sábado, 31 de outubro de 2009

Qual o maior símbolo da capital de Rondônia?


Porto Velho: uma cidade sem símbolo


Professor Nazareno*


Quase todas as cidades do mundo têm um símbolo que as identifica. Um acidente geográfico ou mesmo uma grande construção é comum aparecer nos guias turísticos como marca registrada do lugar. Apesar dos constantes tiroteios em suas favelas, o Rio de Janeiro tem o Pão de Açúcar ou mesmo a Estátua do Cristo Redentor. Nova Iorque tinha o World Trade Center e agora a Estátua da Liberdade é o seu símbolo maior. Paris tem a famosa Torre Eiffel. Roma tem o Coliseu e Salvador, na Bahia, tem o Elevador Lacerda e a paradisíaca Ilha de Itaparica. É raro não perceber e imediatamente associar a geografia ou a sagacidade do homem ao seu lugar de origem.

Porto Velho não tem símbolo nenhum. Dizem que As Três Caixas D’água também chamadas de “As Três Marias” simbolizam a nossa cidade. Se assim for, não existe tamanho mau gosto em outro lugar. Construídas juntamente com a Estrada de Ferro Madeira Mamoré é um monumento de aspecto lúgubre, vulgar e que sugere apenas a lembrança do capitalismo selvagem em nossas terras. Vistas de longe parecem querer imitar o órgão sexual masculino de três jumentos emparelhados. De aparência medonha, estaria assim mais para simbolizar qualquer cidadezinha lá dos cafundós do Nordeste do que para uma capital que se orgulha de ser “a cidade das hidrelétricas”.

Porém muitos rondonienses lhe dão importância. Recentemente, um hotel de padrão internacional quase teve a sua construção embargada por causa do monumento. “Encobriria a sua beleza e visão”, afirmou o Iphan como se alguém de bom senso quisesse ver aquilo. Sendo assim, bastaria mandar implodir o Palácio Presidente Vargas que se localiza bem a sua frente. Afinal, para que serve um Palácio que tem nome de um dos maiores ditadores da nossa História e que já foi apelidado de casinha da Barbie? Nenhum governador sentiria tanta falta assim. Poderíamos também mandar implodir a Reitoria da Unir já que esta universidade nunca serviu para nada mesmo. Se a Unir não existisse que falta faria aos porto-velhenses?

Infelizmente Porto Velho não tem símbolo nem História. Alguns saudosistas alegam que a nova administração municipal estaria destruindo todo o acervo histórico-cultural da capital. Um exagero, pois o lendário rio Madeira e a imponente floresta Amazônica que realmente nos simbolizam estão sendo destruídos de forma covarde e ambiciosa sem que ninguém dê um pio. Desde quando lugares onde se bebia pinga e se praticava a boemia podem ser considerados como de importância histórica? Esta cidade não pode mais viver do passado uma vez que já temos Parada do Orgulho Gay, Carnaval fora de época, ponte sobre o Madeira, viadutos, passarelas, mortes no trânsito, violência na periferia, pedintes na rua e até shopping center.

Qualquer destas construções poderia muito bem simbolizar a cidade. A ponte no Madeira, por exemplo, existe coisa mais absurda? Os rondonienses querem fazer ponte sem ter a estrada. Um monumento que servirá apenas para melhorar a vida de meia dúzia de capiaus e matutos que plantam mandioca no Projeto Joana Darc. Ou então servirá para tirar a “metrópole humaitaense” do isolamento. Serão muitos milhões de reais jogados fora. Coisa de gente da roça mesmo. Por isso uma estátua do Jeca Tatu, personagem de Monteiro Lobato, deveria ser erguida para simbolizar a capital já que a melhor definição para Porto Velho é: 400 mil matutos num canto só.


*Leciona em Porto Velho.


quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O que é ser JOVEM?


Ser jovem: esperanças no futuro ou problemas?


Professor Nazareno*


Existe um ditado popular afirmando que os jovens são o futuro do país. Quando perguntaram a Nelson Rodrigues que conselho daria aos jovens, ele não pensou duas vezes: “envelheçam rapidamente”. Afinal, o que tem a dizer um jovem de 17 ou 18 anos? “Nada. São os velhos que detém a sabedoria e que podem assumir a liderança. De Gaulle era velho. Mao era velho. Chiang era velho”. Todos os grandes cientistas e pensadores que mudaram ou influenciaram a história da humanidade eram velhos. Os jovens não servem para muita coisa hoje em dia neste mundo globalizado e consumista.

Em quase todos os eventos, lá estão eles, os jovens, tentando mudar de aparência como se o Criador não tivesse acertado a receita ao fazê-los. Se tiverem cabelos encaracolados, alisam. Se tiverem cabelos lisos, encaracolam. Loiros e loiras viram morenos e morenas e vice-versa. Dão mais importância a uma simples festa do que aos estudos. O jovem de hoje quase sempre é gordo. Dizer que estes cidadãos são o futuro do país é pura bobagem e idiotice. E talvez seja por isso mesmo que eles mudam, pois que país teria futuro com governantes aloprados e desinformados?

