sábado, 25 de julho de 2015

E se o mundo fosse Rondônia?



E se o mundo fosse Rondônia?

Professor Nazareno*

Certamente seria uma desgraça só. Tudo o que conhecemos estaria virado de ponta-cabeça e se precisaria reinventar ou adaptar muitas coisas. A torre Eiffel de Paris, por exemplo, ainda hoje estaria inacabada aguardando verbas para ser concluída. O Ministério Público francês e as autoridades locais já tinham, há muito tempo, desistido de vê-la de pé encantando turistas. A famosa ponte Golden Gate da Califórnia nos Estados Unidos seria escura como breu e em vez de se situar na baía de São Francisco estaria fincada no meio de algum deserto ou lugar ermo ligando literalmente o nada a coisa alguma. As principais cidades do mundo seriam sujas e imundas, sem água tratada ou saneamento básico. No verão quente, a poeira sufocante era a paisagem normal. No inverno, também quente, lama e sujeira seriam companheiras inseparáveis das pessoas.
A EFMM e a sua praça serviriam como os Jardins de Versalhes (ou Versalle?). Em vez de flores e paisagismo de encantar, haveria só merda, garrafa pet, vendedores de picolé, banana frita e muita sujeira. Grandes universidades como Stanford, Harvard, Cambridge, Oxford ou Yale simplesmente nem existiriam. Em vez disso teríamos Unir, Faro, Uninorte, Uniron, FIMCA e São Lucas. Nos esportes não teríamos o futebol-arte e encantador de grandes seleções como Alemanha, Holanda e Argentina. Teríamos o Genus, o VEC e o Ariquemes. A maior arena de futebol não seriam os grandes e aconchegantes estádios como o Alianz Arena de Munique, o Estádio Azteca do México, o Camp Nou de Barcelona ou o lendário Wembley de Londres, seria o Estádio Aluízio Ferreira com o muro caindo, sem iluminação e capacidade para só duas mil pessoas.
Políticos de renome mundial como Harry Kissinger, Helmut Kohl, Eisenhower, Franklin Roosevelt, Margareth Thatcher e Charles de Gaulle sequer teriam existido. Em vez disso teríamos Mauro Nazif, Padre Ton, Lindomar Garçon, Hermínio Coelho, Dalton di Franco e Confúcio Moura. Já pensou a terra, com toda a sua complexidade e jogos de interesse, sendo administrada por um blog? A Assembleia Legislativa do Estado seria uma espécie de Conselho de Segurança da ONU e controlaria todas as decisões internacionais. E como Rondônia seria o mundo, a Câmara de Vereadores de Porto Velho auxiliaria a ALE na condução dos destinos da humanidade. Corrupção não existiria neste mundo mais do que fictício. Justiça com as próprias mãos seria lei e a Bíblia, uma espécie de Declaração dos Direitos Humanos. A OTAN seria a 17ª Brigada.
Na cultura não teríamos grandes poetas ou jornalistas. Os melhores seriam o Carlos Moreira e o Professor Nazareno, os dois vindos, claro, de outro mundo. A música ainda estava indefinida entre o Rock e o Boi-bumbá. Grandes teatros como o La Scala de Milão, Palais Garnier de Paris, Metropolitan de Nova Iorque ou o Royal Opera House de Londres até que existiriam, mas ainda estavam esperando o alvará para funcionar. A mídia mundial, pasmem, seria representada pelo rondoniaovivo, tudorondonia, rondoniagora, rondoniadinamica, rádio Parecis e a TV Rondônia, com sua programação insossa e atrasada. Nada de BBC, Washington Post, CNN ou Deutsche Welle. Ainda bem que o mundo não é Rondônia nem vice-versa. Assim, grande parte da população estaria pesquisando a existência de outro planeta habitável para fazer as malas e se mudar sem a possibilidade de fazer o caminho de volta. Saudade não haveria.




*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Destino: Curitiba das flores



