sexta-feira, 28 de março de 2014

Março de 1964: 50 anos de agonia



Março de 1964: 50 anos de agonia


Professor Nazareno*

           Há exatos 50 anos, setores militares brasileiros pressionados pela elite civil do país, por meio de um golpe militar, quebravam as regras institucionais vigentes e solapavam a nossa frágil democracia. A elite nacional, que estava receosa com o avanço do comunismo e inspirada pelos ideais norte-americanos, incentivou e patrocinou a aventura armada que mergulharia o Brasil em 21 anos de escuridão política. Enquanto durou, a tosca aventura fardada se chamou pomposamente de Revolução e somente depois de 1985 com o seu ocaso, convencionou-se chamá-la simplesmente de golpe militar. Apoiados por grande parte da alienada população brasileira, os golpistas deram a desculpa de estarem protegendo a ameaçada democracia de irresponsáveis grupos armados inspirados pelo comunismo da antiga União Soviética. Era a Guerra Fria.
         No entanto, a vítima daquela malfadada aventura era somente a democracia. Muitos militantes de esquerda foram enfrentados sob a acusação de tentar implantar por aqui um regime pró-soviético e antidemocrático, enquanto as classes dominantes se encarregaram de dar um fim definitivo às aspirações comunistas. Quem vencesse a contenda “presentearia” o país com um regime de exceção. Por isso, os ganhadores, no caso a elite de direita e os militares golpistas, empurraram-nos de goela abaixo mais de duas décadas de trevas, cerceamento das liberdades individuais, ataques sistemáticos à democracia, perseguições políticas, medo, torturas de oposicionistas além de outras excrescências típicas das ditaduras de repúblicas bananeiras do Terceiro Mundo. No “campo de batalha”, os DOI-CODI viraram sinônimos de aceitação do contraditório.
            Porém, muitos dos perseguidos e torturados daquela época, hoje viraram autoridades e em alguns casos estão reproduzindo todo o mal que combatiam tenazmente. Embora ungidos pelo voto democrático, vários dos atuais mandatários chegaram ao poder denunciando a corrupção e os desmandos, mas inventaram e ainda defendem o Mensalão. Reclamavam também da pouca ou nenhuma independência entre os poderes constituídos, mas influenciaram na escolha de Ministros do STF para obter vantagens em julgamentos de seus corruptos comparsas. Se a Ditadura Militar foi fartamente acusada de usar o futebol, paixão nacional, para alienar ainda mais a população brasileira, o que dizer da aceitação e da organização da Copa de 2014 pelo ex-presidente Lula e defendida por setores do PT, o Partido que está no Poder?
            Paulo Maluf, Jáder Barbalho, o falecido ACM da Bahia, José Sarney, Fernando Collor, a Rede Globo dentre outras figuras carimbadas que sempre defenderam o regime militar e com ele compactuaram, hoje são amigos íntimos e até colaboradores do PT. Igualmente aos petistas, essa gente, assim como os militares, nunca gostou dos brasileiros comuns e nem do Brasil. Como o PT, os golpistas não tinham um projeto de Governo, mas só de poder. A tão combatida censura à mídia da época dos generais hoje se chama Marco Civil da Internet. A eliminação de aliados incômodos, prática usual dos milicos, teve sua versão com Celso Daniel. A alienação total da população é imitada à risca pelos petistas. A política do “pão e circo”, tão execrada durante a Ditadura, hoje garante vitórias seguidas aos “companheiros”. Até os comunistas aderiram ao projeto de poder proposto pelos novos donos do Brasil. Meio século de sofrimento imposto aos brasileiros tanto pela direita quanto pela esquerda precisa acabar ou estaremos fritos.



*É Professor em Porto Velho.

terça-feira, 25 de março de 2014

Deixem o Dr. Mauro em paz!



Deixem o Dr. Mauro em paz!