O maior problema é que a cada ano que passa a alienação bate forte nesta faixa etária da sociedade. Diferentes dos jovens das barricadas de Paris em 1968, dos que lutaram pelo fim da Ditadura Militar no Brasil, ou dos jovens da Praça da Paz Celestial em Pequim e mesmo daqueles que se encantaram e cantaram com grupos musicais de verdade, a maioria dos jovens de hoje está dentro de shoppings centers, não participam da política, odeiam a leitura, ficam pendurados a celulares ou computadores de mão e oficializam a prostituição substituindo “o namorar pelo ficar”. Verdadeiros idiotas.

Além do mais, muitos dos jovens atuais não sabem escrever um bom texto e desconhecem completamente alguns aspectos da História do Brasil e do Mundo. São capazes de afirmar, por exemplo, que foi Drummond (Carlos Drummond de Andrade) e não Dumont (Santos Dumont) que inventou o avião. Apesar da semelhança entre os nomes em questão, só um jovem mesmo para confundir a biografia destes dois grandes brasileiros. Um jovem atual consegue afirmar que a Segunda Guerra Mundial teve como causa principal a rivalidade econômica entre a URSS e a União Européia. Isto é hilário.

O jovem precisa de lazer, descanso e também de responsabilidades com o futuro. Não necessita encarar o mundo de maneira muito séria agora, mas deve entender que ninguém será eternamente jovem. O mundo está aí para crianças, jovens, adultos e velhos, para todos se divertirem. Mas é somente nesta fase da vida que se pode poupar energias para uma vida melhor no futuro. Evitar os vícios, a religião, as drogas (religião é droga), as intrigas e começar a investir na leitura, na boa música, no lazer e principalmente na grande capacidade que têm de imitar os mais velhos e copiar-lhes a experiência de vida.


*Leciona em Porto Velho.


terça-feira, 20 de outubro de 2009

Porto Velho, a cidade mais limpa e cheirosa do Brasil!


Sujeira em Porto Velho? Quanta injustiça!

Professor Nazareno*

No domingo, dia 18 de outubro, o Fantástico da Rede Globo acompanhou uma inspeção da Vigilância Sanitária em restaurantes de várias capitais brasileiras. Em Porto Velho, a sorteada foi uma churrascaria bastante conhecida dos consumidores da nossa cidade. Os clientes desse tradicional ponto de encontro dominical nem imaginam que frangos são descongelados dentro de um balde velho e sujo. A qualidade da carne também é duvidosa. “A carne está em um vasilhame em péssimo estado de conservação. Pela aparência, podemos dizer que a cor não está boa. É importante recolher, para segurança do consumidor”, afirmou um dos fiscais. É tanta ferrugem e falta de higiene que as duas velhas geladeiras não poderão mais ser usadas.

Esta mesma churrascaria já foi notificada pela segunda vez neste ano. Se não entrar na linha, ela pode ser fechada. Todos ficamos horrorizados. Um verdadeiro absurdo este programa relatar estas coisas. Como pode? Rondônia não merecia isto. Porto Velho é uma cidade limpa, arborizada, cheirosa, bem organizada e com quase 100% de esgotos e água tratada por isso não merecia virar manchete nacional só por causa desta besteira. Os repórteres e jornalistas desta emissora e deste programa deviam vir aqui e observar a realidade para não saírem por aí difamando a nossa querida metrópole. Por que eles não foram ao porto da cidade? Lá existe muita limpeza e higiene. É uma beleza natural e estonteante. Não existe lama nem sujeira e o local dá nome a nossa linda capital.

Essa gente poderia ter ido também à zona Sul da cidade ou à zona Leste ou a outra zona já que há muitas. Encontrariam, com absoluta certeza, ruas floridas, sem tapurus ou esgotos correndo a céu aberto. O cheiro inconfundível de perfume que exala das nossas avenidas certamente deixaria estes forasteiros tontos de tanta fragrância. Temos também o Arraial Flor do Maracujá, que em matéria de limpeza e higiene deveria ganhar uma espécie de Oscar. As comidas que são servidas por lá nem de longe se parecem com gororoba. Valas abertas e mal cheirosas é coisa rara por aqui. Os poços que abastecem os porto-velhenses de água sempre são cavados longe das fossas. Difícil encontrar algum que tenha qualquer tipo de bactéria ou mesmo imundície.

Mercado do Cai N’água, Mercado do quilômetro 01, feiras livres semanais dentre outras atrações turísticas da nossa capital são verdadeiros requintes de luxo e esmero em limpeza e boa higiene. Até o mandi, um pequeno bagre que se alimenta de fezes humanas, é odiado por estas bandas e quase não se vê a sua comercialização. A limpeza verificada em Porto Velho lembra Paris, Milão ou Viena. Quando um gato ou cachorro morre esmagado pelos carros do nosso organizado trânsito é imediatamente retirado do meio da rua, o local é dedetizado e a Prefeitura manda borrifar perfume francês para delírio dos transeuntes. Nossas escolas são todas limpas, nossos hospitais se parecem com shopping centers. Porto Velho, não. O nome da cidade deveria ser “Perfumópolis”.

Talvez o único lugar onde haja sujeira por aqui seja na política. Mas isto também é verificado no Brasil inteiro. Alem do mais, estes jornalistas desavisados poderiam ir ao “buchódromo” da cidade. Lá duvido que encontrem algum preservativo usado. Por isso seria bom que fizéssemos um abaixo-assinado para enviar à Rede Globo e exigir uma espécie de retratação da emissora. Ela foi muito injusta com Porto Velho e só por causa de uma bobagem não tinha o direito de manchar o nosso nome. Pois qualquer cidadão brasileiro ficaria encantado ao passear com a sua família pelas ruas da capital de Rondônia: sem violência, sujeira, lama, poeira ou travestis à noite as nossas vias são verdadeiras passarelas. O que mais se podia esperar de uma linda capital como a nossa?


*Leciona em Porto Velho


sábado, 17 de outubro de 2009

Vamos encarar mesmo o progresso?


Vamos perder o bonde da História


Professor Nazareno*


Há um bom tempo que não se ouve falar de outra coisa em Rondônia: com as obras do PAC, Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal, o dinheiro está “entrando a rodo” no nosso Estado. E é até possível observar na capital como o volume de obras pode ser uma demonstração da veracidade deste pensamento. Há realmente muitas construções sendo tocadas e muitas outras já projetadas: construção do CPA, Centro Político Administrativo, duplicação da BR 364, asfaltamento de algumas ruas e avenidas, construção de viadutos e passarelas, melhoria no saneamento básico de vários bairros, água encanada onde antes só havia poços, dentre outras.

Obras estas que os habitantes podem ver, se deslumbrar e acreditar que o dinheiro está sendo bem empregado pela classe política. Todo mundo fica feliz, fala em progresso e desenvolvimento, se enche de ufanismo bobo e alardeia para os quatro cantos do mundo que aqui se trabalha, que os nossos políticos são os melhores do mundo. Ledo engano: claro que toda cidade necessita de obras de infra-estrutura e como em Porto Velho falta tudo nesta área qualquer gambiarra é sempre bem-vinda. Mas será que esse dinheiro está realmente sendo bem empregado? Houve algum tipo de consulta popular para isso? Ou este dinheiro também está sendo “gasto a rodo”?

O CPA era uma necessidade, todos concordam. Mas não entendi por que os prédios, se vistos do alto, formam as letras ‘I’ e ‘C’. Erros de projetos ou simples culto à personalidade? Mas é bom, assim não haverá a necessidade de colocar nome de político oportunista na construção, pois o povo daqui não sabe nomear de forma coerente os seus monumentos. Já os viadutos parecem ser mais uma tolice de quem quer mostrar serviço. Problemas de trânsito se resolvem com abertura de mais ruas para escoamento de carros, com mais sinalização, retornos e principalmente a melhoria no sistema de transportes coletivos. Parece até que os rondonienses querem ver nomes de políticos nas obras.

Mais do que obras faraônicas, o nosso Estado precisa de educação e cultura. Precisa investir em seu futuro, precisa se precaver da ressaca que fatalmente virá com o término destas construções. Os ciclos da borracha, do ouro, da cassiterita vieram e se acabaram deixando apenas conseqüências nefastas. Devíamos ter aprendido alguma coisa. Com toda esta grana, quantas universidades estaduais ou mesmo municipais poderiam ser criadas? Poderíamos criar centros de pesquisas voltados para a demanda do mercado interno e escolas para formar mestres e doutores. Se hoje há dinheiro, devíamos sim, pensar no futuro com vários campi universitários espalhados pelo Estado.

Só que estamos seguindo o exemplo da Venezuela, que está perdendo uma excelente oportunidade de se transformar em uma grande potência regional com o dinheiro do petróleo. Já a Coréia do Sul e o Japão investiram tudo em educação e cultura e em menos de 30 anos já estavam colhendo os frutos. Rondônia e os rondonienses estão mais para a rompança latino-americana do que para a visão de mundo e a disciplina oriental. Qualquer universidade de fundo de quintal seria melhor do que a Unir. E se faltar bons profissionais, viriam os de fora para nos ajudar a não perder mais este bonde da História.


*Leciona em Porto Velho

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

DIA DO PROFESSOR, DIA DE SONHAR!

Prof. Diogo Tobias Filho*

Homenageamos por tradição no dia 15 de outubro o professor, único trabalhador que se dedica à formação das mais variadas profissões. Lamento serem poucos os iluminados pela benfazeja gratidão que ainda se lembram da primeira professorinha. Eu visitei a minha recentemente e a encontrei abandonada num asilo, pobre de doer, sobrevivendo das doações dos seus ex-alunos de boa cepa, entre médicos, engenheiros, odontólogos, advogados e eu, professor, o mais pobre da antiga turma.
Felizmente, em 2009 está sendo diferente. Com o fabuloso salário, gentilmente pago pelo Sr. Ivo Cassol, um político “eternamente grato aos docentes” que lhe introduziram no seleto grupo da intelectualidade, já vivo sonhando com meu 15 de outubro todos os dias; na véspera, após a aula, reunirei a família e me hospedarei na suíte de um hotel 5 estrelas, de modo que, ao acordar, após o lauto café-da-manhã, começarei minha maratona de comemoração. Inicialmente minha família irá até uma concessionária de veículos importados para realizar um sonho antigo: comprar aquele carrão que Cassol compra aos borbotões, sobretudo porque, o incontestável poder aquisitivo do meu salário me possibilita fugir dessas biroscas motorizadas que os mais simples chamam de carro popular. No almoço pedirei cardápio especial, incluso aí, bacalhau de primeira, champagne francês, filé com nozes americanas, e de sobremesa, deliciosas ameixas européias acompanhadas de maçãs argentinas. Meus filhos certamente não se lembrarão daquela merenda escolar, cujo cardápio se constitui eternamente de sopa, feijão e arroz tipo 2, carne de 2ª, macarrão melequento enfeitado com um galhinho de coentro para enganar a galera.
À tarde, o sonho virá com o compromisso principal: a compra de notebooks, câmaras e filmadoras digitais, CDs culturais e livros atualizados, investimento que faço pensando em levar para sala de aula a mais alta tecnologia que o governo Cassol alega não ter dinheiro para oferecê-la aos alunos da rede pública. Pretendo ainda me especializar, de modo que, o décimo–terceiro salário reservarei para o mestrado no exterior, provavelmente em Harvard nos Estados Unidos, assim aprimoro meu inglês, matando dois coelhos com uma cajadada só. Tudo realizado da forma discreta para evitar a ostentação, aquela doce tentação em mostrar sinais exteriores de riqueza. Ao ocaso deste inesquecível dia, num prazeroso jantar - à luz de vela - degustaremos caviar com vinho do Porto.
Então, a atrevida realidade resolveu me aparecer. O sonho estava maravilhoso até que, num átimo de infelicidade, minha filha me deu um doloroso beliscão, simplesmente para me acordar e lembrar que no dia seguinte, ela iria à escola na periferia de Ji-Paraná e eu teria jornada de trabalho em três colégios para ganhar um pouquinho melhor e tentar viver com mais dignidade. A pequenina alertou-me: as rodas do nosso único meio de transporte estavam precisando de conserto. Graças ao último aumento de 4% (parcelado em 2008) que Ivo Cassol me concedeu, saí em disparada, comprei dois pneus novinhos em folha para colocar na minha inseparável bicicleta vermelha, modelo antigo, ano 79, velha e cansada da guerra... Que pena, o sonho acabou! De qualquer forma, feliz dia do professor, companheiros de luta!



*O autor é professor de filosofia em Ji-Paraná (E-mail: digtobfilho@hotmail.com)

"Sofressor", não! Professor e com muito orgulho.


A “in-FELICIDADE” de ser professor!


Professor Nazareno*


O dia 15 de outubro não deveria ser dedicado a nós professores. “É muito pouco para quem tanto fez e ainda faz pelo progresso e pelo desenvolvimento do Brasil”, devem pensar alguns incautos e desinformados. Com todo este progresso e todo este desenvolvimento que estamos vendo por aí é de se pensar o que nós, os mestres, estamos fazendo realmente por este país, periferia de capitalismo. Talvez, por isso, recentemente o MEC divulgou na mídia uma propaganda mostrando o progresso e o desenvolvimento que existem de fato em vários países do mundo: o responsável? Ora, o professor, pronunciado em vários idiomas.

No Brasil, a realidade é outra e completamente diferente. E o entrave maior não é o salário. Nunca foi. Também não é a indisciplina de alguns alunos ou a sujeira existente dentro das salas de aula. Muito menos as constantes brigas do nosso sindicato com os governantes de plantão nem as perseguições ridículas de alguns diretores de escolas. O nosso maior problema é que temos uma sociedade que não valoriza a educação. Da porta da sala de aula para fora, talvez menos de dez por cento dos brasileiros vêem na escola alguma função que se possa associar à vida cotidiana. Daí, a “bola de neve” cresce e é absorvida espertamente pelos políticos. Até os do PT.

Salário de professor no Brasil é menos do que muitas prostitutas ganham para lavar pratos. No entanto, baixo salário não é problema. Os médicos de Porto Velho, por exemplo, ganham na maioria das vezes salários astronômicos e a saúde local está um caos. É preciso observar quem de fato exerce dignamente a sua função. Quem realmente tem compromisso com a educação e o futuro deste país. Um bom professor não pode ganhar a mesma coisa que um mau professor. Por isso, é comum ouvirem-se afirmações de que há professores que ganham mal pelo muito que fazem, enquanto outros ganham muito bem pelo pouco que desempenham em sala de aula.

