terça-feira, 31 de março de 2009

Atenção colegas, vamos bater na "ÉPOCA".


Porto Velho,

A cidade que não estava lá


(Publicação da Revista Época - março/2009)

Texto de Eliane Brum, repórter da Revista Época. Leiam reportagem na íntegra na revista ou visitem o site abaixo:

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI66228-15223,00-A+CIDADE+QUE+NAO+ESTAVA+LA.html


Porto Velho, capital de Rondônia, recebe as famílias de trabalhadores das usinas do Rio Madeira com aluguéis exorbitantes, sistema de saúde precário e uma coleção de problemas de infra-estrutura.
Os funcionários que chegam a Porto Velho para trabalhar na construção das usinas enfrentam falta de infra-estrutura e aluguéis mais caros do que os de São Paulo
As famílias dos trabalhadores das polêmicas usinas do Rio Madeira começam a desembarcar em Porto Velho, capital de Rondônia. Encontram uma cidade com aluguéis mais elevados que São Paulo, sistema de saúde precário, rede escolar deficiente, calçadas esburacadas, saneamento básico quase inexistente e lixo para todo o lado. Com a perspectiva de anos de trabalho por lá, os maridos tem de se esforçar para que a mulher não faça as malas e pegue um avião de volta enquanto ele está no trabalho. São funcionários das empresas dos consórcios que constroem as usinas de Santo Antonio e Jirau e não têm escolha, é “vai ou vai”. “Meu marido não me contava a verdade quando falava comigo por telefone”, conta Andrea Rocha Izac, de 37 anos, três filhos. “O bicho é muito mais feio do que eu pensava. Acho que meu marido tinha medo que, se contasse como era, eu não viesse. E ainda nem sei se vou conseguir ficar!”

Nos primeiros anos, na fase de estudos de viabilidade, os homens vinham sozinhos. Desde o final do ano passado, começaram a chegar as famílias. Os problemas de Porto Velho, que sempre foram muitos, multiplicaram-se, acentuados por uma voracidade do setor imobiliário, especialmente, e do comércio em geral. O preço do aluguel de imóveis em Porto Velho triplicaram e hoje tornou-se um dos mais altos do Brasil. “Eles olham pra nós e não enxergam pessoas. Vêem uma notinha de dólar”, desabafa Andrea. “Como vou me sentir bem num lugar que me recebe assim?”
Andrea e o marido, o engenheiro agrônomo Marco Antonio Izac, 39 anos, que trabalha para uma das empresas do consórcio há 17, deixaram uma casa própria de 140 metros quadrados, com três quartos, dois deles suítes, num condomínio fechado de uma área nobre de Cuiabá, no Mato Grosso, a 500 metros de um parque. Conseguiram alugá-la por R$ 1500. Em Porto Velho, o melhor que encontraram foi uma casa menor, distante da área central e das partes mais nobres, também num condomínio fechado, mas cercado de água empoçada há semanas, por R$ 1800. Insatisfeitos, eles procuram outro imóvel, mas apartamentos bem localizados, cujo aluguel valia R$ 1 mil há um ano, hoje custam R$ 2.500. Negociação é uma palavra riscada na cartilha dos agentes imobiliários de Porto Velho. Não precisam dela. Toda semana tem alguém desesperado batendo na porta em busca de casa para morar.
As usinas hidrelétricas do rio Madeira, vitrines do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), custarão cerca de R$ 20 bilhões
O choque da família Izac aumentou ainda mais depois que o caçula dos três filhos adoeceu. Antonio Jorge, de seis anos, pegou dengue, provavelmente porque a água empoçada ao redor do condomínio é um criadouro de mosquitos. Mas só conseguiu atendimento no quarto hospital – e isso com plano de saúde. A filha mais velha, de 15 anos, está com problemas de adaptação à escola e à cidade. Procuraram uma psicóloga. Depois de esperarem horas pela consulta, foram embora sem que a profissional conveniada tivesse aparecido. Para quem só pode contar com o SUS, a situação já começa a virar caso de polícia. Na edição dominical do jornal O Estadão, de Porto Velho, a manchete era: “Médicos ameaçados de morte nos postos de saúde da capital”. A causa: demora no atendimento.