Destino: Curitiba das flores

Professor Nazareno

Ultimamente tenho adoecido muito. Toda vez que a pressão arterial aumenta me bate uma diarreia sem fim. Além disso, suores frios, taquicardia e visão embaçada têm me incomodado bastante. Procurei vários médicos em Rondônia, mas eles nunca me atendem. Estão muito ocupados em suas fazendas cuidando dos seus cavalos e bois. Um único médico, formado por aqui mesmo, credenciado pelo meu plano de saúde, sem fazenda por enquanto, resolveu me atender e disse que o meu problema é uma virose que está apresentando complicações. Impaciente e com medo de que o pior acontecesse, viajei a Curitiba no Paraná, onde tenho alguns parentes, com o objetivo de buscar socorro médico. “Aqui faz muito frio, por isso traga roupas pesadas”, foi logo avisando uma prima distante, em cuja casa fiquei hospedado durante minha temporada por lá.
Fui consultado por dois médicos em uma UPA na periferia da cidade e o diagnóstico foi preciso: lombriga mesmo. Medicado, fiquei bom em poucos dias. Tomei muito mastruz com óleo de rícino para expulsar os vermes que me corroíam por dentro. Fora isso, não gostei muito da capital dos paranaenses, não. Lá quase não se encontra farinha de mandioca. Uma cidade que não tem fartura dessa preciosidade não pode ser um bom lugar mesmo. Além do mais, nem se pode comparar Curitiba com Porto Velho. Ganhamos de goleada dos metidos paranaenses. Eles não têm uma ponte como nós. Nem rio de verdade eles têm. Acho que é por isso que muitos curitibanos sofrem de depressão. O pôr do sol no rio Madeira será eternizado como o mais bonito do Brasil e isso ninguém tem lá pelas bandas do sul do país. A natureza deu foi muito frio para eles.
Lá, existe uma praça enorme de nome Jardim Botânico que por sinal é um lugar muito feio. Não vi uma única ruma de merda naquele logradouro cheio de flores. Compará-lo com a nossa linda Praça Madeira Mamoré é um acinte. Existe no mundo praça mais bela e limpa do que a EFMM? As locomotivas de Curitiba fazem turismo num caminho perigosíssimo em cima da Serra do Mar. Já as velhas Maria Fumaça daqui estão tranquilas descansando num monturo cheio de ferrugens e abandono no meio do mato. O transporte público naquela cidade é um horror. Nunca entendi por que eles não convidam Mauro Nazif ou outras autoridades de Porto Velho para dar palestras por lá nessa área. Curitiba se parece um cemitério com tantas flores nas praças e avenidas. E pior, não é como a nossa Porto Velho, que tem muitas atrações turísticas para se ver.
Além de ter recebido de presente de minha prima algumas roupas de inverno que eles não usam mais, descobri que longe de Porto Velho eu não resisto por muito tempo. Acho até que as minhas inseparáveis lombrigas morreram de tanto frio. E como viver sem elas num lugar tão paradisíaco como a capital das “sentinelas avançadas”? Curitiba é muito brega mesmo. Lá eles terminam quase todas as obras que começam e a proporção de água encanada e esgoto por habitante é alta. Quanto atraso! Eles se acham europeus. Ali é um lugar sem civilidade: o governador do Estado, por exemplo, espanca professores em greve enquanto aqui docentes e Governo são todos aliados. Fiquei espantado: quase todas as mulheres curitibanas são lindas, simpáticas, falantes, sotaque europeu, arrumadas, bem vestidas e supereducadas. Será que elas amariam homens com lombrigas? “Lá nessa tal de Roraima o povo sabe o que é internet e Facebook, primo”?


*É Professor em Porto Velho.

domingo, 19 de julho de 2015

E se a Ditadura voltasse?



E se a Ditadura voltasse?

