domingo, 22 de setembro de 2024

E por que eu choro tanto?

E por que eu choro tanto?

 

Professor Nazareno*

 

            Estou de olhos inchados. Acho que é de tanto chorar. E não sei ainda qual o porquê de tanto desgosto, de tanta infelicidade. Preocupada, minha esposa pediu para que eu fosse a um médico. Chorei mais ainda, pois teria que ir a um certo “açougue” que fica na zona sul da cidade. Só que até conseguir ser consultado por lá, já esterei cego. Com a vacinação em massa, a pandemia do Coronavírus praticamente já acabou, mas ainda estou usando máscara para filtrar o ar que respiro. Estou com medo de estar com pneumonia, já que estou tossindo muito e com os peitos chiando e sob intensa pressão. Minha saúde não anda boa, preciso de uma rezadeira para me espantar esse “mau olhado”. Preciso urgentemente de socorro, de ajuda. Razões para chorar todos nós que moramos em Porto Velho, a currutela fedida e agora fumacenta, todos nós temos de sobra. E nada nos acalma.

            Lamento por causa da fumaça que dilacera a cidade e todo o Estado de Rondônia. Uivo por que ninguém faz nada para combater esse caos. Praticamente todas as autoridades, muitas delas chorando muito também, até agora não fizeram absolutamente nada para pelo menos amenizar a situação. Até as Forças Armadas do Brasil, que dizem estar na região somente para defender a Amazônia, nada fizeram. Os bravos soldados continuam pintando as calçadas e o meio-fio dos quartéis, cujas instalações estão, claro, também cobertas por fumaça e fuligem. É que o presidente Lula não pediu até agora aos militares nenhuma missão para combater incêndios e nem fumaça. Nem Lula nem a ministra Marina Silva do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Desde julho estamos respirando monóxido de carbono. Com orgulho, temos o pior ar para se respirar no Brasil.

            Por isso, eu choro. Choro pela incompetência dos políticos locais, choro pela extinção quase certa da Amazônia e choro também muito pelo majestoso rio Madeira. Os rondonienses mataram esse pobre rio sem que ele tivesse feito nada. Não deram a ele nem a chance de se defender. Coitado! Sofro por que Porto Velho não tem sequer um “Built to Suit” para atender melhor aos seus contribuintes asfixiados pela fumaça. Choro pelas crianças, velhos e os portadores de doenças respiratórias. Grito pelos muitos porto-velhenses que, inebriados e conformados na sua ignorância política, não questionam seus representantes nem pedem nada deles para melhorar a coletividade. Choro pela falta de esgotos e de saneamento básico na pior cidade do Brasil em IDH. E choro principalmente porque não se veem perspectivas de melhorar qualquer coisa pelos próximos quatro anos.

            Quero ir embora de Porto Velho como já fizeram muitos rondonienses e também muitos “rondonienses de coração”. Sei que meus dois ou três leitores vão adorar essa ideia. Acham eles que vão se livrar dos meus textos. Mas não posso, pois além de não ter dinheiro suficiente para viajar de avião, não existem voos no acanhado aeroporto dessa cidade amaldiçoada. A fumaça tem cancelado voos quase todos os dias. Soluço também por que Porto Velho está totalmente isolada. Queria sair pelo rio Madeira, mas com o rio já quase morto, os barcos deixaram de fazer suas viagens regulares. E se meu ídolo Jair Bolsonaro não puder vir à “Capital dos Destemidos Pioneiros”, na próxima quarta-feira, aí posso até me suicidar de tanto desgosto. O “inelegível” vem observar de perto como um povo sofrido, pobre e necessitado ainda consegue ser da direita reacionária. Clamo por que os eleitores sofrem da síndrome de Estocolmo e todos riem como hienas sádicas.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.


 

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