Nos países cujas sociedades valorizam o estudo, a educação, o que se vê é uma multiplicação de oportunidades e um franco progresso e desenvolvimento a exemplo da Coréia do Sul, Japão, Holanda, Bélgica, Finlândia, Estados Unidos, etc. O imperador japonês, por exemplo, presta reverência a qualquer professor que vá visitá-lo. Imagine-se Ivo Cassol, Lula ou Roberto Sobrinho, que é psicólogo, fazerem isto a um professor. O nosso Presidente e o Governador do Estado têm, juntos, menos anos de estudos do que um camelô ou um gari. Ainda assim, o nosso país é um dos que mais investem em educação. O problema é que esta verba é sempre mal gerenciada.

Professor é azarado mesmo. São poucos os que sabem escrever um bom texto ou raciocinar de forma consciente. E quando tentam fazê-lo, quando ousam mostrar o pouco, o quase nada que sabem, seus raros leitores já o vêem como um sujeito depressivo, infeliz, ranzinza ou pedante e põem logo em xeque a sua capacidade profissional ou tentam calá-lo ameaçando o seu diminuto salário. Muitas pessoas acreditam que professor é sempre um sujeito de boa educação, polido, paciente e que deveria escrever somente aquilo que os hipócritas gostariam de ler. Eu, por exemplo, tenho um Blog com meia dúzia de leitores: eu mesmo, minha esposa quando tem tempo, minha filha quando eu a obrigo, e mais duas ou três pessoas.

Apesar de tudo, ser professor é ser feliz, é saber que na sociedade se exerce a função de cabeça, a função de conduzir os outros. “Quem faz aquilo de que gosta não precisa trabalhar”. Mas a educação e o professor ainda vão custar muito a alcançar valor neste país de “jecas”, nesta nação de pouca visão educacional, neste submundo dominado pelo maniqueísmo e pela astúcia de poucos. Haverá um dia em que greve de professores será por melhorias no sistema de educação e não pela insana vontade de ganhar tanto quanto ganham as empregadas domésticas, os garis, os cobradores de ônibus e outras categorias tão importantes para a sociedade, mas que não precisaram defender nenhuma tese de mestrado ou doutorado.



*É professor em Porto Velho


sábado, 10 de outubro de 2009

Por que há tanta diferença entre estes lugares?


Rondônia, capital Seul


Professor Nazareno*


Rondônia é um dos 26 estados do Brasil, isto poucos brasileiros sabem. A Coréia do Sul é um país da Ásia e junto com a Coréia do Norte formam a península coreana, próxima à China. Rondônia tem 245 mil quilômetros quadrados de área e uma população de apenas um milhão e meio de habitantes. O país asiático tem uma área de pouco mais de cem mil quilômetros quadrados, portanto menos de metade do Estado de Rondônia e uma população superior a 52 milhões de indivíduos, ou seja, mais de 30 vezes o número de habitantes daqui. Os sul-coreanos pertencem ao mundo civilizado e têm um IDH muito elevado. Rondônia é a quinta ou a sexta periferia do capitalismo.

O rio Han, de águas cristalinas, corta a imponente capital coreana. O rio Madeira, de águas barrentas e cheio de lixo boiando em sua superfície, margeia a capital dos rondonienses. O Estado brasileiro se situa entre dois grandes biomas conhecidos mundialmente: a floresta Amazônica e o Cerrado e, além disso, tem excesso de recursos minerais e está localizado dentro da maior bacia hidrográfica do mundo. Os coreanos têm uma natureza madrasta e não podem se orgulhar de quase nada em termos de abundância natural. Na década de 50 o então Território Federal do Guaporé vivia a euforia da Marcha para o Oeste. Já os sul-coreanos viviam o horror da guerra com mais de 3 milhões de mortos.

Samsung, Ásia Motors, Kia Motors, LG, Hyundai, Dae-woo, são marcas sul-coreanas conhecidas e consumidas no mundo inteiro. Os eletrodomésticos fabricados naquele país da Ásia são referências em qualquer parte do planeta. Aqui se produz apenas um refrigerante de nome impronunciável cujo alcance de consumo mal consegue chegar à divisa. Ban Ki-moon, político nascido na Coréia do Sul, é o todo poderoso Secretário Geral da ONU, a Organização das Nações Unidas. Em Rondônia, como exemplos de políticos, temos apenas Ivo Cassol, Expedito Junior, Fátima Cleide e Roberto Sobrinho.

Kim Dae-jung foi um ex-presidente que no ano 2000 ganhou o Prêmio Nobel da Paz. Por aqui ninguém nunca ganhou prêmio de nada. Ninguém daqui jamais foi indicado para absolutamente nada. Os maiores prêmios por estas bandas aparecem somente nas pífias exposições agropecuárias. Uma tal de Bailarina da Praça é o símbolo maior do lugar. As maiores expressões locais são pessoas geralmente oriundas de outros estados da federação. O Marechal Rondon era mato-grossense, Jorge Teixeira era gaúcho, Aluízio Ferreira era carioca e o Major Fernando José Guapindaia era natural do Estado do Maranhão, embora tenha vivido muito tempo no Amazonas.

