Atocha
no esgoto do Brasil
Professor
Nazareno*
Porto Velho, a
bisonha, suja e fedorenta capital de Roraima ganhou um daqueles dias, não se
sabe ainda o porquê, chamado de inesquecível. Protegida pelo Satanás, seu
padroeiro-mor, e candidata ao título de pior lugar do mundo para se viver, além
de detentora do nada invejável título de “a mais suja, feia, podre e
desarrumada capital do país”, sem nenhum IDH e com uma coleção infinita de
problemas, eis que, de uma hora para outra a “capital das sentinelas
avançadas” ganha seus poucos minutos de fama: é que chegou por aqui, vindo
não se sabe bem de onde, um tosco “pedaço de pau” com um fogo em uma de
suas extremidades, feio, ridículo e desajeitado que mais se parece com um “baseado
eletrônico de maconha”. A “geringonça medonha” pôs-se a encantar
beiradeiros e matutos numa proporção jamais vista por estas redondezas caboclas.
Não tive coragem suficiente para ver
aquele “inútil e demoníaco trambolho”. Fecharia os olhos diante
da coisa. E se me fosse dada a desonra de carregá-la pelas ruas podres e sem
esgoto, deixaria cair no chão sujo ou a rebolava no rio Madeira só para ver a
mortandade de peixes. Mas a adoração estúpida que lhe fizeram dava claros
sinais de que era a vinda do próprio Cristo que estava se consumando, e ainda
por cima, nestas horrendas “paragens do poente”. Porém, os capiaus não
se fizeram de rogados. E como castigo maior lhe impuseram sofrimento e horrores
que ela jamais esquecerá: uma city tour pelo lodaçal, lixo e monturo. Viadutos
inacabados, Espaço Alternativo, cemitério de locomotivas, ponte escura, pífia
rede de esgotos, “açougue” João Paulo Segundo, banheiros da rodoviária,
dentre outras “atrações turísticas” claro que lhe assustaram.
Percebe-se que aquele “bicho feio
e sinistro” chegou por aqui antes da decência e do desenvolvimento. Chegou
também antes da consciência política para se votar e antes até da água tratada,
do saneamento básico, da iluminação pública e da arborização. Encontrou um povo
acomodado que tem medo do progresso e odeia ladrões, mas quase sempre só elege
candidatos desonestos. Desonestos e muitas vezes incompetentes. Com tanta gente
feia, mal vestida e desajeitada, a cidade mais importante dos roraimenses
sucumbiu facilmente aos encantos da “marmota indesejável”. “O que
diabos isso veio buscar aqui”? Devia ter sido a pergunta mais comum entre a
alegre matutada. “Deve ter vindo trazer a fartura, a bonança, o alimento, o
conformismo, a bem-aventurança, a bondade, o emprego, a educação e a saúde
pública de qualidade”, acreditariam outros.
Só se trouxe esses benefícios mesmo,
pois medalhas olímpicas não combinam com um lugar onde atletas pedem esmolas
nas esquinas para poder participar de competições nacionais. Pobreza, miséria, mentiras,
fumaça, desemprego, corrupção, desvio de verbas, golpe parlamentar, zika, chikungunya,
dengue, malária, morte de uma onça, além de muitas outras desgraças é o legado
mais visível que este “venerado troço” deixou na região. A terra do
fraco “Genus do tapetão” e da lendária “Arena Guaporé”, o Aluizão,
nem devia ter sido visitada pelo pomposo “boi de ouro”. A imprensa
marrom e reacionária transmitindo tudo ao vivo foi o máximo. O circo só não foi
maior por que Boi e Carnaval não combinam com carniça, poeira, calor, lama e
atraso. Os políticos, heróis dos eleitores locais, poderiam tê-la levado para o
salão da Assembleia Legislativa ou o da Câmara de Vereadores. Ou ao “sem
data” Flor do Maracujá. Haja festa na roça!
*É Professor em
Porto Velho.