quinta-feira, 28 de julho de 2016

Tudo normal na terra do nunca




Tudo normal na terra do nunca

Professor Nazareno*

Visto de fora, o Brasil é mesmo um país grotesco, atrasado e ridículo. Raras nações do mundo nos levam a sério. Por aqui infelizmente quase tudo é assim mesmo. Quase nada dá certo e as coisas são feitas na base do jeitinho. A maioria da população, já acostumada com as gambiarras e os improvisos, praticamente nem reclama mais de nada. A síntese deste absurdo jeito de se viver ficou demonstrada na Operação Lava Jato da Polícia Federal e no atual processo de impeachment, urdido pela direita conservadora, para retirar o PT e a presidente democraticamente eleita do poder. Desacostumados com tantas “anormalidades”, cidadãos de países civilizados e organizados estranham o fato e acham que isto aqui é uma espécie de “terra do nunca” onde tudo foi feito para dá errado. Educação, uma porcaria. Saúde pública, nem se fala.
No país da desigualdade social crônica, o nosso preconceito é diferente. Há escolas para ricos e escolas para pobres, hospitais para ricos e hospitais para pobres, transportes para ricos e para pobres. Justiça para ricos e justiça de pobres. E até as cadeias são assim. O ladrão quando é pobre vai preso depois de aparecer e ser humilhado nas delegacias e nos programas policiais. Vai para o “casão” às vezes até sem ser julgado. Já o ladrão rico usa tornozeleira eletrônica e fica apenas em prisão domiciliar. Quando fica. Cumpre uma ínfima parte da pena e geralmente nada devolve do que roubou. Prisão de rico no Brasil é casa de praia ou de montanha. Muitas vezes o desgraçado, que surrupiou milhões do povo, volta a participar da política e quase sempre é eleito. Se o indivíduo é rico, no nosso país compensa ser ladrão e corrupto.
Claro que ninguém em sã consciência desejaria ser ladrão ou malfeitor. Mas se no Brasil ser assim compensa, por que não tentar subir na vida sem stress? Entra-se na política e desviam-se milhões ou bilhões de reais. Com o dinheiro sujo, os escroques mandam os filhos estudar no exterior, fazer cursos e mais cursos e depois montam-se clínicas ou academias de renome ou então se funda um império de comunicações para ensinar ética, honestidade e bons modos aos tolos ouvintes e telespectadores. Nos países civilizados e desenvolvidos, onde existe justiça e punições de verdade, roubar dinheiro público resulta em prisão perpétua ou até mesmo em pena de morte como na China. Na desorganização das Olimpíadas, por exemplo, quem vai ser punido pela vergonha a que expuseram o Brasil? Muitos serão eleitos e reeleitos pelos estúpidos e cegos eleitores.
No país onde “o homem mau dorme bem”, o cidadão comum e trabalhador não é respeitado. O Estado não lhe oferece um mínimo de segurança individual, as escolas de seus filhos não prestam, os hospitais públicos são como açougues e quase tudo o que os políticos e governantes dizem é mentira. Além do mais, a altíssima carga de impostos não se reverte em serviços públicos decentes para os contribuintes, como denunciou um articulista da Veja. Na nação onde muitas vezes o crime compensa, só existe um único juiz em todos os 516 anos de história: é o Sérgio Moro, a palmatória do mundo. Antes dele, nem julgados os maus políticos eram. Muito menos presos, mesmo com privilégios e mordomias. Nas próximas eleições, há um “enxame infinito” de candidatos dizendo que vão fazer e acontecer se eleitos. Pior: os tolos e despolitizados eleitores acreditam e votam. A única saída é sair do Brasil. Ou concordar com tudo o que aí está.                            




*É Professor em Porto Velho.

domingo, 24 de julho de 2016

Olimpíadas em Porto Velho

  

