sábado, 24 de setembro de 2016

Educação: mudança viciada



Educação: mudança viciada


Professor Nazareno*



Segundo especialistas, o Brasil possui um dos piores sistemas de educação do mundo. A OCDE, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, afirma que este país fica nos últimos lugares quando o assunto é a sala de aula. Há mais de três décadas figurando entre as dez maiores potências econômicas do planeta, nosso país nunca investiu o necessário e nem valorizou este estratégico setor da vida nacional. Nunca ganhamos um Oscar, nunca ganhamos um Prêmio Nobel, nunca tivemos boas universidades nem escolas, nunca nos destacamos em absolutamente nada a nível internacional. Por isso, há muito tempo existe a necessidade de se fazer uma reforma completa na nossa educação. A última mudança, que foi mais um grande fracasso e não levou a lugar algum, ocorreu em 1971 ainda na Ditadura Militar com a lei 5.692.
As escolas brasileiras são péssimas, vê-se isso sem precisar fazer muito esforço. Ao término do Ensino Médio, muitos dos nossos alunos ainda são semianalfabetos, ou seja, analfabetos funcionais mesmo, apesar de mais de doze anos de estudos. A maioria deles não consegue, por exemplo, escrever em Língua Portuguesa um pequeno texto por mais simples que seja, não têm leitura de mundo e tropeçam em operações matemáticas básicas. Reforma na educação brasileira é algo mais do que urgente. Reforma. E não uma gambiarra feita às pressas por meio de uma Medida Provisória e sem o debate entre os envolvidos no processo como alunos, professores, pais, técnicos e afins. Coisa absurda e típica de um governo golpista, que não tem o menor respaldo popular para implantar quaisquer mudanças nestes dois anos que infelizmente ainda lhe restam.
Há, no entanto, nessa pretensa reforma educacional propalada, alguns pontos que merecem uma discussão mais ampla como o anunciado aumento da carga horária no Ensino Médio para 1.400 horas/ano em vez das ridículas 800 horas que temos hoje. O problema é a falta de espaço físico para isso. E os “intelectuais golpistas” já deviam saber desta defasagem na estrutura das escolas, principalmente as públicas, que estão há tempos caindo aos pedaços. Outro problema: qualquer reforma deveria começar pelas séries iniciais do Ensino Fundamental e não quando o aluno já está “com a cabeça feita” numa faixa etária acima dos 15 anos. Além do mais, não se mudará absolutamente nada em termos de educação se alunos, professores, pais, técnicos, políticos e sociedade são os mesmos já bitolados. “Papagaio velho não aprende a falar”, ensina o ditado popular.
Dessa forma, deve-se acabar e não só remendar essa velha estrutura já viciada, defasada e que quase nada produz em termos de saber, informação e cultura. Os Estados Unidos implantaram a escola de tempo integral para as séries iniciais ainda no século dezenove e depois ampliaram para as séries seguintes. Os países da União Europeia, Japão e Coreia do Sul o fizeram pouco tempo depois e já estão todos, por isso, colhendo os frutos. E que frutos. A sociedade brasileira precisa incentivar a educação e valorizar o professor e a escola se quiser ter esperanças mínimas de sucesso no futuro. Todo e qualquer governo, golpista ou legítimo, precisa levar a educação a sério e entender que é o futuro da nação que está em jogo. Os “sábios” desse governo acham que uma simples canetada mudará o que foi feito para o fracasso. Por isso, “querem mudar tudo para tudo continuar do mesmo jeito”. Só falta agora nos empurrar a “Escola sem Partido”.




*É Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Surreal: Pobre de Direita



Surreal: Pobre de Direita


Professor Nazareno*



            O cantor Tim Maia teria dito certa vez que o Brasil é um país que tem tudo para não dar certo, pois aqui cafetão se apaixona e tem ciúmes, traficante de drogas se vicia e pobre é de Direita. Não se sabe ao certo se o polêmico cantor disse mesmo isso, mas o fato é que a estranhíssima expressão “Pobre de Direita”, se ele existe mesmo, é a mais bem acabada criação do capitalismo brasileiro. E nestes tempos de crise política no Brasil, o que mais se observa, no entanto, é uma legião inteira de cidadãos, pobres em sua maioria, tecendo loas, elogiando e até torcendo pelo sucesso dos políticos direitistas, conservadores e reacionários. Dizem e acreditam, por exemplo, que não foi golpe a retirada pura e simples da ex-presidente Dilma Rousseff do poder sem ela ter cometido crime algum. As declarações de José Sarney e Romero Jucá sequer são levadas a sério.
            O pobre de Direita é como um capitão do mato da época dos escravos. O miserável sofre, é explorado, humilhado, espezinhado e massacrado, mas não deixa de adorar seus opressores e de agradar ao seu patrão ou líder político. É como se ele sofresse da síndrome de Estocolmo. Clama abertamente pela volta dos militares ao poder, apesar das torturas, censura à mídia, perseguições e aberrações feitas contra os opositores. Com os desastrosos 13 anos do PT no comando do país, o pobre de Direita viveu dias intranquilos e depressivos. Flertou politicamente com várias instituições conservadoras e reacionárias para aliviar um pouco o seu sofrimento e vibrou quando a religião, principalmente a evangélica, se envolveu de forma mais participativa com a política. Era a senha para que o alienado e imbecil pudesse renovar as suas esperanças.
            Pobre de Direita ama de coração o Jair Bolsonaro e segue suas ideias malucas, arcaicas, misóginas, racistas, preconceituosas e fascistas. Nas redes sociais se orgulha de ter em seu perfil a foto do político conservador. Fala abertamente que vai votar nele em 2018 para presidente e vibra quando o futuro candidato faz apologia à tortura e aos torturadores de um modo geral. Sobre direitos humanos, não quer ouvir nem falar. Defende a pena de morte, a diminuição da maioridade penal e outras excrescências já ultrapassadas. Nem precisa dizer qual o canal de televisão favorito dessa gente. A revista semanal de informações, que alguns deles leem, é a mesma que se autodenomina como uma das mais lidas do mundo. Para um Pobre de Direita entrar em desespero basta lhe dizer que a bandeira brasileira mudará de cor e agora talvez seja vermelha.
            Pobre de Direita tem solução para tudo. Toda postagem que faz nas redes sociais é para adular os ricos e poderosos. Com a queda do PT e a possível prisão de Lula e de alguns dirigentes esquerdistas chegará, enfim, ao êxtase. O juiz Sérgio Moro para todos eles é um herói nacional e deveria ganhar um prêmio Nobel. Esse tipo de pobre ama futebol, geralmente torce pelo Corinthians ou Flamengo e sempre que pode está vestido com a camisa de seu time favorito. É fã do Neymar, a seleção brasileira é sua paixão e vestir a camisa amarela é para ele como uma religião. Nunca percebeu a relação promíscua entre a CBF e a FIFA. Muitos deles não entendem como alguns brasileiros não queriam a realização das Olimpíadas no Brasil. Se for funcionário público, o infeliz defende também o neoliberalismo do PSDB sem perceber o perigo de sua própria demissão. Mas o pior pobre de Direita é aquele que já foi de Esquerda. Conheço muitos.



*É Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Quinze anos sem arrogância



Quinze anos sem arrogância

Professor Nazareno*
           
            Há exatos 15 anos o “Império do Mal” era atingido em seu próprio coração e a alegria tomava conta do mundo civilizado. No dia 11 de setembro de 2001 aviões civis norte-americanos, comandados por pilotos suicidas, desfecharam ataques contra alvos imperialistas dentro do próprio território inimigo. O World Trade Center e o Pentágono, respectivamente símbolos dos poderes econômico e militar dos Estados Unidos foram alvos da vingança, a mais poderosa e letal arma atribuída a combatentes muçulmanos sob as ordens de Osama Bin Laden, ex-aliado da CIA e da Casa Branca, que seria o alvo político. O governo de George W. Bush, o filho, é obrigado a engolir a empáfia e a arrogância que sempre caracterizaram aquele povo metido a “deus”. O mundo mudou e para melhor depois que os poderosos tiveram que engolir a seco todo o seu pedantismo.
            Claro que se deve lamentar a morte de quase três mil inocentes, embora os EUA nunca lamentem as mortes que ainda causam ao redor do mundo em suas investidas imperialistas e assassinas. Foi assim na guerra do Vietnã, na década de 1960 quando mataram criancinhas asiáticas com gás Napalm. Foi assim também em 1945 quando trucidaram os japoneses com dois covardes e desnecessários ataques atômicos. Os yankees sempre se autoproclamaram os donos do mundo e por isso pagaram o preço da soberba no Pearl Harbor moderno, o 11 de setembro. Até para nós brasileiros sobrou: foi em 1964, no golpe militar para agradar àqueles ambiciosos capitalistas. A nossa Ditadura Militar foi reconhecida pelos malditos norte-americanos antes de qualquer país. Por isso, o governo golpista de Michel Temer também já foi reconhecido por eles.
            Os Estados Unidos são uma nação amaldiçoada cuja população é repleta em sua maioria de ladrões, prostitutas e viciados em drogas e não têm muito que ensinar ao mundo civilizado. Procuram impedir a todo custo que iludidos cidadãos do “resto do planeta” não entrem em seu país. Várias adolescentes brasileiras, por exemplo, foram recentemente barradas e presas injustamente em suas fronteiras. Donald Trump, atual candidato à presidência do país, é o maior exemplo desta infame xenofobia. Eles tentam a todo custo imitar o que veem na Europa desenvolvida, humana e civilizada. Mas são uma pátria de pessoas arrogantes e prepotentes em sua maioria, mesmo que invistam como ninguém em educação, pesquisas, esportes e IDH. Têm, é verdade, seis das dez melhores universidades do mundo, mas só usam o bem quando é para si mesmos.
            Conheço muitos países do mundo, mas não os Estados Unidos, onde me orgulho de nunca ter ido e nem quero. Jamais entendi por que muitos de nossos jovens e adolescentes, das classes média e média alta principalmente, têm como vontade maior conhecer aquele inferno na terra. O que aprenderiam lá além do xenofobismo, da violência, da injustiça e da arrogância? Pátria de obesos, cardíacos, do preconceito racial, da KKK e de chacinas, os EUA nunca foram um bom lugar para se visitar. Desde a sua independência em 1776 que semeiam guerras e revoluções mundo afora para poder aumentar sua fortuna com a desgraça alheia. Foi assim nas duas guerras mundiais, na Guerra Fria, na Guerra da Coreia, na Guerra do Vietnã e na Guerra ao Terror. Os milhões de mortos são consequências macabras do seu imperialismo já decadente. De forma ousada, a criatura, Bin Laden, fez o criador engolir todo o seu orgulho e maldade.




