Porto Velho: uma cidade sem símbolo
Professor Nazareno*
Quase todas as cidades do mundo têm um
símbolo que as identifica. Um acidente geográfico ou mesmo uma grande
construção é comum aparecer nos guias turísticos como marca registrada do
lugar. Apesar dos constantes tiroteios em suas favelas, o Rio de Janeiro tem o
Pão de Açúcar ou mesmo a Estátua do Cristo Redentor. Nova Iorque tinha o World
Trade Center e agora a Estátua da Liberdade é o seu símbolo maior. Paris tem a
famosa Torre Eiffel. Roma tem o Coliseu e Salvador, na Bahia, tem o Elevador
Lacerda e a paradisíaca Ilha de Itaparica. É raro não perceber e imediatamente
associar a geografia ou a sagacidade do homem ao seu lugar de origem.
Porto Velho não tem símbolo nenhum. Dizem
que As Três Caixas D’água também chamadas de “As Três Marias” simbolizam a nossa
cidade. Se assim for, não existe tamanho mau gosto em outro lugar. Construídas
juntamente com a Estrada de Ferro Madeira Mamoré é um monumento de aspecto
lúgubre, vulgar e que sugere apenas a lembrança do capitalismo selvagem em
nossas terras. Vistas de longe parecem querer imitar o órgão sexual masculino
de três jumentos emparelhados. De aparência medonha, estaria assim mais para
simbolizar qualquer cidadezinha lá dos cafundós do Nordeste do que para uma
capital que se orgulha de ser “a cidade das hidrelétricas”.
Porém muitos rondonienses lhe dão
importância. Recentemente, um hotel de padrão internacional quase teve a sua
construção embargada por causa do monumento. “Encobriria a sua beleza e visão”,
afirmou o Iphan como se alguém de bom senso quisesse ver aquilo. Sendo assim,
bastaria mandar implodir o Palácio Presidente Vargas que se localiza bem a sua
frente. Afinal, para que serve um Palácio que tem nome de um dos maiores
ditadores da nossa História e que já foi apelidado de casinha da Barbie? Nenhum
governador sentiria tanta falta assim. Poderíamos também mandar implodir a
Reitoria da Unir já que esta universidade nunca serviu para nada mesmo. Se a
Unir não existisse que falta faria aos porto-velhenses?
Infelizmente Porto
Velho não tem símbolo nem História. Alguns saudosistas alegam que a nova
administração municipal estaria destruindo todo o acervo histórico-cultural da
capital. Um exagero, pois o lendário rio Madeira e a imponente floresta
Amazônica que realmente nos simbolizam estão sendo destruídos de forma covarde
e ambiciosa sem que ninguém dê um pio. Desde quando lugares onde se bebia pinga
e se praticava a boemia podem ser considerados como de importância histórica?
Esta cidade não pode mais viver do passado uma vez que já temos Parada do
Orgulho Gay, Carnaval fora de época, ponte sobre o Madeira, viadutos,
passarelas, mortes no trânsito, violência na periferia, pedintes na rua e até
shopping center.
Qualquer destas
construções poderia muito bem simbolizar a cidade. A ponte no Madeira, por
exemplo, existe coisa mais absurda? Os rondonienses querem fazer ponte sem ter
a estrada. Um monumento que servirá apenas para melhorar a vida de meia dúzia
de capiaus e matutos que plantam mandioca no Projeto Joana Darc. Ou então
servirá para tirar a “metrópole humaitaense” do isolamento. Serão muitos
milhões de reais jogados fora. Coisa de gente da roça mesmo. Por isso uma
estátua do Jeca Tatu, personagem de Monteiro Lobato, deveria ser erguida para
simbolizar a capital já que a melhor definição para Porto Velho é: 400 mil
matutos num canto só.
*Leciona em Porto Velho.