Olimpíadas em Porto Velho

Professor Nazareno*



            Claro que as Olimpíadas 2016 serão realizadas no Rio de Janeiro. Disso, quase todo mundo sabe. E lamenta profundamente. O PT e o ex-presidente Lula conseguiram, para a euforia de muitos simplórios esportistas brasileiros, trazer pela primeira vez para o mundo subdesenvolvido e atrasado os mais famosos jogos da história da humanidade. Não só os petistas e esquerdistas, mas grande parte da população do país também aplaudiu calorosamente esta estupidez. Basta observar a “emoção” de muitos idiotas e imbecis quando da passagem da tocha olímpica pelas cidades e lugares espalhados pelo Brasil afora. Mas se por uma obra do acaso os jogos, em vez da capital carioca, fossem realizados na cidade de Porto Velho, a suja, fedorenta, quente e pouco civilizada capital de Rondônia os problemas aumentariam e a competição ficaria marcada para sempre.
            Se no Rio de Janeiro, cidade conhecida no mundo inteiro e detentora de uma infraestrutura até que razoável para receber estrangeiros, os problemas para a realização de uma Olimpíada são insuperáveis, em Porto Velho viveríamos o Armagedon. Uma das primeiras delegações a chegar à vila olímpica, a Austrália já decidiu que lá não fica. O Comitê Olímpico Australiano reclamou das condições infectas do local e disse que lá nenhum atleta do país ficará hospedado e pelos próximos dias devem ir para um hotel. “Por causa de vários problemas na Vila Olímpica, como gás, sujeira, eletricidade e encanamento, os atletas australianos se recusaram a ficar naquele sinistro alojamento”. Vasos sanitários quebrados, vazamentos em tubulações, escuridão nas escadarias e lixo em todos os lugares foram encontradas pelos dirigentes da Oceania.
            A sujeira e a imundície em Porto Velho começariam pelas ruas inabitáveis da cidade. Já pensou um atleta de renome internacional chegando a nossa suja e infecta rodoviária? E o nosso aeroporto “internacional” que não faz voo para lugar nenhum fora do Brasil? Como reagiriam competidores de primeira linha ao ver atletas locais pedindo esmolas nas ruas para poder participar de uma festa esportiva? E a inexistente mobilidade urbana da capital das sentinelas avançadas? Imaginem-se estrangeiros usando o interbairros ou visitando o terminal de ônibus urbano, que pode sofrer uma alagação do Madeira nas próximas enchentes. Aqui se vive diariamente uma verdadeira Olimpíada: como sobreviver numa das piores cidades do mundo sem a menor ajuda do poder público. Pior: Mauro Nazif deve se reeleger e o rosário de agonias continuará.
            Sem nenhuma atração turística de importância e sem a menor infraestrutura que uma capital de Estado deveria ter, só nos restaria mostrar aos nossos visitantes o maior “São João fora de época” de que se tem notícia: o Flor do Maracujá. Com relação aos possíveis ataques terroristas não haveria nenhum problema. Qual o militante, por mais maluco e fanático que fosse, teria coragem suficiente para se explodir em Porto Velho? Se no Rio as coisas não andam nada boas para a realização desta desnecessária Olimpíada, por aqui essa loucura só teria sucesso se fosse uma espécie de competição que envolvesse a sujeira, a fedentina, a carniça, a desorganização e o lixo urbano. A “Olimpíada dos urubus e dos ratos” daria muitas medalhas de ouro para Rondônia. Com milhões de pobres e famintos, o Brasil deveria se preocupar em resolver seus infinitos problemas em vez de fazer festa esportiva. E Porto Velho acabar seu monturo.



*É Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Festas juninas, circo patético



Festas juninas, circo patético

Professor Nazareno*

            A política do pão e circo do Brasil sempre funcionou muitíssimo bem para a alegria dos governantes. Quando o ex-presidente Lula e o PT inventaram de trazer as Olimpíadas para o Rio de Janeiro sabiam que uma multidão de otários e incautos espalhada pelo país ficaria extasiada com as tolices inventadas sob medida para entorpecer os mais idiotas e portadores do senso comum. A adoração quase divina que fizeram da tocha, por exemplo, foi algo inimaginável. Muitos trouxas chegaram a falar que aquilo era um patrimônio cultural do povo brasileiro. Terminada a euforia inicial da passagem do “monstrengo amaldiçoado”, eis que os cidadãos são agraciados em várias partes do país com as festas juninas e as suas manifestações estúpidas. Campina Grande e Caruaru no seco, atrasado e pobre Nordeste são o carro-chefe para a feliz matutada.
            Para não ficar de fora do absurdo circo alienante, Rondônia também tem as suas festas juninas. Aqui, por não ter cultura própria e nem um único resquício de criatividade, tudo é copiado (e mal) de outras regiões do país. Mesmo com uma crise econômica terrível que insiste em não terminar, a brincadeira de imitar capiaus leva muitos ao delírio e a exploração corre solta. O horror em Porto Velho começa em junho mesmo com um tal “Flor do Cacto” na zona sul da cidade. Sem uma única árvore de cacto nas redondezas, o exótico arraial deslumbra a todos. O outro espetáculo de estupidez é o conhecido “Flor do Maracujá”, que nunca teve data nem local definido para acontecer. Este ano de 2016 será no final de julho e começo de agosto. Na “capital das sentinelas avançadas” os roceiros se divertem em festas “julinas” e “agostinas”.
            Em qualquer data ou local, ir a um destes espetáculos de Porto Velho é uma das coisas mais sinistras e bizarras que podem acontecer a um cidadão civilizado. A falta de higiene e os preços altíssimos desencorajam qualquer um. Isso sem falar na violência característica destas aglomerações humanas do Brasil. A variedade de gororoba servida a preços europeus é um acinte para um país que parece viver eternamente em crise. Fosse uma Oktoberfest, ainda dava para se aceitar alguns desmandos... Que lembranças boas se leva de um arraial realizado geralmente no meio da poeira asfixiante onde quase sempre se fica exposto a todo tipo de violência e as comidas ruins e “crocantes” são vendidas a peso de ouro? Pior: Porto Velho não é Parintins e muito menos Campina Grande, logo não oferece um bom espetáculo para quem se aventura a este “turismo”.
            Outra incoerência destes “ajuntamentos de gente” são os trajes. Todos dizem estar se vestindo de matutos e caipiras quando na verdade estão apenas copiando a realidade de uma cidade sem moda onde ninguém se veste bem. Somos todos matutos no dia-a-dia e fingimos não perceber a nossa breguice explícita. Brinca-se também de bois-bumbás e quadrilhas nas quentes e empoeiradas noites. Tem a quadrilha da Câmara de Vereadores, a quadrilha da Assembleia Legislativa e várias outras quadrilhas. Muitas repartições públicas também têm a sua quadrilha. Engraçado é que todas elas dizem só imitar a ficção. Até nas escolas existem os famosos arraiais. A desgraça é tão importante por aqui que é ensinada desde cedo aos futuros cidadãos. Cada escola, claro, chega a ter orgulhosamente várias quadrilhas também. Asma, rinite alérgica e dor de estômago são as consequências de um “folclore” que sequer devia existir. Mas o povo vive sem circo?



*É Professor em Porto Velho.