*É Professor em Porto Velho.

domingo, 4 de setembro de 2016

Impeachment ou Golpe?



Impeachment ou Golpe?

Professor Nazareno*
           
            A discussão é inócua e não mudará em absolutamente nada o que já foi decidido. Servirá apenas como um alento didático para que se entenda melhor a História. O afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff pelo Senado em 31 de agosto de 2016 foi um processo legítimo e constitucional ou foi simplesmente um golpe de Estado praticado pelas elites brasileiras contra uma ideologia de esquerda que há 13 anos governava legitimamente o Brasil? Pelos acontecimentos e pelos fatos, tudo leva a crer que foi mais um golpe político, praticado diante da estarrecida opinião pública mundial. E o pior de tudo é que grande parte da população brasileira deu apoio explícito à aventura golpista sem perceber, como sempre, que estava sendo usada para tal fim. Os opositores do PT nas últimas eleições presidenciais serviram como bode expiatório.
            A decisão de surrupiar o poder dos petistas “por bem ou por mal” foi tomada no exato instante da reeleição de Dilma Rousseff. Políticos corruptos pressionados pela Operação Lava Jato e insatisfeitos com a decisão da presidente em não “interromper a sangria” da referida operação da Polícia Federal se aliaram aos perdedores daquele pleito (leia-se PSDB e aliados) para apear do poder não só a mandatária eleita, mas toda a ideologia petista. Motivos para isso? Ora, inventavam-se alguns e se armava o patético circo. Pretextos jurídicos, uma desculpa esfarrapada ou então se condena “pelo conjunto da obra”. Burros como são quase todos os eleitores brasileiros, ninguém vai saber mesmo qual foi o verdadeiro motivo. Feito isso, o PMDB e o PSDB assumem o poder e passam a dar as cartas e assim se inicia a “despetização” do Brasil para o bem de todos.
            Mas e no caso do Collor? Por que foi impeachment? Ora, o vice-presidente da época, o Itamar Franco, embora sendo do PMDB, não conspirou para a saída do ex-presidente como fez o Michel Temer agora. Grande parte dos congressistas que derrubaram o alagoano não tinham contas a acertar com a Justiça. Ironia: o motivo inventado para derrubar a Dilma, as pedaladas fiscais, foi tornado legal pelo atual Congresso Nacional apenas dois dias depois de consumado o golpe. Porém, o fato mais marcante que denunciou a farsa golpista foi a absolvição da ex-presidente. Toraram-lhe o mandato, mas preservaram-lhe os direitos políticos numa manobra anticonstitucional. Na maior cara de pau, os golpistas rasgaram a Constituição. O artigo 52º, parágrafo único, foi fatiado pelo Senado e pelo presidente do STF sem nenhum acanhamento.
            Com a Constituição nas mãos, o presidente do Senado disse que não se podia permitir ao mesmo tempo “a queda e o coice” contra a ex-presidente. Ora, se a Dilma cometeu crime de responsabilidade como alegam, por que não foi punida? Por que não respeitaram a Carta Magna como era de se esperar daquele Tribunal de Exceção? Se ela não foi punida é por que era inocente. E se foi inocentada, não cometeu crime. E por que, então, perdeu o mandato? O óbvio: porque foi golpe. O objetivo maior já tinha se consumado, a saída do PT e de seus seguidores do poder “a qualquer custo”. Por isso, somos uma republiqueta de quinta categoria e não temos o menor respeito da opinião pública de países civilizados. O fatiamento do impeachment foi um crime hediondo: estupro de vulnerável, a nossa Constituição. Discordo do PT e de seus governos, mas este país não merecia tamanha esculhambação de quem devia dar o exemplo: o STF.



*É Professor em Porto Velho.