
Brasília à jornalista paraibana Raquel Sheherazade do SBT. Âncora do jornalismo
da emissora de Sílvio Santos, Sheherazade nunca poupou críticas contundentes ao
Governo Federal e sempre tinha opiniões polêmicas sobre os mais variados temas
incluindo política de direitos humanos e justiça com as próprias mãos. Para
falar a verdade, nunca concordei com pelo menos 90 por cento das opiniões da
jornalista, sempre achei sua posição ultrapassada e anacrônica, mas censurá-la
em pleno regime democrático é um absurdo maior ainda. Para quem não concordasse
com as teses da comunicadora, o uso do controle remoto seria a melhor arma.
Proibida (financeiramente) de dar opiniões, ela agora somente vai ler as
notícias.
O medo se justifica ainda mais porque vários artistas
nacionais como Chico Buarque, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Djavan dentre
outros, que ganharam fama e notoriedade combatendo a censura, os desmandos e a feroz
Ditadura Militar, recentemente “mostraram as unhas” no caso da proibição
das biografias. Quem lutou contra os ditadores chegou ao poder denunciando tudo
o que está fazendo agora. A censura é um perigo, uma excrescência, uma
anormalidade. Tudo começa com “o filme que para uns pareceu agressivo; a
novela com cenas picantes; o político da oposição; o texto que critica as
autoridades. Começa-se aceitando que alguém seja censurado, seja calado à força.
Depois, não há mais como segurar as consequências desse ato”. O ovo da
serpente não pode eclodir, pois teremos a volta das trevas. Ainda no Século
Dezoito, Voltaire, famoso iluminista francês, deu-nos uma grande lição sobre
Liberdade de Expressão que, parece, não foi aprendida por muitos brasileiros
deste século. Será que ainda vivemos num tempo antes do Iluminismo? Deus nos
livre de mais esta desgraça.
*É Professor em Porto Velho.
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