Professor Nazareno*

            O Brasil desde 1985, ou seja, há exatos 30 anos, está vivendo um regime democrático. Nunca antes nos nossos mais de 500 anos de História tivemos “essa civilidade” por tanto tempo. Mesmo aos trancos e barrancos, o nosso país é reconhecido internacionalmente como uma democracia. Mas já há muitas pessoas incomodadas com tanta liberdade. Aves agourentas já pedem abertamente a volta daqueles tempos de chumbo sem ao menos perceber que para os males da democracia o único remédio é mais democracia. O presidente da Câmara dos Deputados rompeu recentemente com o Palácio do Planalto. A corrupção tomou conta das principais repartições públicas de Brasília e do país. O PT, partido que está há pelo menos 13 anos governando o Brasil, tem vários de seus dirigentes presos na Operação Lava-Jato. Problemas não nos faltam.
            Como se não bastasse todo este cenário apocalíptico que estamos vivendo, a presidente Dilma Rousseff está com índices baixíssimos de aceitação popular, a economia está em bancarrota, greves pipocam diariamente no serviço público, a inflação insiste em rondar a casa dos brasileiros e nunca houve tanto desemprego como agora. Talvez por tudo isso e por saudosismos daqueles tempos bicudos, o clamor pela volta dos “milicos” tem se intensificado pelo país afora. Mas imaginemos que a conjuntura política internacional mudasse de uma hora para outra e tivéssemos um golpe militar igual ao de 1964. Os urutus nas ruas até que mudariam a paisagem insossa e deprimente que temos visto ultimamente. Como ficariam as coisas? Muitos dizem categoricamente que melhorariam. Será que os generais nos administrariam tão bem?
Censura à mídia, eleições indiretas, torturas, cassações, DOI-CODI, cerceamento das liberdades individuais, perseguição à oposição, mortes, espancamentos, controle do Legislativo e do Judiciário, conchavos, endividamento externo, proibição de greves, manifestações e também, para não fugir muito à realidade atual, muita corrupção, ataques ao Erário e roubalheiras. Tudo isto seria parte da nossa nova realidade. Com os militares dando as cartas em Brasília, todos os governadores, prefeitos de capitais e senadores, eleitos de forma democrática, seriam substituídos automaticamente. Para administrar Porto Velho, seria indicado o médico Mauro Nazif. Político experiente e de grande aceitação popular, Nazif mudaria, enfim, a cara da capital dos rondonienses. Para governador de Rondônia o indicado seria o médico do Tocantins, Confúcio Moura.
Na nova ordem política nacional, todos os sindicalistas seriam presos, torturados, processados e exilados. A OAB seria extinta e qualquer advogado que ousasse defender o PT, o PMDB, a CUT ou qualquer outra “entidade subversiva” seria sumariamente perseguido e expulso do país. Nas escolas, voltariam as disciplinas Educação Moral e Cívica e OSPB. Todos os dias o Hino Nacional seria cantado e a “ordem” voltaria ao ambiente pedagógico. Suspensa, a Constituição seria logo substituída pela Bíblia. E nada de Estado laico. Todos os homens, por motivos óbvios, não poderiam deixar a barba crescer. E quem tivesse nove dedos nas mãos, seria considerado inimigo do Estado e enquadrado na Lei de Segurança Nacional. O odiado Professor Nazareno, claro, não mais escreveria suas sandices e da Bolívia administraria suas muitas igrejas evangélicas espalhadas pelo país. Por que os militares não voltam?




*É Professor em Porto Velho.

sábado, 18 de julho de 2015

Nazareno, o professor mais polêmico de Rondônia



Nazareno, o professor mais polêmico de Rondônia
Sábado, 18 de Julho de 2015 / 09:54 - Atualizado em Sábado, 18 de Julho de 15 / 10:35

Uma conversa franca com o Professor Nazareno. Provocador, sarcástico e ácido.

Foi se desculpando pelos 3 minutos de atraso para a entrevista que ele chegou. A imagem carrancuda que ele passa em seus artigos, não condiz com aquele homem falante e bem humorado que adora dar sonoras gargalhadas. Como todo bom professor, é provocando reações que ele se diverte. E ele sabe fazer isso com maestria. É um pouco o Nelson Rodrigues local, que em seu tempo, gostava de provocar a sociedade burguesa questionando sua moral. 


Nazareno é o tipo de autor que o leitor vai amar ou odiar. É difícil ficar indiferente à sua acidez. O leitor mais conservador ficaria ruborizado - se é que nos dias de hoje, alguém ainda se ruboriza- se lesse os comentários daqueles que se enfurecem com seus artigos. Por outro lado, é defendido com muita ênfase por aqueles que o admiram. 

Talvez ele tenha razão quando diz que 40% das pessoas que gostam dele tomariam um tiro por ele. E os outros 40% dariam o tiro. 

Polêmico, irônico, sarcástico e acima de tudo provocador. Assim é o professor Nazareno. Mas afinal, quais são seus motivos para provocar tanto os seus leitores e o que ele pretende com isso?

Confira abaixo a entrevista.

Qual o pior sentimento coletivo?
O pior sentimento coletivo é o patriotismo. Nós fomos ensinados e acreditar  que a terra onde nascemos é a melhor coisa do mundo. Dissemos " eu amo a minha terra, eu sou paranaense, eu sou mineiro, eu sou brasileiro. A terra onde nasci para mim é tudo, mesmo que eu esteja passando fome". 
Acontece que  a terra onde você nasceu, não vai lhe dar absolutamente nada. Quem vai  dar é a sua competência, o seu trabalho, a sua honestidade e a maneira como você vai caminhar. Mas vai dizer isso ao povo. Ninguém aceita isso. 

O senhor foi para a Alemanha tempos atrás e se simpatizou muito com o país. Para quem o senhor torceu no jogo do Brasil contra a Alemanha?
Eu torci para a Alemanha porque eu gostaria de morar lá só para poder falar mal deles.( risos)
Eu não gosto de futebol, mas eu vi que o Brasil não tinha time para perder de 7x1 para a Alemanha e os alemães não tinham time para ganhar do Brasil de 7x1. De jeito nenhum. O Brasil perdeu para a falta de organização e disciplina, coisa que os alemães dão um banho em nós. Então eu achei que eles deveriam ganhar. Eles foram o diferente. Mas foram o diferente não exatamente para aparecer e sim para questionar, para nos fazer olharmo-nos no espelho. Se eu lhe critico, primeiro eu preciso me criticar. Cada um de nós precisa ter a hombridade de se olhar no espelho e dizer: estou diante de um grande idiota.