A educação, para quem pode pagar, é cara. Para quem não pode, há risco de ficar sem. Com três filhos na escola, a família Izac desembolsa, em Porto Velho, 40% a mais no valor das mensalidades em uma escola privada. “É tudo muito feio, muito sujo e muito caro. Eu preciso dizer aos meus filhos que vai dar tudo certo, mas minha vontade é só dormir”, diz Andrea. “Quando meu caçula adoeceu e foi aquele descaso, quase fiz as malas e fui embora.”

As mulheres recém-chegadas encontram-se na casa de Andrea para trocar informações e desencantos. “Conto os dias para ir embora”, diz a dona da casa. “Acho que quando cansar de contar, acostumo.” Ela tem pela frente uma perspectiva de pelo menos sete anos na capital de Rondônia. Animada mesmo, só Odila Pereira. Aos 55 anos, dois filhos adolescentes, Porto Velho é a sétima cidade em que ela desembarca com o marido. Já morou com bebê pequeno em hotel, já passou por todo tipo de perrengue. “A mulher é a pessoa principal nessas mudanças, nós temos de ser o esteio psicológico para o marido, que tem um desafio novo no trabalho, e para os filhos, que estão deixando cidade e amigos”, ensina Odila às mais jovens. “Não é fácil, mas a gente tem de ser forte. Pra mim o que importa é estar com a minha família, mesmo que seja difícil. E é.”

Porto Velho é uma cidade que tem a história tatuada na geografia urbana. Quase não há árvores nas ruas esburacadas, mesmo no centro, o que torna o calor ainda mais opressor. A floresta desmatada é um eco também ali. Diferente de outras capitais amazônicas, quase não se veem índios. Praças e espaços públicos são escassos, as calçadas são desiguais e pontuadas por lixo. A atmosfera é pesada e triste. Não parece um lugar para pessoas. Ou pelo menos para exercer a cidadania. Assemelha-se a uma cidade de passagem. Como definiu um companheiro de viagem, Claudiney Ferreira, “Porto Velho é uma cidade que não é daqui”.

Políticos, empresários e até jornalistas festejam o que está sendo chamado de “crescimento chinês em Rondônia”, que estaria assim imune à crise econômica mundial. Caras e controversas, as usinas hidrelétricas do rio Madeira, vitrines do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), custarão cerca de R$ 20 bilhões, com a previsão de injeções polpudas na economia de Rondônia pelo menos até 2013. Mas se a elite empresarial e política de Rondônia aprecia comparar o crescimento com os melhores índices da China, é bom também que perceba as semelhanças com as piores mazelas.
Acostumados a seguir as grandes obras de suas empresas, os trabalhadores mais especializados, que não são substituíveis por mão de obra local, estão assustados com Porto Velho. “Já fiz todos os cálculos”, diz o engenheiro civil Ângelo Leal, 41 anos, coordenador de equipe, em Furnas, uma das empresas que constrói a usina de Santo Antonio. “Se tiver de me mudar para cá com a minha esposa, o custo de vida vai aumentar 40% e a qualidade vai diminuir muito.” Uma casa equivalente ao sobrado que vive em Goiânia e cujo aluguel custa R$ 550, em Porto Velho ele só encontra por R$ 1300. O casal gasta, na capital goiana, R$ 500 mensais em gêneros de primeira necessidade. Segundo a pesquisa de Ângelo, em Porto Velho serão R$ 150 a mais, com qualidade pior. “Sem contar que apenas 20% da água de Porto Velho é tratada e há apenas 3% de esgoto sanitário”, afirma. “Estou aqui há quatro anos, indo e vindo, e me sinto trabalhando em outro país.”


A vida piorou também para quem já vivia em Porto Velho. A estimativa é de que hoje exista um déficit de 2 mil vagas escolares na rede pública. O atendimento nos hospitais chega a dois dias de espera, cirurgias estão sendo adiadas por meses. Na hora de renovar os aluguéis, moradores descobrem que o proprietário quer três vezes mais, apostando nos recém-chegados. O jeito é pagar o mesmo por um lugar três vezes pior e ainda mais periférico. Outra leva de gente vai chegando dos cantos empobrecidos em busca de um cantinho na mais recente das grandes obras amazônicas. O desfecho dessa migração a história já mostrou. Mas com alma de migrantes, que já andaram um bom trecho do país, os que chegaram há anos e os que alcançam hoje a borda de Rondônia, comungam de uma esperança que já virou ilusão em empreendimentos anteriores: a de que a vida vá melhorar com um posto de serviço nas obras de Santo Antonio e Jirau. Ou em algum dos milhares de empregos indiretos prometidos. Sem outra alternativa a não ser buscar, nessa migração eles vão carregando o Brasil nos pés.

Professor Carlos Moreira ataca o "falso telurismo"



BURRICE e/ou ARROGÂNCIA 

Carlos Moreira


 caixadesilencio@gmail.com

 
        Roland Barthes afirma que a expressão “ideologia dominante” é, na verdade, um pleonasmo, porque a ideologia nada mais é do que a idéia enquanto ela domina. E propõe, como substituto do conceito, “ideologia arrogante”, ou seja, aquela que, além de dominar, dá a si mesma o poder de dogma, e anula qualquer chance de contestação. É essa arrogância, mãe e fruto da burrice, que está sendo usada contra o artigo de José do Nazareno, “Em Rondônia é assim mesmo...”, publicado em seu blog. Não apenas contra o artigo, mas (o que é mais grave, porque cheira a fascismo) contra o próprio autor do texto. Algumas questões devem ser levantadas: 1) por que um texto “me ofende”? Porque me identifico com o que ele ataca? Porque a “carapuça serviu”, o espelho revelou a verdade e o reflexo monstruoso sou eu? 2) O que fazer ao discordar de uma opinião? Negar-lhe o direito de ser opinião ou responder a ela no seu contexto de arena? Porque não responder à crítica com uma crítica, a um texto com outro texto, e não com uma perseguição de colméia (poderia dizer alcatéia, manada, cardume, máquina tribal) que propõe apenas o silenciamento? 3) Por que não entender a função de um texto opinativo como algo que exaspera, que irrita a pele do tédio e chama pra briga? Por que negar a um intelectual sua posição de contracorrente, de contra-pêlo, nem que seja “só pra exercitar?” Não lemos nada, não ouvimos nada, desde Lima Barreto (“Eu escrevo como quem morde”) até Caetano (“caminhando contra o vento / sem lenço sem documento”)? E o número de questões poderia continuar em infinita teia. Eu teria, de minha parte, apenas uma contestação a fazer ao texto em questão: ele deve ir mais fundo, e abarcar o que alguns ainda chamam de “brasil”, senão de “mundo ocidental”. 
        Nazareno acertou mais longe do que imagina. A moral torta e falsa desse talibã em que vivemos impede não apenas nosso olhar, mas nossa voz. Esse fundamentalismo de terceira que parece querer engolfar a chance de um mundo livre é o mesmo que retira livros do Vestibular da Federal de Rondônia, proíbe Darwin em escolas de São Paulo e ensina como adolescentes devem censurar aqueles que deveriam lhes servir de modelo de coragem intelectual e visão crítica. Conquistamos a muito custo e há pouco tempo a liberdade de expressão nesta periferia do capitalismo. Reações fascistas e retrógradas como essa acenam com uma realidade de perseguição e obscurantismo medieval, e funcionam como prova de choque para os que ainda ousam pensar. Não é com ameaças ou mugidos que se combate uma idéia. É com outra idéia. Não é à base de processos e fogueiras que se estabelece um diálogo: é com a outra voz, o outro lado, o outro texto. Quem não se identificou com o cenário patético do artigo, parabéns. Quem viu ali seu retrato falado e escrito, que rebata com artigos, criem blogs, provem o contrário, mas garantam ao outro a sua voz, a sua liberdade de golpe, o seu espaço no ringue. Não se movam como bando, covardemente empoleirados na moral e na hipocrisia. O horror deve ser enfrentado na realidade do presente, na carnadura do real. Até quando vão fazer plásticas no cadáver, maquiagem no monstro? Sei, porque Nelson Rodrigues me ensinou, que a burrice é imortal. Mas talvez ela não seja invencível. Quem sabe possamos, com o martelo da ironia e as facas da inteligência, pelo menos arranhar sua arrogância. Sua estúpida, coletiva e tapada arrogância. 



Texto publicado no site www.rondoniaovivo.com.br

domingo, 29 de março de 2009

A História pode ser outra...


As guerras do Brasil e os nossos “zeróis”


*Professor Nazareno


O Brasil decididamente não é bom de guerra. Nem nunca foi. Das poucas de que participamos, as lembranças não são muito boas. A partir da segunda metade do século dezenove, estivemos na Guerra do Paraguai, praticamente a última em que houve mobilização direta e efetiva de nossas tropas e da qual participamos com uma aliança com outros países vizinhos (Argentina e Uruguai) e já no século passado, participamos de outras duas quase que por acaso: a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Aventuras que em nenhum dos casos trouxeram, de fato, ganhos reais ou motivos de orgulho para a nossa nação.
Na Guerra do Paraguai a História parece que não foi contada de maneira correta. A figura central deste episódio foi o Duque de Caxias, Luís Alves de Lima e Silva, que hoje é o Patrono do nosso Exército. O que a História não conta é que o mesmo teria participado de um verdadeiro genocídio e fora um verdadeiro algoz participando do assassinato cruel de quase 90 por cento de toda a população masculina adulta do país vizinho. Esta guerra foi um episódio típico de como o Brasil serviu de ‘cupincha’ para os interesses do capitalismo britânico. E, para variar, lá estavam os brasileiros defendendo os interesses alheios.
Na Segunda Guerra Mundial, a História também mente de forma acintosa. Embora estivesse sendo comandado por uma ditadura de direita (o Estado novo getulista), o Brasil acabou participando da guerra, junto aos Aliados (junto às nações democráticas). O motivo foi que em Fevereiro de 1942, submarinos supostamente alemães (há quem jure que eram norte-americanos) iniciaram o torpedeamento de embarcações brasileiras no oceano Atlântico. Em apenas cinco dias, seis navios foram a pique. O detalhe é que Getúlio, o ditador de plantão, via o Nazismo com bons olhos (o filme Olga, é exemplo disto). E praticamente entrou forçado neste conflito mundial. Desta vez para agradar aos Estados Unidos.
O que não dá para entender é por que o Alto Comando de Hitler estaria incomodado com meia dúzia de ‘macacos e jecas’ se podia contar futuramente com o apoio deles em troca de umas poucas moedas? O detalhe é que as tropas brasileiras chegaram à Itália após o 06 de junho de 1944 quando as aliados já haviam desembarcado em solo europeu na costa da Normandia e começavam a impor revezes contra Hitler e sua camarilha. Então o que diabos os soldados brasileiros foram fazer na Europa se as coisas já estavam praticamente resolvidas? Ou seja, a participação tupiniquim na Segunda Guerra Mundial teve resultados nulos para a História.
Entre Setembro de 1944 e Maio de 1945, mais de 25 mil soldados e oficiais brasileiros combateram na Itália. Tais confrontos resultaram em 456 mortos e uns três mil feridos. A Força Expedicionária Brasileira (FEB) capturou muitos soldados inimigos, oitenta canhões, 1.500 viaturas e quatro mil cavalos, saindo vitoriosa em oito batalhas. Tudo em vão, pois a História não mudaria o seu curso, como ficou provado mais tarde. Mas em troca do apoio brasileiro, Franklin Roosevelt, Presidente dos Estados Unidos, financiou a construção de uma gigantesca siderúrgica, a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), e desde então os americanos fincaram as garras em nossa economia para nunca mais sair daqui.
Como se pode vê, não somos muito bons de brigas nem de guerras. As nossas Forças Armadas não conseguem nem guarnecer as nossas vulneráveis fronteiras, que mais se parecem um queijo suíço, uma vez que drogas e armas entram e saem “a bel prazer” sem que nada seja feito. Recentemente, são os traficantes de drogas e bandidos comuns que estão levando de dentro dos nossos quartéis as armas que em tese serviriam para defender a sociedade brasileira que paga a maior carga de impostos do mundo. Se no plano interno a Segurança Nacional virou caso de polícia não é difícil imaginar a galhofa que seríamos se fôssemos comparados com as potências de verdade como os EUA, a Ex-URSS, França, Itália e Inglaterra...

(Texto também publicado no site www.rondoniaovivo.com.br)


*É professor na Escola João Bento da Costa em Porto Velho
(profnazareno@hotmail.com)

domingo, 22 de março de 2009

Você conhece mesmo Rondônia?




Em Rondônia é assim mesmo...


* Professor Nazareno


Claro que Rondônia não é o fim do mundo. Mas tem coisas que lembram. Se um turista desavisado tivesse a coragem de andar por este pedaço de Brasil necessitaria entender algumas peculiaridades locais. Qual a localidade deste imenso país que não tem a sua festa do santo padroeiro? Porto Velho tem o santo padroeiro (santa, Nossa Senhora Auxiliadora cujo dia é 24 de maio), mas não tem a festa, não é incrível? Festa mesmo só a Flor do Maracujá que é realizada em junho sem homenagear absolutamente a ninguém. Nem maracujá se produz neste solo provinciano... Mas os absurdos não param por aí. A nossa Semana Santa é comemorada no final de maio ou mesmo em junho sem maiores explicações e com direito até a espetáculos ao ar livre e gordo patrocínio do PT. Neste pedaço de Brasil, prostituta se apaixona pelo cliente, traficante de droga se vicia e professor de História tem religião. Se brincar, professor de Português não saberá escrever um texto e ainda terá problemas com a gramática normativa...

De futebol, o porto-velhense gosta. Mas só torce pelos times do sul do país. Genus (sem acento mesmo) e Shallon são alguns representantes da capital no torneio estadual da modalidade. Quem não se sentiria ridículo torcendo por equipes com estes nomes esquisitos? Mas não tem problemas, o futebol de Porto Velho assim como seus “esquadrões” são totalmente descartáveis: só duram um ano aproximadamente e por isto não precisam de torcida nem de torcedores. No próximo campeonato existirão outras equipes com outros nomes não menos estranhos que representarão qualquer quitanda ou taberna da capital. E os habitantes locais, feito cururus, ainda têm o topete de torcer pelos times dos sul do país... Eles próprios são os primeiros a ‘avacalhar’ o falido futebol local. Coitados: vivem de um passado que nem glória tem. Moto Clube, Ferroviário, Flamengo, Botafogo, Ipiranga, etc.etc. Quanta criatividade...

No lado cultural o festival de bizarrices chega até a ser folclórico. Sem dominar uma única palavra do Inglês, grande parte dos comerciantes locais exagera no S’ (apóstrofe) e em muitos casos chegam até a nomear seus estabelecimentos no próprio idioma de Shakespeare. Há até uma linha de ônibus com o pomposo nome de Presidente Roosevelt mesmo que não exista nenhuma rua, praça ou bairro com este nome. Durma-se com um absurdo destes. A sigla do Estado é Ro. Assim consta em todos os mapas, compêndios, livros e Atlas. Mas a Companhia de Água e Esgotos do estado que não consegue abastecer seus clientes com água, tem o nome Caerd. Insinuando que a sigla do estado é Rd. Com a única universidade pública local, a Unir, acontece a mesmíssima coisa. Pior é a Fundação Rio-Mar, ligada à Unir. Ou seja, Fundação Rio – Madeira. Por que “Mar”? Será que os sábios desta (a) fundação acham que a sigla de Madeira é mar? Rio-Mar é um apelido do rio Amazonas e este nome poderia muito bem figurar em alguma instituição lá no nosso vizinho estado.

Políticos ladrões e corruptos é o que não falta por aqui (por isso acreditar-se que também seja parte integrante do Brasil). Quase os cem por cento dos rondonienses foram favoráveis às construções das hidrelétricas na calha do rio Madeira. Nem se preocuparam com os desastres ambientais que poderiam ser causados. Talvez seja por isto que quase não exista rondoniense nativo defensor do meio ambiente. Os poucos que defendem, são de fora. E nem ligaram para o fato de que a energia gerada não ficará por aqui, entusiasmados e ludibriados que estão pelo pseudo-desenvolvimento que prometeram. Cara de um rondoniense dentro de um Shopping Center é a coisa mais fantástica do mundo, mesmo caindo forro de gesso em suas cabeças, os caipiras locais ficam rindo como hienas comendo carniça. “- Maninha, comadre, pega o Jacques Cleiderson aí em cima e cuidado para a perninha dele não enganchar”, diz a madame porto-velhense na enorme fila que foi feita para andar de escada rolante. Rondoniense parece mesmo é gostar de miçangas, espelhos e quinquilharias... E gosta também de dar os melhores empregos para os que vêm de fora.

Com apenas meia dúzia de vôos para dentro do próprio Brasil, o aeroporto local tem o pomposo nome de Internacional. Os jornais escritos daqui são os melhores do mundo, pois têm o dom da premonição. Circulam todos os sábados à tarde com as notícias já da segunda-feira. O módulo hora-aula nas escolas públicas é de um hora (único no país) e os deputados estaduais legislam em cima do calendário letivo do Estado como se não tivessem nada mais a fazer. E parece que não têm mesmo. Por pura incompetência e falta de projetos, devolveram nos últimos dois anos a bagatela de 60 milhões de reais para o Executivo estadual. Dinheiro que poderia ter sido empregado na área da saúde, saneamento básico ou outra área qualquer. Para grande parte dos rondonienses, desenvolvimento são passarelas que caem e matam gente, shoppings centers que desabam o forro, edifícios mal estruturados e hidrelétricas que provocam desastres ambientais e têm pesadas multas do Ministério do Trabalho em seus canteiros de obras. E o que é pior: muitos beiradeiros locais não querem que ninguém fale nada disto. Pobre Rondônia...


* É professor na escola João Bento da Costa em Porto Velho - profnazareno@hotmail.com


quinta-feira, 12 de março de 2009

Será que vamos desenvolver mesmo?


Porto Velho: desenvolvimento de araque!

Professor Nazareno*

Há pouco mais de dois anos, a classe política de Rondônia e as autoridades em geral anunciavam a construção das duas hidrelétricas na bacia do rio Madeira, bem como a possibilidade da chegada do gás do Urucu ao nosso Estado e começava desde então um verdadeiro frenesi na cidade de Porto Velho. A construção de dois shoppings foi anunciada, reestruturação de ruas e avenidas, investimentos em obras de infra-estrutura, redes de água e saneamento básico, duplicação da rodovia BR 364 entre o Candeias e a Unir e várias outras medidas de grande impacto foram prometidas na época. A cidade começa a se encher de edifícios num processo inédito de verticalização. O Governo Federal começaria a despejar dinheiro por estas bandas. Eram as obras do PAC, Programa de Aceleração do Crescimento.
No entanto, mal começaram algumas das anunciadas obras, eis que o fiasco tomou conta de todos. A incredulidade é geral. Não seriam mais dois shoppings, apenas um. O Porto Madeira seria construído depois. A extensão da rodovia federal que corta a cidade seria contemplada com várias passarelas e cogita-se até a construção de alguns viadutos. Até agora apenas 03 passarelas estão sendo construídas só que uma caiu matando um jovem trabalhador de 26 anos e as outras duas estão escoradas podendo desabar a qualquer momento. O edifício Aquarius no bairro Nova Porto Velho teve a sua estrutura comprometida e está interditado pela Defesa Civil. Na véspera da visita do Presidente da República a Rondônia, foi a vez de parte do teto de gesso do Portovelho Shopping desabar e ferir 03 pessoas. Um escândalo maior se estivesse lotado pelos seus habituais jovens freqüentadores.
Com relação às duas hidrelétricas do rio Madeira, uma, a de Santo Antônio que teve suas obras inciadas há uns cinco meses, provocou um dos maiores desastres ambientais de que se tem notícia por aqui provocando uma grande mortandade de peixes. A segunda hidrelétrica, a do Jirau, teve recentemente sua construção embargada e pode ter que enfrentar os tribunais se quiser ter seu canteiro de obras novamente funcionando. Como se poder ver, o que seria uma grande contribuição do nosso Estado pobre para o restante do país está virando um grande pesadelo e como se não bastasse o fato de que nenhuma energia produzida ficará por aqui, os grandes centros do país estão mandando para cá mão de obra sucateada, de péssima qualidade e obsoleta. Ou então como explicar todos estes fiascos?
A propósito de tudo isto, observe-se o que escreveu um internauta num site de notícias de Porto Velho: “onde estão os órgãos responsáveis pela fiscalização? O Ministério Público, a Justiça? Onde está o CREA? O que está acontecendo com a Engenharia Civil em Rondônia? Será que o CREA só sabe fiscalizar carros alegóricos de escolas de samba e pequenas obras realizadas pelos menos favorecidos? Se alguém, pobre certamente, tentar levantar um muro ou fazer uma varanda na sua casa, lá está o CREA para aplicar uma multa e fazer valer a lei. Será que esses engenheiros foram formados naquelas faculdades de fundo de quintal? Está parecendo um complô. Parece que todos os picaretas resolveram vir fazer estágios em obras de Porto Velho. Não é possível que eles achem que aqui é terra sem lei, onde forasteiros chegam para fazer o que entenderem”.
Todo mundo sabe que em Rondônia existem políticos ladrões, mensaleiros, sanguessugas, governador que pode ser cassado a qualquer momento, senador acusado de comprar votos a cem reais, prefeito com o maior número de obras inacabadas do Brasil, avenidas da cidade doadas ao Governo Federal e aeroporto internacional que não faz absolutamente nenhum vôo para lugar algum fora do país. O que certamente nenhum rondoniense por aqui sabia é que desenvolvimento é sinônimo de prédio residencial que trinca sua estrutura, passarelas que matam em vez de salvar vidas, shopping center que aterroriza seus freqüentadores e hidrelétricas que mais se parecem piadas retiradas dos livros de humor negro. É, se desenvolvimento é tudo isto que estamos presenciando por aqui, é melhor ficar no limbo da História e se contentar em ser pobre mesmo.

*É professor em Porto Velho
(Texto também publicado em www.rondoniaovivo.com.br)

quarta-feira, 11 de março de 2009

Afinal, quem criou quem?



Adão e Eva versus Darwin


Há aproximadamente 150 anos, um certo cientista inglês chamado Charles Darwin punha uma grande pedra no caminho da igreja: a publicação do livro "A Teoria das Espécies", baseado em anos de estudos sobre o tema e em uma volta ao mundo feita para pesquisas, realizada pelo mesmo. Darwin mostrava em sua obra a evolução de todos os seres vivos através do processo de seleção natural e de maior adaptação ao meio ambiente. Através de um ponto de vista em que todos seres vivos descendem de algo primitivo e único, Darwin sugere que o homem desça de seu pedestal - um tradicional dogma cristão - quando diz: Não há diferenças fundamentais entre o homem e os animais".

Do outro lado desse poderoso cabo-de-guerra, entra a religião e algo que inflama até o mais pacato dos povos - a fé. Acusando Darwin de heresia, a Igreja nunca deixou de se sentir ameaçada e ofendida por suas teorias, pregando que o Criacionismo nunca precisou da ajuda da evolução, por sempre ter sido perfeito: "Nunca fomos macacos", proclama o catolicismo. "Darwin matou Deus", concluem outros.

A questão é complexa, apresentando excelentes argumentos de ambos os lados. A Igrejas chama a atenção para a perfeição da natureza e dos seres, chamados por eles "milagre da vida", cuja criação só poderia ter sido obra de Algo muito superior. Além disso, traz as questões supernaturais e milagres que a ciência anda a muitos quilômetros de desvendar. Entretanto, o Criacionismo deixa largas lacunas, que a ciência não hesita em tentar preencher: segundo estudos bíblicos, a Terra teria sido criada em 23 de outubro de 4004 a.C., contra as 6,5 bilhões de velinhas que a Terra já teria apagado de acordo com os darwinistas... Embora o número apontado pelos últimos não seja suficiente para derrubar a versão da Igreja, foi encontrado no final de 2002, no México, um crânio humano com cerca de 13 mil anos de idade, cerca de 7 mil anos mais velho que a criação do planeta pela concepção criacionista.

Esse duelo dos titãs (com o perdão do paganismo, criacionistas...) Darwinismo e Criacionismo ainda acompanhará a humanidade por muitas e muitas gerações - se as condições geo-sociais assim permitirem - porque por mais avançada que as ciências tecnológica e arqueológica sejam, sempre haverá dentro da natureza humana um respeito e necessidade por um Criador. Se até mesmo Charles Darwin, o "homem que matou Deus", entrou em depressão ao perceber o xeque-mate que seus estudos deram na fé e Nele, o que diremos de nós, reles mortais criados ou evoluídos?

Ana Caroline Moreno, 2º ano "A", Colégio Classe A.

quinta-feira, 5 de março de 2009

...E se fosse no Brasil...?


O mal que o mau faz...



Fosse no Brasil o caso protagonizado por Paula Oliveira, na estação ferroviária da cidade suíça de Dübendorf, onde, segundo ela, teria sido atacada por "skinheads", os desdobramentos poderiam ser outros. Imediatamente a polícia prenderia pessoas com as características indicadas, gerando violentas reações populares pela ensurdecedora repercussão da imprensa. Os suspeitos seriam de pronto reconhecidos para o gáudio do juiz justiceiro de plantão que, "ad cautelam", decretaria prisão preventiva "para garantir a ordem pública e assegurar a aplicação da lei penal..." O MP fecharia questão, desembargadores e ministros manteriam as prisões premidos pelo clamor midiático. Após, mudaria o foco para o movimento "skinhead", a intolerância, a violência, a vítima, a "perda da dupla gravidez" a arrancar lágrimas da massa ignara em clássico exemplo de paranoia coletiva...

O defensor seria hostilizado até pelos seus próprios filhos: "como é que o senhor aceitou uma causa como esta?" Parlapatões em rede nacional: " quem defende bandidos, bandido é!" "Tinha que ter pena de morte e prisão perpétua no Brasil!" "A defesa ataca a vítima e diz que os acusados são inocentes; que a gravidez seria uma farsa e que os ferimentos decorreram de autolesão!" Em quadro por demais conhecido: a "vítima" dando entrevistas nos meios de comunicação enquanto os acusados monstrificados, ficariam expostos a linchamentos fora e dentro das prisões...

São calamidades artificiais que os maus desencadeiam. Uma pessoa má ou doentia, incorre em autoacusação falsa, caluniosa denunciação por "delação premiada", etc. Um mau delegado de polícia, desprezando normas técnicas, pede prisões com ampla cobertura da mídia. A parte interessada, morbidamente, reconhece os suspeitos presos ("carecas e jovens") que lhe apresentam... Com indução de maus peritos, maus acusadores, juízes e referendum dos tribunais, estaria "coroada a obra..."

Bastaria um bom na cadeia de erros! Um bom jornalista levantaria várias possibilidades, entre elas as que foram elencadas na Suíça. Bons peritos, bons policiais, como aqueles que estão de parabéns pelo verdadeiro show de ciência aplicada, previamente buscando provas sobre a existência do fato declarado. Um bom assessor do nosso governo teria recomendado a ultimação das investigações para pronunciamento oficial. O desgaste não foi maior, por ser aquele governo comedido. O periódico Neue Zürcher Zeitung, ironizou o presidente Lula e afirmou que a mídia brasileira "regularmente publica notícias de fatos totalmente inventados, acusações que já destruíram a vida de outras pessoas".

Com um bom advogado, o Judiciário suiço poderá acolher teses defensivas, entre elas, na pior das hipóteses, de Paula ter agido sob domínio de "sideração emotiva(1), recentemente admitida pela psicopatologia forense americana, baseada em profundos trabalhos de psicologia, como uma nova entidade nosológica. Trata-se da autoindução do agente que inicia com uma sugestão, quase subliminar e a prossecução, desenvolvimento e ação dá-se por inércia a retirar-lhe a plena capacidade de entender o caráter criminoso do fato e de conduzir-se de acordo com esse entendimento." Nesta teoria, Paula, por várias razões de ordem sentimental seria levada a simular gravidez e argumentos para justificar a "perda".

Nossa solidariedade e respeito ao pai de Paula Oliveira, que foi prudente em afirmar: "Em qualquer circunstância, minha filha é vítima (...) ou de graves distúrbios psicológicos, ou da agressão..."

Portanto, fosse no Brasil, dentro da nossa hipótese da "sideração emotiva" do agente, talvez chegasse o dia em que os personagens do exemplo seriam libertados. Além dos azares da injustiça da jurisdição penal, poderiam experimentar dos não raros juízes injusticeiros da civil, indenizações miseráveis pagas em precatórios esbulhatórios...

Com razão o STF quando prestigou, recentemente, a regra da prisão apenas com trânsito em julgado!


Nota
(1)Termos de laudo médico nº 148/95, subscrito pelos psiquiatras Tito Moreira Salles e Ivan Pinto Arantes, do Complexo Médico Penal do Paraná, citado In Psychiatry on line Brazil, em precedentes de desclassificação para homicídio não intencional, em caso que trabalhamos na defesa.

Elias Mattar Assad
é ex-presidente da Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas,
eliasmattarassad@yahoo.com.br