E quem vai ajudar
Porto Velho?
Professor
Nazareno*
Porto
Alegre, a exuberante capital do Rio Grande do Sul foi sacudida neste início de
maio de 2024 quase que por uma “explosão atômica”. Chuvas torrenciais de
mais de 500 milímetros/dia inundaram a capital dos gaúchos e a reduziram a
escombros. O número de mortos já passa de cem pessoas e há até agora muitos
desaparecidos nesse “dilúvio” de proporções bíblicas. A área
metropolitana da cidade também foi duramente afetada e está um caos, assim como
mais de 430 cidades espalhadas pelo território gaúcho. O Brasil deve ajudar
aquele estado sem impor nenhuma condição. Por isso, várias cidades de norte a
sul e de leste a oeste do país têm contribuído para amenizar a dor dos irmãos
riograndenses. Todos eles são vítimas das mudanças climáticas e também do
descaso da prejudicial classe política, que só pensa em si mesma e nunca se
preocupa com os outros.
Todos
nós, sem exceção, devemos ajudar nossos irmãos do sul e torcer para que a
situação não piore ainda mais. Mesmo se tratando de um desastre natural, não há
como não entender que se trata de algo causado pela mão humana. A natureza
reage sempre quando é agredida. Por isso, o agronegócio predador e as
devastações ambientais verificadas em outras partes do Brasil, e também do
mundo, têm muito a ver com mais esta catástrofe. O Rio Grande do Sul vive hoje
o seu Armagedon. Porém, há uma outra cidade, também capital de um estado, e bem
distante de Porto Alegre, que sofre dia após dia as suas intempéries. Trata-se
de Porto Velho, capital de Roraima. A cidade do norte até está acostumada com
as chuvas torrenciais, que têm diminuído muito ultimamente. O caos na “capital
das sentinelas avançadas” é a constante falta de infraestrutura da cidade.
O
drama de Porto Velho, no entanto, quase não é sentido, pois está diluído pelo
longo tempo. Mas talvez mate mais gente do que a atual tragédia dos gaúchos. Falta
de esgotos e de saneamento básico em uma cidade grande funciona como um
holocausto sobre crianças, velhos e pessoas fragilizadas. E em Porto Velho, bem
diferente de Porto Alegre, só tem uns dois ou três por cento de esgotos e de
saneamento básico. Depois de ajudar a capital gaúcha, os brasileiros deveriam
ajudar nossa cidade. Aqui a classe política também não faz nada. Desde 1914,
nossa capital é uma pocilga, uma fossa a céu aberto, uma latrina suja e imunda.
Porto Velho não tem mobilidade urbana, não tem rede de esgotos e a população
bebe água de poços imundos cavados ao lado de fossas podres e fedorentas. Pior:
a menos de 5 km há uma barragem que pode se romper e devastar tudo.
Além
de ajudar os seus irmãos gaúchos, os rondonienses deveriam contribuir e muito para
diminuir catástrofes como essa. Mas um político local quer é aumentar ainda
mais os índices de desmatamentos nas florestas. O povo daqui, de um modo geral,
quer recuperar a BR-319 e também pede a volta do garimpo assassino e poluidor
do rio Madeira. Com isso, os desastres ambientais só vão piorar. A própria ONU
já reconheceu o drama de Porto Alegre como sendo uma consequência dos
constantes ataques do homem à já combalida natureza. Porto Velho e Rondônia
ajudam agora, mas depois deviam pedir socorro ao Brasil e ao mundo para tentar
sair do eterno e fétido lodaçal em que vive há mais de cem anos. Os políticos deviam
doar todo o dinheiro do fundo eleitoral para os gaúchos, que sofrem agora. Mas
os porto-velhenses têm sofrido muito também. Só que a nossa dor é invisível. Os
políticos só se mexerão quando chover merda por aqui.
*Foi Professor em Porto
Velho.
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Yes
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