O senhor escreveu um artigo intitulado " O frio não combina com Rondônia". Porque não combina? 
Aquele texto foi para o professor Nazareno. Eu estava ali naquela quarta feira dia 23 de julho de 2013. Eu durmo e acordo bem cedo. Acordei e meus estavam lábios ressecados e havia um cobertor grosso sobre a minha cama. Me levantei e não quis chamar minha esposa e achei estranho tudo aquilo e fui tomar água. Era umas 5:30 da manhã. Abri a torneira e não tinha água e desci para buscar uma garrafa no carro, mas desci de bermuda e camiseta. Abri o portão deveria estar uns 25 graus. Mas era para mim um frio polar. Eu subi correndo, morrendo de frio e chamei. Fui pegar uma blusa na gaveta. E voou uma barata e mesmo assim eu peguei a blusa e usei. Calção, sandália e blusa e notei que tinha uma naftalina no bolso da blusa. Quando eu vi minha imagem no espelho levei um susto com aquelas roupas nada a ver e cheirando a naftalina eu pensei.Meu Deus, o frio não combina com Rondônia. 
O grande personagem daquele texto sou eu mesmo. Eu ridicularizei a mim mesmo. 
  
Mas em alguns outros textos o senhor ridiculariza as pessoas. Por qual razão? 
Para causar nestas pessoas a coceira, uma sarna para ver se elas conseguem raciocinar e não elegerem estas tranqueiras que tem nos roubado e nos enganado e  administrado tão mal esta cidade. Meus alunos me dizem que eu deveria falar do político e não do povo, porque o povo, coitadinho, não tem culpa de nada. Mas tem culpa sim. É quem tem mais culpa. 

O que um texto precisa causar nas pessoas?
Precisa causar amor ou ódio. Ele tem que fazer com que as pessoas se reflitam nele, que olhem para ele e vejam o monstro que nós somos, porque não admitimos de maneira nenhuma que temos uma hipocrisia latente e é assim em quase todas as sociedades do mundo. Não apenas a questão da hipocrisia, mas principalmente ela. A falta de conhecimento que temos em relação a nossa própria realidade. Reproduzimos o senso comum em praticamente tudo. 

De que maneira? Por exemplo.
Reproduzir o senso comum pegando um exemplo recente, é torcer pela banda Versalle. Isso é reproduzir o senso comum. 

Mas isso não significa torcer por alguém que está ali perto da gente?
Mas é senso comum. Porque precisamos questionar sempre. Nos questionar sempre." Prefiro ser esta metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo". É mais comodo não questionar. Então vamos torcer pela banda. Nada contra mas será que eu fui o único a dizer que não a conhecia ? Se não fosse a Globo eu não teria conhecido a Versalle, da mesma forma que eu não conhecia o Cristiano Araujo. Mas eu não posso dizer isso porque estarei desmerecendo. Eu não desejo que eles façam sucesso, como eu acho que eles tem direito, porque é bonito, é gostoso de ouvir. 

No texto sobre a Banda Versalle, o senhor brinca, inclusive com as formas variadas das pessoas pronunciarem o nome da bana. Mas qual foi a crítica real? 
Se eu tivesse a oportunidade de fazer sucesso com uma banda, eu colocaria um nome daqui. Está muito afrancesado e eu não sei o que significa e por isso eu brinco usando 6 formas diferentes de falar o nome  e são formas utilizadas pelas pessoas.
Eu tenho mais de 600 textos e raramente não tem uma crítica à administração pública. Eu uso como pano de fundo o que está em evidência no momento.  
 Veja bem. Nós temos um teatro onde foi gasto muito dinheiro para ser construído e é o melhor  da região norte superando o do Amazonas e no entanto, as pessoas tiveram que assistir a apresentação de um ballet, maravilhosa por sinal, vendo só o "mocotó"dos dançarinos e as pessoas na platéia estavam sentadas em cadeiras de plástico.
A crítica foi em cima da falta de respeito da administração governamental para com o povo. Depois fui ver a orquestra Villa Lobos. Meu Deus. Que maravilha. Eu paguei 300,00 Reais para ver o Ballet e fui ver de graça a Villa Lobos. Eu deveria ter pagado 300,00 para ver a orquestra. Porque vale. é um trabalho muito bem feito e eles estão colocando dinheiro do próprio bolso.A minha crítica é em cima desta falta de respeito. 

No último artigo o senhor termina dizendo " e chega de boi". Esqueceram do Flor do Maracujá?
Exatamente isso. De repente todos esqueceram o boi e o Flor do Maracujá e falavam apenas da Versalle, em pleno festival com apresentação do Corre Campo, por exemplo. É uma incoerência. Eu vejo que as pessoas precisam ter o cuidado de observarem atentamente. Todos da imprensa, tem de minha parte um grande respeito, porque são pessoas que fizeram o que eu não tive coragem de fazer. 

Por exemplo.
O Zekatraca, por exemplo, há anos faz o que pode pela cultura. Mas é João Batista pregando no deserto. Já levaram o Flor do Maracujá para tantos lugares diferentes  que está faltando só colocar em cima da ponte, que aliás é escura.  Ou seja, isso é falta de respeito e isso não cria, de certa forma, a tradição. Cultura é tradição. Falta a população vestir a camisa. Mas não me dão o direito de falar  porque eu não sou rondoniense. . 

O que o senhor acha da expressão " não gosta daqui, então vá embora"? 
Grande parte das pessoas que leem os meus textos, lamentavelmente nao conseguem compreender  o que está escrito e na maioria das vezes, são pessoas desprovidas da argumentação e usam a frase " não gosta daqui vai embora". E eu vou para onde? Vai resolver o problema dele? Não. . 


Os seus textos são recheados de humor e críticas ácidas demais. Porque esta toda esta acidez?
Elas não querem sair da sua zona de conforto. Dificilmente eu respondo ao meus leitores. Eu tive no meu blog quase 17.000 acessos com o último artigo. E Havia muitas críticas boas, coerentes e bacanas. Mas havia também muita baixaria. E eu fico com medo. Eu não sei o que aconteceria se estas pessoas me encontrassem  e eu tenho medo. Mas elas precisam entender que precisam sair da sua zona de conforto e começar a pensar mais, questionar mais. 
Eu culpo a todos nós. Nós somos passíveis demais, Provoco para ver se conseguem dar esta resposta , mas não conseguem, porque a maioria não tem a capacidade de argumentar e levam para o pessoal e se sentem ofendidos.

O brasileiro está pensando pouco? E o que é exatamente, pensar?
O brasileiro não está pensando. Poucas pessoas, talvez 20% pensam. 
Pensar é ter a noção exata da sua vida, dos seus direitos e da sua cidadania. é questionar sobre a quantidade de poeira em Porto Velho, tanta lama, sobre o porquê do  Espaço Alternativo está daquele jeito, o porquê de não terem terminado os viadutos e jamais terminarão. Porquê a ponte não tem iluminação?  Eu estou satisfeito com a minha cidade? Alguém está ganhando com estas obras inacabadas. Esta cidade está uma loucura. Eu estou aqui há 35 anos e trabalhando feito um condenado e pagando quase 40% do que ganho em impostos. Meu imposto está sendo bem empregado? Acho que não. Pagamos transporte caríssimo, planos de saúde, condomínio porque não temos segurança e onde está o retorno? Temos direitos. Portanto, eu penso a partir do momento que estes meus direitos estão sendo vilipendiados, roubados. Se paga imposto em cidade nova e velha. Respeitem meu dinheiro. Mas eles não respeitam e depois na eleição seguinte, voltam com a mesma cara de pau. 

Como o senhor lida com as críticas?
Tenho leitores que me criticam ferozmente com tanta maestria que acabo tomando uma cerveja para ver se desce e depois publico a critica. 
Eu cresço com a crítica baseada em argumentos incontestáveis e tenho profundo respeito por este cidadão. Ele me ajuda a crescer. Eu amo este tipo de crítica. 
A crítica ofensiva me mete medo. A pessoa poderá acabar indo às vias de fato, porque são críticas rasteiras. 


Rondônia não tem uma identidade cultural. Como o senhor acredita que podemos ter uma?
A partir do momento que todo mundo deixou o boi e passou para o rock, se o rock fracassar pode ter certeza que irão buscar outra coisa. Nós não somos Parintins, não somos Campina Grande e não somos Rio de Janeiro, mas tentamos imitar tudo isso. Eu entendo que poderíamos ter uma boa identidade cultural e dizer "o é isso aqui?". Isso é a nossa identidade cultural e nos coloca, efetivamente como alguém que tem uma identidade. Mas não temos e percebo que há uma busca. 

De modo geral o que o senhor quer dizer nos seus textos? A clássica pergunta, o que o autor quis dizer? 
Que as pessoas precisam fazer uma reflexão sobre suas vidas. Elas trabalham, são seres humanos, tem direitos e eu gosto de dizer que se estas pessoas pensassem nas suas legitimas reivindicações, talvez não aceitassem facilmente tudo o que vem lá de cima e  que lhe é determinado, como enfrentar fila nos postos de saúde e hospitais. No último texto eu disse que há 6 meses não tínhamos escândalos. Acaba de estourar um esta semana. Isto é uma tristeza, Isto me mata. E eu me pergunto: onde está o dinheiro do IPVA? Roubaram de novo. E a população continua calada, sem questionar. E mesmo os 20% estão calados porque se sentem em uma zona de conforto, onde vive  o cidadão que ganha 3.000 Reais por mês e que consegue cobrir as despesas e tomar a cerveja e quer que o resto que se lasque.

Um dos títulos de seus artigos é " O satanás é o protetor de Porto Velho" Qual foi sua intenção e porquê este título? 
Por duas razões. Eu sou agnóstico. Não sei se existe Deus e o Diabo e nem entro nesta discussão e respeito quem acredita e quem não acredita. Mas esta dicotomia, Deus e o Diabo, ela é clara na cabeça de todos nós. Deus é a parte boa e o Diabo é a coisa que não presta. Se eu moro em uma cidade que tem 3% de água encanada, 2% de esgoto, a classe politica rouba o dinheiro, há corrupção, poeira e lama, como eu vou associar isso a Deus se Ele é bom? Não. Eu vou associar ao capeta. Então foi este o objetivo, fazer as pessoas entenderem que Deus jamais seria protetor daqui. Deve ser protetor de Munique e cidades assim, levando em consideração o aspecto da limpeza e organização .

Mas isso é mexer com a fé das pessoas e  a maioria tem religião. O senhor não acha que pegou pesado?
Não. Mas é você colocar algo da religião, que é inerente a todos os seres humanos, para uma realidade que não é inerente a todos.. Quando eu ouvi a  Banda Versalle e os 20 graus e um cobertor, eu percebi que estavam todos ensandecidos, então eu resolvi falar sobre a poeira e a lama e usar a banda apenas como pano de fundo. Da mesma forma em o "Satanás o protetor...", é apenas pano de fundo para denunciar os problemas. E não ha cobrança por parte da população.  

Mas o senhor mexeu até com a temperatura que independe do poder público. 
Aquilo é um determinismo geográfico. Eu nao concordo com aquilo. Obvio que não. Claro que não existe isso de que há ladrão do dinheiro público apenas em lugares quentes. Claro que não. Eu quero que entendam que 80% do que eu escrevo eu não concordo. mas as pessoas precisam serem sacudidas.

O senhor disse que gosta de provocar e fazer pensar. O senhor, como professor, acredita que as escolas estão fazendo isso?
Não. Elas gostam que seus alunos sejam aprovados nos cursos de medicina. E isto para mim é horroroso. Qual a melhor escola? É aquela que aprova a maior quantidade de alunos para o curso de medicina. Mas isto acontece em qualquer escola do Brasil. E não deveria ser assim. 

Quando a escola tem um professor que faz o aluno questionar, buscar respostas e provocar esta coceira, como o senhor disse, como ele vai trabalhar uma redação sobre corrupção, por exemplo, com um aluno, cujo pai é corrupto ou está envolvido em denúncias de desvio de dinheiro publico? Arrumaria encrenca com a escola? 
Viu como é difícil? Há uma dificuldade muito grande. Ninguém vai proibir e eu trabalhei em escolas maravilhosas, mas o professor se sente constrangido em trabalhar um tema assim. E para mim o pior sentimento é a auto censura. E eu faço isso comigo direto. Eu sou um filho da puta porque me auto censuro. Quantos textos meus eu já joguei no lixo. 
  
Mas a hipocrisia não é um mal necessário para viver em sociedade? 
Exatamente. A hipocrisia é um dos pilares que sustenta a sociedade. Sem ela a sociedade desaparece. Então precisamos ser hipócritas e a minha ironia vem daí, da minha auto censura. Eu não posso publicar determinados textos porque terei problemas. Eu gostaria de viver em um lugar onde eu pudesse publicar as minhas ideias mas isso não vai acontecer nunca, especialmente no Brasil. Falar o que pensa caro. Foi Abraham Lincoln que disse que " para arrumar inimigos basta dizer o que pensa" 


A população brasileira está interpretando mal o que lê? 
A população não gosta de ler. Os textos, quase que de modo geral, são curtos. Os meus por exemplo, eram grandes, mas diminui porque poderia cansar o leitor que não gosta de ler. Agora são curtos e incisivos. Eu percebo que talvez 70% não consiga entender o que está escrito ou entende errado. Mas isso é coisa do Brasil de modo geral. E isso me causa medo 