Professor Nazareno*

            O vereador Léo Moraes do PTB, na sua incansável faina diária, deixou a entender que pode votar o impeachment do Prefeito Mauro Nazif de Porto Velho devido, dentre tantas outras irregularidades, ao escândalo envolvendo as cestas básicas para os desabrigados da enchente histórica do rio Madeira e aos recentes casos de corrupção que se avolumam em órgãos da administração municipal. A iniciativa do nobre vereador é pertinente, pois se for feita uma pesquisa na cidade, verifica-se que o índice de rejeição do atual Prefeito está muito alto e que quase 90% da população local quer vê-lo pelas costas, mas não creio nesta empreitada, pois sigo os ensinamentos do ex-presidente dos Estados Unidos, Lyndon Johnson, de que “se há um idiota no poder, os que o elegeram estão muito bem representados”. Ou seja, nós próprios.
            E um dos problemas talvez resida neste fato: estamos querendo que as nossas autoridades se comportem e ajam como se fossem governantes do mundo desenvolvido e civilizado. Se estamos agindo como cidadãos de um mundo subsaariano e atrasado, não esperemos que os nossos mandatários façam diferente. Nazif é igual a qualquer um de nós: é brasileiro de nascimento e foi votado por brasileiros também. Lógico que só poderá agir como um autêntico político brasileiro. Podia ser diferente? Além do mais, Porto Velho não é Munique, Londres ou Paris. É uma cidade sem água tratada, sem saneamento básico e cuja maioria da população sujamos diariamente as ruas, as poucas praças e logradouros municipais. Nesta enchente histórica do Madeira, o que mais se observam são garrafas pet, imundícies, carniça e lixo boiando nas águas infectas.
            Léo Moraes devia parar com esta implicância boba e se juntar aos seus pares da Câmara Municipal com o objetivo “nobilíssimo” de conceder títulos de cidadão de Porto Velho para as “outras” autoridades. A atual administração pode até estar parada, mas acho que ele poderia ser muito mais útil se fosse à tribuna para defender e isentar, por exemplo, as usinas hidrelétricas de qualquer culpa por esta enchente histórica no rio Madeira. Aliás, como a maioria dos políticos locais e até nacionais estão fazendo. O maior problema de se exigir do Prefeito Mauro Nazif uma postura de trabalho e esmero é ver Porto Velho limpa, cheirosa e higiênica, coisas que não combinam com “uma cidade que engorda urubus”. Se a nossa capital sempre foi um lugar abandonado pelos seus administradores, por que só o Dr. Mauro teria que fazer tudo diferente agora?
            Mesmo assim, a saída do atual Prefeito pode ser um autêntico “tiro no pé” de nós portovelhenses, uma vez que assumiria em seu lugar o seu vice Dalton di Franco ou então Alan Queiroz, presidente do Legislativo municipal. Ou seja, não mudaria absolutamente nada para nós munícipes. Com o estado de calamidade pública já garantido na nossa cidade, quem cuidaria de nós tão bem como o Dr. Mauro? A inacabada ponte do Madeira e os viadutos na entrada da cidade, o DNIT se quiser que os termine. Quem precisa mesmo destes “elefantes brancos”? A Rua da Beira e a rodoviária nova é atribuição do Estado. E como não há buracos nem lama nas nossas ruas, o Prefeito deve continuar ou então entregar a sua administração ao PT. Incrível: a essa altura, todos já estamos sentindo saudades do “psicólogo do bigodinho”. Feliz, o Candeias conseguiu viver sem Prefeito. Será que sobreviveríamos sem o Mauro Nazif?




*É Professor em Porto Velho.

sábado, 15 de março de 2014

Ambição, hidrelétricas e enchentes





Ambição, hidrelétricas e enchentes

              Professor Nazareno*

A arte de se construir hidrelétricas no Brasil sempre foi uma das ações prediletas de grande parte das classes empresarial e dirigente do país. Tem sido melhor e mais rentável até do que construir estádios de futebol para a Copa do Mundo. Na Amazônia, é uma tarefa mais fácil ainda. Em Porto Velho, nem se fala. É como roubar pirulito de crianças. Primeiro, se escolhe o local dito adequado ou mais precisamente o rio que será a grande vítima da ganância empresarial. Os passos seguintes são bem mais fáceis de levar adiante visto que, a partir da escolha inicial, apenas se lidam com seres humanos e no nosso caso como se trata de brasileiros, a tarefa deslancha sem nenhum problema. O mais importante como sempre são os fins. E independente de qualquer coisa ou pessoa, a selvageria do capitalismo vai estar presente, pois há muito dinheiro em jogo.
       Por mais que sejam óbvios, previsíveis e inevitáveis, os prejuízos causados ao meio ambiente local serão sempre mitigados. E há tecnologia de sobra para se esconder a verdade. No começo, é até normal que haja falatórios, algumas pessoas contra os empreendimentos, ONGs de ambientalistas e talvez uns dois ou três eco xiitas, mas tudo  será facilmente explicado e grande parte da população atingida aplaudirá e defenderá “com unhas e dentes” a chegada do progresso à sua atrasada e inóspita localidade. E tudo é milimetricamente bem dosado para enganar os trouxas. Primeiro os jovens: não há Shopping Center na cidade mais próxima das construções? Com as hidrelétricas haverá um dos mais modernos. E outros virão em seguida. A rapaziada fica em êxtase. Aos funcionários públicos se oferecem isonomia e transposição que nunca acontecerão. 
           Profissionais liberais e toda a classe média, felizes, recebem lindos adesivos de “usinas já” para colocar em seus carros e casas. A mídia local, como sempre, é facilmente comprada para divulgar as benesses da obra. Já a classe política, mais suja do que pau de galinheiro, por concordar com tudo, se alia aos donos dos empreendimentos e por isso ganha presentes como assistir ao Carnaval na Marquês de Sapucaí dentre outros mimos. Em caso de “inesperadas” enchentes, culpa-se São Pedro e pronto. Da Presidente da República aos mais humildes (e tolos) cidadãos, todos isentarão as usinas pela catástrofe anunciada. Até as estradas alagadas, construídas com o nível mais baixo do que o das barragens, passarão despercebidas. "Hidrelétricas não produzem água, mas ao represá-la potencializam qualquer enchente provocando alagações fatais".
       A jusante das usinas, qualquer rio pode ser assoreado facilmente pelas absurdas explosões sem controle. E num curso de água rico em sedimentos a coisa fica mais óbvia ainda. Rios geologicamente novos não têm leito definido e por isso estão sujeitos a grandes e colossais desastres ambientais, mas tudo será profissionalmente muito bem escondido de todos, pois ninguém vai mergulhar para comprovar qualquer fato. E se pessoas forem expulsas de suas casas por causa de possíveis enchentes, também não haverá problemas: todos são pobres e se contentarão facilmente com míseras cestas básicas. Por isso, não há nada melhor do que ganhar rios de dinheiro público e ainda receber a compreensão e a desculpa de todos. Sem Carnaval e com a pseudo calamidade pública garantida, só resta esperar as eleições para contar a fatura.