Rondônia e Coréia do Sul têm estas enormes diferenças por que esta investiu maciçamente em educação enquanto aquele insistiu em copiar tudo que deu errado no Brasil. Levando-se em consideração a Guerra da Coréia que terminou em 1953 e a península Coreana fora dividida em dois países, pode-se afirmar que o nosso Estado é dez anos mais velho do que o país asiático. As Olimpíadas de Seul em 1988 e a Copa do Mundo de Futebol em 2002 são coisas do passado para os irmãos orientais. Enquanto o nosso PIB é algo risível em torno de cinco bilhões de dólares, a produção de riquezas dos sul-coreanos já ultrapassa a cifra de um trilhão de dólares. O quê nos falta?


* O Professor Nazareno leciona em Porto Velho


sábado, 3 de outubro de 2009

PEC 483, o maior "trem da alegria" do Norte do Brasil


A P.E.C. 483 e o amor a Rondônia


Professor Nazareno*


A PEC 483, Proposta de Emenda à Constituição, foi aprovada inicialmente pela Câmara dos Deputados em Brasília. A vitória total ainda não está assegurada, pois ainda haverá votação em outras instâncias, em outros turnos, mas tudo indica que “serão favas contadas”. Essa PEC 483 permite a transferência de vários servidores do Estado de Rondônia contratados a partir de 1983 até aproximadamente o ano de 1991 para o quadro da União. Rondônia foi transformado em Estado em 1982 se levarmos em consideração a data 04 de janeiro. Caso contrário, o ano é 1981 aceitando-se o 22 de dezembro. Fato curioso já que o aniversário é comemorado na data de registro.

Os servidores contratados em 1982 assinaram contratos com data retroativa a dezembro de 1981 dando início à primeira gambiarra administrativa, ao primeiro “trem da alegria” do jovem Estado. De fato, quase não há nos quadros de funcionários de Rondônia servidores contratados no ano de 1982 quando isto aqui já era reconhecido como um Estado e deveria dessa maneira ter iniciado a formação do seu quadro independente de pessoal. Portanto, a aprovação dessa PEC se não é o maior será certamente um dos maiores “trem da alegria” da história recente deste país.

Após a promulgação, o Governo vai criar uma Comissão para levantar o número de servidores a serem beneficiados com o Projeto. O chefe da Casa Civil do Estado, Odacir Soares, que acompanha juntamente com o governador Ivo Cassol a votação e a possível aprovação da PEC 483 afirmou que grande parte desses servidores sofreria "prejuízos funcionais enormes", em virtude das diferenças entre os salários pagos pelo estado e pela União. Odacir explica que na União já existe um "Quadro de Extinção" para onde vão todos esses servidores. "Mas só será transferido o servidor que quiser. E quem optar, receberá a mesma remuneração já existente no quadro federal”, completou. Alguém se habilita a perder esta boquinha?

Nessa primeira votação, quase todas as autoridades do Estado, da situação e da oposição, estavam em Brasília e junto aos muitos sindicalistas cantaram “Céus de Rondônia” dentro do Congresso Nacional e teceram loas à atuação "firme e cívica" dos nossos congressistas. Só que erraram de alvo. O hino a ser entoado deveria ter sido o do Brasil que é quem vai pagar a conta. Por que cantar o hino de um Estado que será em breve abandonado por estes mesmos servidores? Se eu fosse rondoniense e tivesse um pouquinho só de amor a Rondônia jamais abandonaria o meu Estado. Não trocaria o meu “amado chão” por lugar nenhum nem que fosse o também “tão amado brasil”.

Para muitos, a aprovação da PEC representa a justiça para o Estado e para os servidores. “Vamos economizar mais de 300 milhões de reais por ano que serão investidos em estradas, escolas, segurança e saúde para a população”, diziam emocionados com lágrimas nos olhos alguns dos presentes sem levar em consideração que vivemos no país da corrupção e dos desmandos com a coisa pública. E o pior é que ainda há gente tola e simplória que acredita em duendes e fantasmas. Passada a euforia, a população deste Estado terá agora mais força moral para cobrar um serviço público de melhor qualidade. Cobrar saúde, educação e segurança e exigir mais respeito. Afinal, quem é que vai pagar esta conta?


*É professor em Porto Velho.


sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A Redação do ENEM que não deixaram acontecer





Caos moderno: descaso com os idosos

Valdemar Neto*

O Brasil é um país com uma pirâmide etária onde predomina a população jovem. No futuro tal pirâmide tende a envelhecer, tendo em vista as melhores condições de saúde pública e uma consequente elevação na expectativa de vida. Num contexto mais amplo, percebe-se que a atual população idosa brasileira tem tido seus direitos violados e/ou oprimidos por uma população que se considera eternamente jovem.

Para amenizar tal violação o Brasil instituiu o Estatuto do Idoso de modo a garantir a execução de tais direitos, como por exemplo, o acesso aos serviços de saúde. Este estatuto, assim como vários outros, parece que virou um simples bloco de anotações com informações sem nenhuma significância. Nesse sentido, os idosos brasileiros estão sofrendo com o descaso de uma geração que os ignora.

No país do carnaval, asilos estão surgindo como alternativa para driblar a falta de respeito existente. As delegacias de polícia espalhadas por todo território nacional estão, cada vez mais, registrando casos de agressão contra idosos. Este caos moderno é oriundo da ideia de que o idoso é um ser inútil. Ideia esta que pode estar vinculada, por sua vez, à disseminação de um dos conceitos do capitalismo. Neste conceito algo aparentemente sem função é automaticamente rejeitado, ou seja, práticas antes exclusivamente mercantilistas estão sendo aplicadas na vida da sociedade do século XXI.

Na Índia não-ocidentalizada (tradicional), por exemplo, o que se vê é o extremo respeito com os mais velhos. Quando há uma morte de um idoso neste país diz-se que foi perdida uma fonte de sabedoria. Nos países ocidentais, em sua maioria, pensa-se que “já não era sem tempo.” Esses idosos estereotipados com a inutilidade sofrem (calados!) e carregam consigo o sentimento de rejeição profunda.

Esta triste realidade vivida pelos idosos no mundo de hoje é também contrastada com a ficção de Monteiro Lobato. Há nela Dona Benta, uma simpática velhinha, personagem do Sítio do pica-pau amarelo, que tem em sua volta o amor de seus familiares e amigos. Esta relação harmoniosa bem que poderia ser transportada para o mundo real. Porém para que a mesma ocorra só mesmo com muito pó de pirlimpimpim e uma pitada de determinação social. Determinação esta que resultaria na valorização do idoso. A criação de um sistema de saúde exclusivo para eles, por exemplo, poderia ajudar nesse processo e consequentemente resultaria na dissolução dessa segregação pela qual os mesmos passam.


*Ex-aluno do Colégio João Bento da Costa


Competições entre tiroteios e chacinas na favela


A “Cidade Maravilhosa” e as Olimpíadas


Professor Nazareno*


A cidade do Rio de Janeiro foi escolhida pelo Comitê Olímpico Internacional para sediar as Olimpíadas de 2016. Ganhou da norte-americana Chicago, de Tóquio, a pacata capital do Japão e da civilizada Madri, capital espanhola e principal cidade da península Ibérica. O Presidente Lula, Pelé, o prefeito carioca, o governador do Estado além de várias outras autoridades e esportistas se fizeram presentes em Copenhague, na Dinamarca, para iniciar uma festa que só terminará daqui a sete anos e consumirá muitos bilhões de reais do já falido erário público.

Utilizar-se de eventos esportivos internacionais para fazer proselitismo político não é uma invenção de governos petistas. Em 1970 quando a seleção de futebol se sagrou tricampeã mundial no México deu ao então governo de Emílio Garrastazu Médici, em plena Ditadura Militar, uma espécie de aval para aumentar a repressão política contra os opositores do Governo e intensificar a tortura dentro dos quartéis. Pouco tempo depois, foi a vez da Ditadura Militar de Jorge Videla na vizinha Argentina usar o prestígio da seleção nacional de futebol, campeã em 1978, para sufocar e reprimir a oposição.

O PT não fará isso, mas é difícil entender como uma cidade decadente e violenta como o Rio de Janeiro ganha o direito de sediar um evento esportivo como as Olimpíadas. Ainda mais concorrendo com cidades que são exemplos internacionais de segurança, trânsito organizado, planejamento urbano, estrutura hoteleira já definida e limpeza. Os cariocas, que estão em festa, devem estar se perguntando como isto pôde acontecer. Como uma das cidades mais violentas e sujas do mundo será sede de um evento como este? Mas a explicação é simples: japoneses e norte-americanos querem distância destes eventos.

Tiroteios intermináveis nas favelas acontecem quase todos os dias na Cidade Maravilhosa. A pobreza na Baixada Fluminense é de dar inveja a qualquer cidade africana. A explosão da violência no Rio de Janeiro faz Bagdá e Cabul no Afeganistão parecerem cidades dos contos de fada. Chacinas são fatos já aceitos como normais por grande parte da população carioca. O trânsito é um inferno. Os túneis que ligam as partes rica e pobre da antiga capital do país são disputados por quadrilhas organizadas que se revezam nos assaltos a turistas e transeuntes.

As autoridades brasileiras certamente nada falaram aos cartolas do COI sobre estes e outros problemas visivelmente encontrados em qualquer cidade do país. Por isso em 2014 a Copa do Mundo de futebol acontecerá no Brasil. Ou o mundo pouco conhece a realidade brasileira ou as cidades onde realmente existe civilidade estão “empurrando” para a periferia do planeta eventos decadentes e descartáveis que só servem para reunir multidões ensandecidas que trazem pouco retorno financeiro para os países anfitriões. Deve ser por isso que a próxima Copa de Mundo de Futebol será num país africano.


*É professor em Porto Velho.


quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Porto Velho é um buraco quente ou uma currutela?



Porto Velho 95 anos: Feliz Desaniversário!


Professor Nazareno*


O jornalista norte-americano H.L.Mencken afirma que quando se ouve um homem falar de seu amor por seu país, podem saber que ele espera ser pago por isto. A mesma coisa acontece quando se refere a uma cidade. Ainda que aqui houvesse coisas para os habitantes poderem se orgulhar, falar bem de Porto Velho só por muito dinheiro mesmo. A cidade foi emancipada em 1914, mas ninguém sabe direito qual a origem do nome. Uns dizem que foi em homenagem a um ancião chamado Pimentel daí o porto do velho Pimentel. Outros acham que é por causa das imundices que há no porto da cidade: é um porto velho mesmo, ou seja, um barranco sujo, fedorento, cheio de lixo, esgoto a céu aberto e ratazanas.

A estrutura da cidade é feia e sem sentido, parece um cemitério se vista do alto. Sem nenhum planejamento urbano, a nossa capital lembra uma currutela. As ruas não têm retorno e como é uma cidade pobre, é naturalmente horizontal. Edifícios quase não há por aqui. Apenas 03 podem ser vistos no skyline: um é torto e está condenado, o outro, próximo à Rua Jorge Teixeira, tinha estrutura para dez andares e só foram erguidos seis, portanto é baixo demais e o terceiro, na Rua Lauro Sodré, tinha estrutura e licença para 11 andares, mas foi construído com 12, diminuindo assim a altura dos apartamentos. O lugar tem um único hospital de pronto-socorro, o João Paulo Segundo, “onde os pacientes numa semana estão esparramados pelo chão, e na outra semana, não há mais chão”.

A capital de Rondônia pode não ser uma zona, mas está dividida em várias: a Zona Sul, por exemplo, que tem na Rua Jatuarana o seu principal centro de comércio só tem uma entrada e uma saída e por isso convive diariamente com um trânsito infernal. Já a Zona Leste é considerada a mais violenta da capital. Embora a Câmara de Vereadores não tenha aprovado o serviço de moto táxi, andar neste tipo de transporte na cidade é uma coisa fácil e corriqueira. Os mais ufanistas dizem que isto aqui é habitado por 500 ou 600 mil pessoas. Mentira. Segundo o IBGE, a população urbana e a rural não passam de 382 mil habitantes. Ou seja, na sede do município não há mais do que 280 ou 300 mil almas. No Estado de São Paulo, por exemplo, há 15 cidades maiores e mais populosas do que isto aqui que é uma capital.

A Fundação Getúlio Vargas divulgou um relatório há pouco mais de dois anos informando que dentre as capitais, Porto Velho ostenta o penúltimo lugar em IDH ficando à frente apenas de Belém, a linda e arborizada capital paraense. Talvez esta informação esteja equivocada, pois mesmo localizada em plena Amazônia, a capital de Rondônia é uma das cidades menos arborizada do país contrastando com João Pessoa, na seca Paraíba, que é a campeã em área verde. De fato, quase não se vêem árvores nas nossas esburacadas, sujas e sinuosas ruas. Água tratada e esgotos quase não há por aqui. O calor é infernal mesmo sendo esta uma povoação beiradeira. O trânsito é caótico e a cidade, mesmo sendo de médio porte, é uma das mais violentas do Brasil. Em nossas invasões (favelas) só produzimos violência.

Porém a coisa mais bizarra de Porto Velho são os seus habitantes. Aqui, quando um monumento natural desaparece sob o impacto de uma mega-construção, o povo faz festa de despedida em vez de protestar. Bordéis existem e ficam ao ar livre mesmo. São vários. E não falta público. A cidade tem até uma tal de “calçada da fama”. Os portovelhenses estão construindo viadutos e passarelas achando que vão resolver o problema do trânsito. S. Paulo não resolveu. Porém o mais inusitado é a possível construção de uma ponte sobre o rio Madeira ligando literalmente o nada (Porto Velho) à coisa alguma já que do outro lado do rio não há qualquer vila, povoado ou aglomeração urbana que justifique este gasto inútil de dinheiro público.

Quando a Revista Época esteve aqui, constatou o óbvio, ou seja, que Porto Velho é um “buraco quente” e não uma cidade organizada, ninguém sabe por que muitos caipiras locais ainda esbravejaram. E de lá para cá nada mudou. O lugar continua sem praças, sem espaços públicos e com as ruas empoeiradas ou lamacentas ainda pontilhadas de lixo e sujeiras. Deve ser por esse motivo que nunca mandaram um militar de alta patente para nos administrar. O primeiro prefeito foi um Major, vindo do Amazonas, depois mandaram uma penca de coronéis do centro-sul do país para governar o resto do território que mais tarde viraria estado. Nunca um general apitou nada por estas bandas. Feliz ou infeliz aniversário?


*É professor em Porto Velho