Qual a razão?  
A razão é a escola. Nós temos um dos piores ensinos do mundo, por incrível que pareça. As nossas crianças vão para a escola em um único turno, e isso é um absurdo, e o pior de tudo é que a educação não é valorizada em casa e além disso, nem todos os professores que tem o compromisso com o aluno. 
Na Escola João Bento da Rocha nós temos um projeto Terceirão. É um ótimo projeto que tem aumentado o número de aprovados, más ninguém nunca veio nos visitar, nenhuma autoridade. E eu pergunto, quanto ganha um bom professor aqui no Brasil? Ganha o mesmo que um mal, porque repete a ladainha;:o professor finge que trabalha, o governo finge que paga e o aluno finge que aprende. E todos tomam naquele lugar. 

Mesmo os alunos de escolas privadas não estão aprendendo?
Não. Isso se deve ao comodismo e ao fato de modo geral do brasileiro não valorizar a educação. Eu costumo dizer que eu vivo em uma sociedade preconceituosa, violenta, hipócrita, racista e que tem uma serie de problemas. E porquê a sociedade está assim hoje? Porque não investiram lá atrás, ainda na base. Rui Barbosa disse que uma sociedade que não investe em escola deveria construir presidio. A nossa não investiu nem em escola e nem construiu presídio. 

Como o senhor acha que será a sociedade futura?
Eu estou preocupado com a sociedade dos seus netos. Ela será pior que a de hoje. Eu digo para os meus alunos que quando eles tiverem 56 anos, eles estarão ferrados. Muito mais do que estamos hoje. Porque nós e o poder público não estamos fazendo absolutamente nada para as futuras gerações. E daqui 30 ou 40 anos iremos ter uma situação muito pior do que a de hoje. 

E o que o senhor acha que deve ser feito hoje para as futuras gerações? 
Eu não vou dizer que a Alemanha ou a França por exemplo, sejam  sociedades  perfeitas, Não. Mas em muitos aspectos são melhores do que nós e os problemas sociais são infinitamente menores do que os nossos porque investiram em educação. Cuidaram do futuro, na base  e nós não. Eles tem problemas também, Porém os nossos são muitos. 

Qual seria a idade ideal da base para começar a trabalhar?
Até 5 anos, porque com 6 anos uma criança já se benze e já está contaminada pelo vírus da religião. Aos 7 anos, a criança já mente e aos 8 demora 1 hora no banho e torna tudo mais difícil. 

E como seria este trabalho?
A coisa mais simples do mundo. A partir de 2016 toda e qualquer criança que for matriculada neste país, terá que estudar de manhã e a tarde e terá valores, comida na escola, professores qualificados, ensinamento de excelente qualidade. Em 2017 todas as crianças de 5 e de 6 que entrarem. Em 2027 estaremos terminando o ensino médio com crianças com as quais  trabalhamos em dois turnos e que tiveram uma visão diferenciada e então, quando estas crianças, 5 ou 6 anos depois, entrarem no mercado de trabalho, teremos uma sociedade bem diferente da que temos hoje. 

O que o senhor acha da redução da maioridade penal?
A maioridade penal tinha que ser 15 mas no Brasil não. Porque aqui é bandido querendo punir bandido. Não senhor. A maioridade em alguns países é de 12 anos, porém aqueles governos cobram, mas também dão. E aqui não dão nada e querem cobrar. Porém, com 15 anos, a pessoa já sabe o que está fazendo, mas aqui o estado foi omisso.
Eu acredito no Brasil
  
As pessoas acreditam que o senhor não gosta de nada em Porto Velho. O que há de verdade nisso?
Tanto não é verdade, que me casei com a joia mais preciosa do mundo. A minha beradeira Francisca Pereira, com quem estou casado ha 35 anos. 

Qual o seu sentimento por Porto Velho? 
Todos os melhores sentimentos possíveis do mundo. Tanto que sonho ver aqui transformado em um lugar melhor e colaborar para isso. Mas sei que eu não vou conseguir. Mas eu queria. Queria que tivesse mais flores, menos poeira, menos lama, menos violência. Queria que não tivesse viadutos inacabados, ponte escura, Eu queria que tivesse espaço alternativo decente e parques. Eu queria que fosse uma cidade. Mas aí alguém pergunta. E no Brasil tem?. Deve ter mas se tem eu não conheço. Eu não falo da realidade de outras cidades porque não vivo a realidade de lá. O que eu quero para Porto Velho é uma cidade mais humana. 

E porque não é humana? 
Porque a cidade nos agride com a forma como é administrada. A poeira, a lama, cachorro morto na rua me agridem. Tudo me agride e não deveria, porque eu ainda trabalho muito e pago para ter uma cidade humana e não tenho. E é um estado que leva quase 40% do que eu ganho. Na Alemanha, o imposto é de 43% mas como é a educação, o sistema previdenciário, as ruas, etc? Talvez bem melhores. Eu senti que é um país mais humano, mas eu não vivi la para saber. Não sei o que é uma rua cheia de neve e viver com aquilo. Mas eles tem uma sentimento coletivo. O brasileiro é individualista. 
Talvez uma das piores coisas que fiz na vida foi ter ido visitar a Europa, porque agora eu sei como é viver pensando no coletivo. . 

Quem é o professor Nazareno?
O professor nazareno é um sonhador. Tenho minhas opiniões e meu ponto de vista como todos. 

O que o senhor diria para quem lhe critica construtivamente e para quem lhe ofende
Hoje, no encontro com você, eu cheguei 3 minutos atrasado. Eu não gosto disso. Eu me cobro. Eu sei que não vou mudar o mundo, mas se eu tiver atitudes corretas e bons princípios de cidadania, eu  serei um filho da puta a menos. 

O que o senhor espera das pessoas que leem os seus artigos?  
Em relação aos textos, não se atenham ao que está escrito. Se atenham principalmente no que está além do que está escrito. Isso é fundamental para compreender. É o primeiro fato. Se você se ater à palavra escrita, você morre ali.. É preciso entender o que está por detrás das palavras.  
As pessoas precisam entender que se há Deus. há o Diabo. 
Muitas pessoas vão dizer que você é uma mulher bonita, mas não todos. 
40% vai dizer que sim, 40% vai dizer que não, 15% não está nem aí e 5% não participa. Tudo o que falamos  é passível de critica, porque não há verdade absoluta.
Por outro lado, nunca pedi para ninguém ler o que escrevo. Se o fazem é porque querem se aborrecer. É por que aceitam sair de sua zona de conforto, de sua comodidade. 
IMPLORO: não leiam o que escrevo. Procurem ler Nietzsche, Machado, Clarice, Drummond, Foucault, Veríssimo, Mario Puzo e tantos outros bons escritores. Mas se quer ler o Professor Nazareno, não espere alegrias. Textos é para causar causar coceiras e curubas.

E o que espera das pessoas em relação a cidade de Porto Velho? 
Que elas consigam doar a Porto Velho o amor que ela precisa e que dizem sentir. Tenha certeza que assim teremos uma cidade melhor.
Pare em um semáforo e você verá quantas pessoas estão atravessando o sinal vermelho, mesmo os pedestres, porque tem sinal verde para eles. Como param em fila dupla, estacionam de qualquer maneira. Elas não amam Porto Velho na prática. E amamos também cobrando das autoridades. 
Quantas pessoas participaram efetivamente de reuniões no sentido de estabelecer mudanças? 
Você se lembra da passeata contra a violência quando Naiara foi assassinada? Havia pouquíssimas pessoas. Não se preocupam porque não foram com elas. Porto Velho está suja, mas a minha casa está limpa. O transporte público está uma porcaria, mas eu tenho carro. Esta realidade não é uma coisa exclusiva  de Porto Velho. É do Brasil inteiro, más a minha realidade é aqui e  a realidade de outra cidade não me interessa.Eu moro é aqui. 
As pessoas precisam se manifestar mais coletivamente e precisam compreender que sempre haverá alguém do contra. Eu já elogie muitas coisas. No texto sobre a Versalle eu elogio a Villa lobos, porque eu adoro a orquestra e ja chorei ouvindo-os tocar Vivaldi. São daqui. Alguém viu o elogio? Não. Se você critica 1% e elogia 99%, vão ver o 1% . Eu não sou negativo, eu sou é pessimista. Vou parafrasear o saramago:é o mundo é que é péssimo. 

Porque o senhor gosta tanto de Calama? 
Eu amo demais Calama. No dia 04 de abril de 2014, na enchente histórica eu fui pra Calama só para saber como o povo de lá estava, porque eu queria sofrer com eles. Eu fui la. e conversei com todos mundo. Eu acho importante isso. Os alpes na Europa são lindos, mas nada se compara ao igapó em Calama. É imbatível aquela canoa. Vá em Calama, entra em um igapó. Que beleza, que beleza. 

O senhor se candidataria a um cargo público? 
Eu só me candidatarei quando eu quiser saber o meu preço. Porque eu tenho um, mas não quero saber quanto. Por isso não me candidato a nada.
E já pensou se eu ganho? Eu iria sumir daqui no dia seguinte. ( risos)

Fonte: Entrevista e matéria: Sandra Santos - Fotos: Acervo pessoal Professor Nazareno