                        

*É Professor em Porto Velho.

sábado, 1 de março de 2014

Ajudem a Banda e salvem Porto Velho



Ajudem a Banda e salvem Porto Velho

Professor Nazareno*

            Porto Velho, a charmosa e simpática capital do Estado de Rondônia, vai se acabar. E o iminente fim desta cidade não se deve, como muitas pessoas erroneamente acreditam, à maior enchente do indomável rio Madeira que lhe banha. E muito menos às constantes e desastrosas administrações a que fomos submetidos nas últimas décadas. O fim está muito próximo e quem nos diz isto são as teorias antropológicas e sociológicas de Claude Lévi-Strauss, intelectual franco-belga que afirmou certa vez que “para se destruir uma sociedade, basta destruir a sua cultura”. Os dois fatos acima citados têm influência direta no Armagedon porto-velhense, mas não são determinantes para este ocaso. Se a cultura daqui ainda não foi extinta em definitivo, está sofrendo com o passar dos tempos violentas e covardes investidas que apontam nesta incômoda direção.
A rotina de se destruir sistematicamente a “cultura” local começou há décadas por aqui. Se futebol é cultura como muitos acreditam, este esporte já não faz parte da rotina dos nossos habitantes há um bom tempo. Grandes clássicos entre Moto Clube e Ferroviário ou Flamengo e Ipiranga apenas povoam escassas lembranças. O futebol, reconhecido no Brasil inteiro como esporte das multidões, sobrevive hoje em alguns bares improvisados apenas para adorar times de fora do Estado. Porto Velho é a única dentre as capitais brasileiras que não tem este esporte. Não gosto de futebol, mas defendo o direito de sua existência. Expovel, Feira Agropecuária de Porto Velho, já deixou de existir faz um bom tempo apesar das mais de 12 milhões e cabeças de gado que Rondônia possui. Não é cultura, mas deveria ser-lhe assegurado o direito de existir.
O carnaval não me apraz, mas por que acabar com ele? Acho uma festa ridícula, sem sentido, alienante, tosca e que incentiva a bebedeira, as drogas, a vadiagem e a violência. Jamais iria a um desfile da Banda de Porto Velho, por exemplo. Mas não vê-la desfilando no sábado de carnaval juro que me deu muita pena. Porém, penso: Como pode uma Banda que se gaba de ter mais de três décadas de existência depender de um Mauro Nazif, de um Confúcio Moura ou de um Judiciário brasileiro para desfilar? Não conseguiu amealhar neste tempo todo infraestrutura suficiente para se bancar sem depender do dinheiro público? E os inúmeros blocos daqui, também não? Então não merecem mesmo sair às ruas. Deveríamos ter umas cinco ou seis bandas iguais a essa e uns duzentos blocos, mas nenhum vivendo à custa do Erário, mamando nas tetas.
O arraial Flor do Maracujá, festa bizarra e sem sentido e que também, para mim, não é cultura de forma nenhuma, foi desativado sem explicações há muito tempo pelo Poder Público local. Antônio Serpa, o Basinho, cujos bons textos, leio todos, disse que carnaval e enchente não são autoexcludentes. Tem razão, pois quem garante que o falso estado de calamidade pública não é artimanha de políticos mal intencionados só para se conseguir mais grana? Vejam o (mau) exemplo das cestas básicas da Prefeitura de Porto Velho. Péssimo sinal: pela primeira vez na história, o número de evangélicos que foram “encontrar Jesus” nos retiros mais próximos foi maior do que o número de brincantes da famosa Banda. Tomara que não seja o começo de uma feroz ditadura evangélica por aqui. Minha preocupação: sem estas bizarrices, como poderei produzir meus textos? Se Lévi-Strauss estiver certo, Porto Velho pode ir contando os seus dias. Sumirá do mapa.


*É Professor em Porto Velho.