Professor: pior do que o Ebola
Professor
Nazareno*
Todos os anos é a mesma
ladainha triste que se ouve no dia 15 de outubro: muitas pessoas hipocritamente
desejando um feliz dia do professor. Não se sabe para quê nem o porquê de mais
esta bobagem que só cheira a cretinice e falsidade. Este deveria ser um dia
para ser riscado para sempre da rotina de comemorações e festas, pelo menos no
Brasil, país cuja maioria da população, juntamente com os governantes,
sabidamente nunca valorizou o professor e muito menos a educação. Diferente do
Japão, dos Estados Unidos e de muitos países da Europa, onde esse profissional
é extremamente valorizado e às vezes até venerado pelas pessoas, muitos
brasileiros veem na labuta do magistério uma praga pior do que o vírus Ebola,
que deve ser evitada a todo e qualquer custo. São poucos os de bom senso que hoje
estudam para ser professor.
Profissão em franca decadência, desvalorizada
e mal vista por grande parte da população brasileira, já muito próxima da
extinção, sem remuneração adequada e totalmente desprestigiada no mercado de
trabalho, só os mais incompetentes e rejeitados em outras áreas aceitam o “desafio
forçado” de entrar em uma sala de aula para trocar por dinheiro o
conhecimento adquirido durante a sua formação. Ser professor hoje, na maioria
dos casos, virou um bico para muitos profissionais que esperam passar em algum
concurso, para qualquer outra profissão, mas que geralmente pagará bem melhor
do que o que se paga ao “maldito vendedor de ilusões”. Pior, segundo o
Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo, em 2013, pelo menos 44% dos docentes
paulistas foram agredidos dentro da escola.
O caos: dar aulas agora virou profissão de risco.
Até para ter participação
política, há restrições para estes profissionais. Em Rondônia, por exemplo,
tem-se o Sintero, um sindicato não de professores, mas dos trabalhadores em
educação, incluindo-se aí merendeiras, pessoal de secretaria, vigias, auxiliar
de serviços gerais, serventes, inspetores de alunos, etc. etc. O pior é que
desde que foi fundado, este sindicato tem servido apenas como trampolim para as
aspirações políticas dos integrantes de suas diretorias, que se revezam nos
cargos já há 25 longos anos. Quando um professor se diz politizado e de visão é
porque está vergonhosamente fazendo campanha política para algum candidato
ligado ao governante de plantão. Alienado, geralmente não assume sua posição
política dentro de sala, e na busca do politicamente correto se anula
totalmente enquanto ser pensante e formador de opinião.
Não é fácil ser professor em
uma sociedade que nunca valorizou a educação e o saber. Professor! E não
educador, pois quem educa são os pais. Professor ensina. E, às vezes, aprende
também. Num país em que muitas pessoas por falta de tempo ou vergonha abriram
mão de educar seus filhos, sobrou esta tarefa para quem? E se o aluno progride
é porque é inteligente, gênio. Se nada aprende, a culpa já se sabe de quem é. Com
o seu minguado salário, tenta mensalmente driblar as contas de sua amarga
sobrevivência. E não adianta trabalhar em escolas particulares, pois lá o
salário que se paga é muito baixo por causa da cobrança absurda que se faz.
Explorando o trabalho do infeliz, muitos empresários e donos de escolas enriqueceram
rapidamente. Por tudo isto, a profissão de ministrar aulas devia ser proibida
ou até extinta no Brasil. Mas como não imagino um mundo sem o professor,
teimosamente continuarei vendendo minhas aulas.
*É Professor em
Porto Velho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário